Tríduo ao Pai das Misericórdias | 1º Dia

No dia 8 de junho de 2017, primeiro dia do Tríduo em honra ao Pai das Misericórdias, Dom João Inácio Müller, atual bispo de Lorena, presidiu a Santa Missa às 18h e fez sua colocação através da homilia.

O amor do homem pela mulher e da mulher pelo homem é um dom de Deus

A primeira leitura apresenta-nos um belo exemplo de educação ao amor. O amor do homem pela mulher, e da mulher pelo homem, é um dom de Deus, que pôs em nós esta profunda tendência. Mas este amor, no estado de decadência em que o pecado nos colocou, está terrivelmente viciado pelo egoísmo. O desejo sexual é um ato de amor. Mas, noutro sentido, pode tornar-se um grave obstáculo, quando se busca no outro apenas a satisfação própria. Tobias e Sara estão conscientes disso e mostram-se fiéis ao amor que Deus semeou em seus corações. Tobias diz a Sara: ‘Sara, levanta-te; vamos orar ao Senhor. Somos filhos de santos e não podemos unir-nos à maneira daqueles que não conhecem a Deus’.
Toda a vida dos esposos e todos os lugares de suas vidas é para oferecerem sacrifício santo; toda a vida é altar, inclusive, sim, o leito, onde um ao outro se entrega no amor de Deus. O amor dos esposos é divino e sagrado.

Nosso amor é resposta

Um mestre da Lei, escutamos no Evangelho, aproximou-se de Jesus: ‘este doutor da Lei é uma pessoa de boa vontade; ele não quer discutir, mas escutar e aprender’; muito diferente dos demais que queriam somente por Jesus à prova. O mestre é um conhecedor da Lei e quer saber qual é o principal de todos os mandamentos. Jesus respondeu: ‘O primeiro é este: Escuta, Israel!’ A resposta de Jesus começa com a oração que os judeus faziam todos os dias, de manhã e à noite. Assim, antes da Aliança, vem a lembrança do que foi feito anteriormente por Deus; antes do mandamento, vem o escutar. Só podemos amar a Deus se conhecemos o Seu amor por nós. A obediência à Palavra supõe o amor da Palavra por nós, o amor de Deus por nós. Nosso amor é resposta.

“Ame ao Senhor, seu Deus!”

Arquivo CN/ cancaonova.com

O nosso Deus é o único Senhor: não amamos um ídolo, mas o único Senhor, cheio de majestade e digno de reverência, que nos criou e salvou. Jesus continua e diz: ‘Ame ao Senhor, seu Deus.’: parece uma ordem, mas pode ser um pedido: ‘Ame-me, pois sou apaixonado por você.’ O amor nos torna semelhantes: o amor de Deus por nós nos torna criaturas humanas; e o nosso amor por Ele nos torna, pela graça, deuses. Amar a Deus é louvar Deus, reverenciar Deus e servir Deus. Louvar, que é o contrário de invejar, é alegrar-se com o que o amado é. Reverenciar é respeitá-lo e levá-lo a sério, com medo de perdê-lo, o que seria a nossa perdição. Servi-lo é por à sua disposição o que somos, o que temos, o que fazemos. O amor nos une a Ele, tornando-nos, por graça, o que Ele é por natureza.

Amar com coração, mente, força pede Jesus. Aqui, deixo São Francisco falar da sua experiência de amor e em como ele pede que os Frades e as pessoas amem Deus:
”Amemos todos, de todo o coração, com toda a alma, como todo o espírito, com toda nossa capacidade e força, com todas as virtudes do espírito e do corpo (Dt 6,5), com todo empenho, todo afeto, todas as entranhas, todos os desejos e vontades – o Senhor nosso Deus, que nos deu e nos dá a todos nós, todo o nosso corpo, toda a nossa alma e toda a nossa vida, que nos criou e nos remiu e só por sua misericórdia nos salvará, que a nós miseráveis e pobres, pútridos e asquerosos, ingratos e maus, nos cumulou e cumula de todos os bens. Outra coisa não desejemos, nem queiramos, nem nos agrade, nem nos alegre senão o nosso Criador e Redentor e Salvador, o único e verdadeiro Deus, que é o bem pleno, o bem todo, o bem inteiro, o sumo e verdadeiro bem, que só Ele é bom(cf. Lc 18,19), carinhoso e meigo, suave e doce, que só Ele é santo, justo, verdadeiro e reto, só é Ele benigno, inocente e puro; dele, por ele e nele é todo perdão, toda graça, toda glória de todos os penitentes e justos, de todos os santos que se alegram juntos no céu. Nada, pois, nos impeça, nos separe, se nos interponha.”

Irmãos e irmãs, curiosamente, Jesus emenda o segundo mandamento, que é: amarás o teu próximo como a ti mesmo! O amor ao ser humano não está em concorrência com o amor a Deus. Não é uma alternativa. Ao contrário, brota do amor a Deus como a água brota da fonte. O amor ao próximo brota do Alto, do amor a Deus. Jesus amava o Pai. E, ao mesmo tempo e por causa deste Seu amor ao pai, Jesus nos amou. E como?! Dando Sua vida por nós, na cruz!

Celebrar a Trindade é celebrar o mistério de Deus-Amor que se revelou como tal na história da nossa salvação, sobretudo na vida e história de Jesus. A fé em Deus-Trindade se manifesta sobretudo na liturgia, especialmente na celebração da Santa Missa. Nossa oração se dirige ao Pai, por meio de Jesus Cristo, seu Filho, na unidade do Espírito Santo. Peçamos a Deus que nossas comunidades sejam cada vez mais uma imagem da Trindade, onde cada um respeita o outro, o acolhe, a ele se doa, realizando a perfeita comunhão.

Dom João Inácio Müller
Bispo da Diocese de Lorena

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