“A Via-Sacra é uma via traçada pelo Espírito Santo”
A primeira Via-Sacra celebrada e vivenciada se remonta a Jerusalém, durante o reinado de Herodes (cf. Lc 23, 8), quando Pilatos era governador (cf. Jo 18, 28-29). Jesus é preso pelos soldados romanos e sentenciado a ser flagelado e crucificado no Monte Calvário. O caminho percorrido por Jesus desde o Monte das Oliveiras, na propriedade chamada Getsêmani, até o Monte Calvário, onde é crucificado e morto, é o que chamamos de Via-Sacra.
Esta devoção surgiu no ambiente popular e, durante muito tempo, significou a peregrinação à Terra Santa, em que os fiéis seguiam os passos de Jesus, como também era a devoção às “Quedas de Cristo”, aos “Caminhos dolorosos de Cristo”, à memória da Paixão de Cristo e à devoção às “Estações de Cristo”. Foi só no século XVII que a Via-Sacra como vemos hoje foi difundida, sobretudo por São Leonardo de Porto Maurício e, depois, aprovada pela Santa Sé e enriquecida por Indulgências.
A Via-Sacra é composta por quatorze estações e percorre os acontecimentos daquele dia santo em que Cristo foi preso e condenado à morte por nossos pecados. Todas as vezes que renovamos esta devoção, ao meditar as quatorze estações da vida de Cristo, nos “transpomos” àquele único dia santo e, pela fé, caminhamos ao lado de Cristo, não assistindo a um espetáculo, mas contemplando e deixando-se ser afetado pela obra da nossa redenção. Os efeitos daquela semana santa percorrem a história, a ponto de, pela fé, poder dizer que naquele dia Cristo morreu por mim e me salvou.
“Ele não cometeu pecado algum, mentira nenhuma foi encontrada em sua boca. Quando injuriado, não retribuía as injúrias; atormentado, não ameaçava; antes, colocava a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a Cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça. Por suas feridas fostes curados” (1 Pd 2, 22-24).
“A Via-Sacra é uma via traçada pelo Espírito Santo” e, quando nos unimos a ela, recordamos também que somos peregrinos nesta terra; e como o nosso Mestre Jesus também passaremos pelo mistério da paixão e cruz. Este momento é privilegiado para levarmos os nossos pequenos e grandes sofrimentos diários aos pés de Jesus e n’Ele encontrar forças para seguir a nossa própria Via-Sacra.
Quaresma
O tempo quaresmal é onde, conduzidos pelo Ano Litúrgico, somos chamados a meditar no caminho de Jesus até a sua Páscoa, além disso, trilhar, também nós, o nosso caminho de conversão. É tempo de rever a nossa vida, por isso, é o tempo propício, mas não exclusivo, para a meditação das estações da Via-Sacra. Neste período, as paróquias se mobilizam para que os fiéis possam realizar esta prática de devoção colhendo frutos espirituais.
A exemplo de tantos santos e santas da Igreja, também nós queremos viver com coerência este “tempo sacrossanto” e contemplando a cruz de Cristo já não ser mais pecador.
Indulgência
A Santa Mãe Igreja, ao perceber os frutos de piedade e santidade desta santa devoção, a enriqueceu com indulgência plenária, quando rezada de forma particular ou comunitária. Para lucrar essa indulgência, precisa ser observado alguns preceitos, além do estar em estado de graça, rezar pelas intenções do Santo Padre, o Papa, e receber a comunhão eucarística.
Seguem as normas para se alcançar a Indulgência Plenária, pela meditação da Via-Sacra. Para ganhar a indulgência plenária, determina-se o seguinte:
- O piedoso exercício deve-se realizar diante elas estações da Via-Sacra, legitimamente eretas;
- Requerem-se catorze cruzes para erigir a Via-Sacra; junto com as cruzes, costuma-se colocar outras tantas imagens ou quadros que representam as estações de Jerusalém;
- Conforme o costume mais comum, o piedoso exercício consta de quatorze leituras devotas, a que se acrescentam algumas orações vocais. Requer-se piedosa meditação só da Paixão e Morte do Senhor, sem ser necessária a consideração do mistério de cada estação;
- Exige-se o movimento de uma para a outra estação. Mas se a Via-Sacra se faz publicamente e não se pode fazer o movimento de todos os presentes ordenadamente, basta que o dirigente se mova para cada uma das estações, enquanto os outros ficam em seus lugares;
- Os legitimamente impedidos poderão ganhar a indulgência com uma piedosa leitura e meditação da Paixão e Morte do Senhor ao menos por algum tempo, por exemplo, um quarto de hora;
- Assemelham-se ao piedoso exercício da Via-Sacra, também quanto à aquisição da indulgência, outros piedosos exercícios, aprovados pela competente autoridade: neles se fará memória da Paixão e Morte do Senhor, determinando também catorze estações;
- Entre os orientais, onde não houver uso deste exercício, os Patriarcas poderão determinar, para lucrar esta indulgência, outro piedoso exercício em lembrança da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Renné Viana
Seminarista da Com. Canção Nova