Mesmo sem estar no centro das Notícias diárias, a pobreza tem crescido. Um olhar atento aos que estão ao nosso redor pode nos ajudar a não baixar as guardas, quando o assunto é Solidariedade.
À medida em que melhoram as condições da pandemia, com o avanço da vacinação, observa-se uma tendência em relaxar os cuidados necessários para evitar contágios e preservar a saúde, o que exige alertas e orientações na mídia, dentre outras medidas. Ao mesmo tempo, constata-se uma diminuição das iniciativas de ajuda a pessoas e famílias em situação de maior vulnerabilidade num momento em que se agravam as consequências econômicas da pandemia. Ações emergenciais como as cestas básicas diminuíram, mas a pobreza cresceu, com situações de miséria e fome. A caridade enquanto expressão de amor ao próximo sofredor deve permanecer e ser reavivada através de iniciativas pessoais e comunitárias de partilha e solidariedade.
Sabemos que os problemas sociais são complexos exigindo muito mais do que ações emergenciais, no âmbito político e econômico, mas a miséria e a fome não permitem esperar um futuro distante ou deixar para depois. É urgente reavivar ou redobrar a partilha nas comunidades. Os dados estatísticos são importantes, assim como as notícias veiculadas pelos meios de comunicação, pois ajudam a enxergar melhor a realidade e a reconhecer a sua gravidade, mas é preciso ter cuidado para não reduzir as pessoas a números ou a notícias. Basta ter os olhos, os ouvidos e o coração abertos para ver o sofrimento nas ruas, nas periferias e nas filas em busca de alimentos ou de assistência médica.
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É preciso rezar, amar e servir, como Santa Dulce dos Pobres e tantas outras mulheres e homens que se doam generosamente a servir o próximo mais sofredor. A recente celebração de Corpus Christi recordou que a partilha do pão eucarístico deve ser precedida e acompanhada da partilha do pão de cada dia nas mesas. Necessitamos de mais solidariedade e partilha para enfrentar as situações de pobreza e sofrimento que se abatem sobre as nossas famílias. Há também instituições de caridade e obras sociais necessitadas de maior apoio, dentre elas, as Obras Sociais de Irmã Dulce (OSID) que necessita de socorro urgente para continuar a amar e servir como Santa Dulce dos Pobres. A Campanha Um Milhão de Amigos para Santa Dulce é uma oportunidade singular para vivenciar a solidariedade e a partilha. Não podemos perder a capacidade de chorar e de ser solidário perante o sofrimento alheio, num contexto social marcado pelo agravamento da pobreza.
Basta ter os olhos, os ouvidos e o coração abertos para ver o sofrimento nas ruas, nas periferias e nas filas em busca de alimentos ou de assistência médica.
É sempre muito importante o que cada um pode fazer e o que cada comunidade eclesial ou organização social podem fazer para o enfrentamento das situações que afligem as famílias empobrecidas, mas é indispensável a atuação das autoridades e dos órgãos públicos. Não podemos jamais cansar-nos de estender as mãos, especialmente neste tempo dramático que vivemos. Há muita gente à espera de mãos estendidas. É urgente a partilha!
Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil