Cedo te amei, Senhor!
Diferente da conhecida frase de Santo Agostinho: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova…”, eu posso dizer que cedo amei o Senhor, pois fui encontrado por Ele ainda no início de minha adolescência. Por um bom tempo, questionei o porquê de ter sido dessa forma, mas depois de todo o percurso traçado, de muitas vezes reescrever a minha história vocacional e estar às portas da ordenação diaconal, posso dizer que a resposta é muito simples: porque o Senhor quis assim.
“Não tenhas medo! De agora em diante serás pescadores de homens” (Lc 5, 10)
Ele me amou primeiro, encontrou-me e seduziu-me, hoje não sei onde estaria e o que seria da minha vida sem esse grande encontro que deu sentido a toda a minha história. Foi por amor, pela infinita misericórdia que tinha por mim, que Ele me preservou de uma vida longe d’Ele. O Senhor sabia da minha fragilidade, sabia que eu não poderia viver distante. Muitos são resgatados de uma vida totalmente destruída, quando Deus, na Sua infinita misericórdia, os salvou. Ele tem uma pedagogia de salvação para cada um, pois somos únicos diante d’Ele; comigo foi dessa forma.
Em novembro de 1995, tive uma grande experiência com o Senhor em um encontro de jovens da RCC [Renovação Carismática Católica]. No ano seguinte, em fevereiro de 1996, em um seminário de vida no Espírito Santo promovido também pela RCC, tudo ganhou sentido na minha vida, a grande experiência com o Espírito Santo foi a concretização de tudo. Meu desejo era entregar-me totalmente a Deus, ser todo d’Ele, ser santo, ajudar as pessoas, levar Cristo a tantos que nunca tiveram uma experiência com Ele. Logo, senti um pequeno chamado ao sacerdócio, que foi crescendo aos poucos. Comecei a buscar um verdadeiro discernimento, pois era muito jovem ainda. Depois de alguns anos de uma vida de entrega ao Senhor, de busca por descobrir minha vocação, surgiram vários questionamentos, dúvidas, medos e decepções. Comecei a fazer faculdade, a trabalhar e namorar; aos poucos, caí em um esfriamento na caminhada com o Senhor. Vivi muitas experiências da manifestação da Misericórdia Divina, pois Deus não me permitia ir distante, provei de várias intervenções e da Sua graça, as quais não me deixavam afastar d’Ele.
Um desejo muito grande de Deus invadiu meu coração e, ao mesmo tempo, sentia que faltava algo. Voltei ativamente na caminhada, mas o Senhor me impulsionava a mais. Já estava fazendo muito, vivia doando minha vida na paróquia e na RCC, tocando, cantando, “pastoreando” jovens, levando Cristo a muitos, mas sentia um vazio interior, sabia que Ele queria mais de mim. Tinha uma vida normal, namorava, trabalhava, divertia-me, praticava esportes, estudava… No entanto, lembro que tudo o que fazia, mesmo que me desse alegria, não encontrava a felicidade que tanto buscava, que tanto desejava, de ser totalmente de Deus.
Em todas essas situações a solução para tanta indecisão, o impulso para sair desse estado era a palavra “sacerdócio”, desejo que fazia meu coração pulsar forte, que não se desfez em meio às minhas dúvidas, aos medos e inconstâncias; em alguns momentos, também a minha distância de Deus, as minhas decepções, frustrações e inúmeras possibilidades de ser feliz de outro modo, os sonhos, projetos e planos não me tiravam o desejo de ser padre. Esse desejo não se perdeu em meio às minhas demoras, foi preservado nas inúmeras vezes que me descuidei, perdurou e ganhou forças e certeza, amadureceu em meio a tantas tempestades, fortaleceu-se mesmo quando questionado se era real. Aos poucos, fui sendo atraído pelo carisma Canção Nova, pela busca da vivência radical do Evangelho, pela vivência no Espírito Santo e a preparação para a segunda vida de Cristo. Fiz o caminho vocacional e entrei na comunidade em 2007.
Diante de todos os fatos, no decorrer da minha vida, do ardente desejo do meu coração, só tenho a declarar que quero ser padre, quero ser santo, quero levar Cristo para todos que passarem no meu caminho, quero levar a todos a oportunidade da experiência que um dia tive com Deus, quero ser “outro Cristo”, quero ser instrumento, colaborador da missão salvífica de Deus nesse carisma que tanto amo.
A cada passo fica mais visível a grandeza do chamado e a minha pequenez diante da missão. Sou fruto do amor e da misericórdia de Deus, e serei ordenado diácono no dia da abertura da Porta Santa no Santuário do Pai das Misericórdias, logo após a abertura desse Ano Santo da Misericórdia. Em 2016, durante este ano de graça, serei sacerdote com a missão de mostrar essa misericórdia assim como eu a provei e como Ele quer mostrar a todos os Seus filhos. É tudo providência do Pai.
Edilberto Carvalho