Deus é misericórdia
A primeira vez que aparece a palavra misericórdia na Sagrada Escritura está no livro do Êxodo (20,6) “uso de misericórdia por mil gerações”. Este trecho se encontra dentro da realidade dos dez mandamentos, Deus com seu porta-voz Moisés transmitiu esta verdade de fé: a misericórdia do Senhor se estende de geração em geração para aqueles que o amam e obedecem os seus mandamentos.
A misericórdia divina é concedida como graça do Alto, como dom de Deus, não mérito humano, não é algo conquistado por algum trabalho realizado, é um grande presente do Senhor. Talvez pudéssemos até parafrasear o centurião do Evangelho que pediu pelo seu servo: “Senhor, eu não sou digno da tua misericórdia”. Não é mesmo, ninguém é. O critério de Deus é diferente do nosso, então Ele quis ser assim, Deus quis ser e é misericórdia, por isso, todos podem ser alcançados por sua mão. Como ser alcançado pela misericórdia divina? Reconhecer e confiar n’Ele.
Ainda no livro do Êxodo, há outra promessa: “Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso” (22,26b). Além de reconhecer, de confiar, pode-se também clamar, pois a promessa é que o Senhor ouve, ouve porque é misericordioso.
No Novo Testamento, a primeira vez que se fala em misericórdia está no sermão da montanha (Mt 5,7), nesse caso, Jesus ensina o povo que o acompanha e que passa por diversas dificuldades a não desanimar, porque são bem-aventurados, são felizes, felizes aqueles que praticam a misericórdia.
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O caminho que Deus faz com seu povo é um caminho marcado pela misericórdia. Misericórdia que tem dois significados: por um lado o termo hebraico rahamin que exprime o apego instintivo, como amor de mãe e por outro o termo hebraico é o hesed que designa mais uma atitude boa, consciente, de fidelidade à misericórdia concedida ao outro como um compromisso. Em Deus, percebe-se que a misericórdia se expressa dessas duas formas, ora como amor de uma mãe, entranhado, lá do fundo do ser, misericórdia que se expressa pela ligação afetiva. Em outros momentos a misericórdia divina se expressa por sua própria fidelidade, mesmo quando seus filhos são infiéis, Deus continua fiel e concede sua misericórdia por causa da sua fidelidade.
Deus suscita santos misericordiosos
Deus nunca abandonou os seus, infelizmente são os seus que o abandonam, nos últimos tempos Deus suscitou uma santa que pôde se abrir e transmitir a misericórdia de Deus, santa Faustina Kowalska (1905-1938). Uma polonesa que entrou para congregação da irmãs da Divina Misericórdia e ali, como religiosa, foi visitada por Jesus misericordioso. A santa teve uma vida marcada pelos sofrimentos, incompreensões por parte das autoridades e de suas colegas de convento. Mas soube suportar e oferecer todos os sofrimentos por amor a Jesus Cristo e para a salvação das almas.
Santa Faustina foi orientada pelo seu confessor a escrever num diário o que lhe acontecia, num dos trechos Jesus misericordioso lhe pede para rezar um terço e o Senhor ensinou como se rezaria. Hoje, em vários paróquias, capelas e casas religiosas se reza o Terço da Misericórdia, às 15h, hora da Paixão do Senhor. Na Canção Nova, quem apresentou esse terço foi a missionária Graça Melro, que na década de 80, rezava com um grupo no Rio de Janeiro e, quando ingressou na comunidade em 1993, propôs a oração para os irmãos de comunidade e funcionários.
No final do século passado, tivemos outro santo polaco, São João Paulo II, que no ano 2000 canonizou Santa Faustina. São João Paulo II foi um grande propagador da misericórdia do Senhor, instituiu a festa da Misericórdia no II Domingo da Páscoa. Festa comemorada em tão pouco tempo com muito entusiasmo e devoção no nosso tempo.
Canção Nova, a casa da misericórdia!
Foi numa festa da Misericórdia, aliás, a primeira festa comemorada na Comunidade Canção Nova que monsenhor Jonas foi impelido a dizer que a Canção Nova é a casa da misericórdia e que seria construído um grande santuário, para ali o Senhor derramar suas graças a todos. E realmente não dá para negar, a misericórdia do Senhor está nesse lugar, com tantos testemunhos, tantas graças, a mão do Senhor está nesse lugar. Mas monsenhor Jonas orientou seus filhos espirituais que não se trata apenas de uma construção bonita, mas que cada casa da comunidade e cada membro Canção Nova é um santuário da divina misericórdia.
No final do ano de 2014, a profecia do monsenhor Jonas se cumpriu, o Santuário do Pai das Misericórdias foi dedicado, consagrado a Deus. De lá para cá, muitos peregrinos já fizeram sua experiência com a Misericórdia do Senhor, quando uma igreja recebe o título de santuário, todo território daquele santuário se torna um recorte do céu, sim, santuário significa recorte do céu. As pessoas já diziam “aqui é um pedacinho do céu” e, através dos meios de comunicação, a experiência com a misericórdia divina chega mesmo a muitos lares, ou melhor, a muitos corações.
Por fim, não é possível descrever tantos feitos do Senhor através da espiritualidade da misericórdia vivida e propagada através da Canção Nova nesses 40 anos. Mas podemos agradecer primeiramente a Deus, Ele é misericórdia, Ele nos ama com um amor de Pai e concede ainda sua misericórdia por causa do seu compromisso em ser misericórdia. E nossa gratidão ainda ao monsenhor Jonas Abib, pela sua docilidade em fundar essa comunidade e proporcionar a tanta gente uma experiência com a Misericórdia Divina, que se manifesta por meio de uma Santa Missa, de um encontro, de uma palestra, de uma comunidade que evangeliza, uma foto, um áudio, uma imagem… um clique. A Canção Nova é um pequeno clique que o dedo de Deus aperta, Ele aperta e Ele faz a obra acontecer na vida daqueles que se deixam atingir pela Misericórdia.
Padre Marcio José do Prado
Vice-reitor do Santuário do Pai das Misericórdia