Vivendo num mundo sedento de misericórdia

Vivendo num mundo sedento de misericórdia

O mundo vive hoje uma grande crise hídrica, vários países sofrem com a escassez da água. Por outro lado, o aquecimento vem derretendo as geleiras e elevando o nível dos oceanos, causando também um desequilíbrio na vida marinha.

Ambos os casos – a falta de água ou o excesso dela – trazem diversas problemáticas ao meio ambiente, e o grande causador de tudo isso é o próprio homem. O beato Paulo VI alertou em 1971: “Por motivo de uma exploração inconsiderada da natureza, o ser humano começa a correr o risco de destruir e de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação”, Carta Apostólica Octogesima Adveniens.

Papa Francisco, na Laudato Si, expõe também essa problemática: “A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos” (28).

Agora, o que tem a ver um mundo sedento de misericórdia com a questão da água? No início das Sagradas Escrituras, na segunda narrativa da criação, o escritor sagrado descreve: “E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo que ainda não brotava; porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra” (Gênesis 2,5). Os ecossistemas necessitam da água para sobreviver e desenvolver-se. Muitos especialistas afirmam que as guerras no futuro serão por causa da água.

Nosso corpo possui cerca 70% de água, mas o salmista canta: “A minha alma tem sede de Deus” (Salmo 42,2). As criaturas têm sede de água, mas o que está no mais profundo e importante do nosso ser tem sede de Deus. Então, dê de beber à sua alma, ela está sedenta do Senhor.

Não é à toa que o Papa Francisco proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que iniciará no dia 8 de dezembro de 2015, na Solenidade da Imaculada Conceição, e terminará na Solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, em 20 de novembro de 2016. Todos nós precisamos da Misericórdia Divina. Francisco afirma: “Há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai” (Misericordiae Vultus).

Esse momento que o Papa nos traz é o hoje. O homem moderno vive grandes crises, e uma delas é a da fé. “Na crise atual, que afeta não só a economia, mas vários setores da sociedade, a Encarnação do Filho de Deus nos diz que o importante é o homem para Deus e Deus para o homem. Sem Ele o homem acaba por fazer prevalecer o seu próprio egoísmo sobre a solidariedade e o amor, as coisas materiais sobre os valores, o ter sobre o ser”, disse o Bento XVI em sua viagem ao Santuário de Loreto em 4 de outubro de 2012.

“A mentalidade contemporânea, talvez mais que a do homem do passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem, o qual, graças ao enorme desenvolvimento da ciência e da técnica nunca antes verificado na história, tornou-se senhor da terra, subjugou-a e a dominou” (Dives in Misericordia, do Sumo Pontífice João Paulo II).

Santa Faustina escreveu em seu diário a seguinte revelação de Jesus: “Não quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao meu misericordioso coração (…) Antes do dia da justiça estou enviando o dia da misericórdia” (Diário, 1588).

Estamos vivendo, apesar de os noticiários quererem nos mostrar o contrário, o tempo da misericórdia, uma oportunidade para nos convertermos. “Sermos misericordiosos como o Pai” é um convite, mais que um convite, é uma convocação do próprio Deus para o Ano Santo da Misericórdia.

A prática das obras de misericórdia nos ajudarão a saciar a sede de nossa alma. São elas quatorze, divididas em corporais e espirituais, conforme o Catecismo de S. Pio X, capítulo I: “Das obras de misericórdia”.

As obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir os enfermos; visitar os presos e enterrar os mortos.

As obras espirituais: dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e rogar a Deus por vivos e defuntos.

Estão aí as dicas para vivermos bem o Ano Santo da Misericórdia e nos tornarmos “misericordiosos como o Pai”.

Deus os abençoe.

Frederico Henrique de Oliveira
Missionário da Comunidade Canção Nova
Grupo de Amigos

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