Hoje, celebramos a Festa de Maria Madalena. Neste artigo, vamos conhecer um pouco mais sobre a “apóstola dos apóstolos”.
Mencionada entre os discípulos diretos de Jesus Cristo, presente ao pé da Cruz e primeira testemunha do Senhor Ressuscitado na madrugada do dia de Páscoa (Mc 16,9). Esta é Maria Madalena, figura enigmática para alguns, mas que se tornou, na história da salvação, autêntica expressão da força da misericórdia divina.
Seu culto difundiu-se na Igreja Oriental, sobretudo a partir do século XII. Era memória obrigatória no Missal Romano até 2016, quando o Papa Francisco elevou a data ao mesmo nível das festas celebradas pelos apóstolos, para destacar a importância da primeira testemunha da ressurreição.
Uma figura de mistério
Quando se fala em Maria Madalena, quase que instantaneamente vem à memória, quer seja do fiel católico, quer seja no senso comum, o episódio da pecadora perdoada do capítulo 7 do Evangelho de São Lucas; aquela que gastou a vida em pecado público derrama suas lágrimas e um vaso de alabastro, como se derramasse a própria culpa de erros, e porque “muito amou” (Lc 7,47), experimenta com profundidade a misericórdia de Jesus.
Essa memória é confirmada pela Tradição da Igreja Ocidental, sobretudo depois de São Gregório Magno, que identificou Maria de Mágdala como a mulher que derramou perfume nos pés do Senhor, na casa de Simão, o fariseu, e com a irmã de Lázaro e Marta.
Outros associam Maria Madalena como uma prostituta, a mulher adúltera cuja vida posta em risco é salva do apedrejamento da Lei, narrado no capítulo 8 do Evangelho de São João. No entanto, não há qualquer afirmação bíblica de que, de fato, ela fosse uma prostituta. Outro trecho do evangelho de São Lucas afirma que dela haviam saído sete demônios (Lc 8,2), mas não evidencia a que essa ação maligna estava associada.
Também, quanto ao fim de sua vida, há controvérsias. A tradição oriental afirma que teria acompanhado Maria, a Mãe de Jesus, e o apóstolo João até a cidade de Éfeso (atual Turquia). Lá, teria anunciado o Evangelho de Cristo até a sua morte. Já a tradição católica afirma que Madalena teria saído da Palestina após a perseguição judaica e migrado para o sul da França, e escolhido a Colina de Sainte Baume como seu lugar de recolhimento.
Um símbolo da misericórdia
Mas afinal, o que se sabe ao certo de Maria Madalena? Que ela é sinal da misericórdia de Deus e do anúncio da força desse amor que ela mesmo experimentou. E aqui já ela começa a nos ensinar algo fundamental: a experiência com a misericórdia conduz inegociavelmente ao discipulado de Jesus.
Santo Tomás chamava Santa Maria Madalena de “apóstola dos apóstolos”. De fato, ela estava no grupo de mulheres que acompanhavam Jesus e os apóstolos. Qualquer que tenha sido o pecado que cometeu em vida, ao conhecer a face humana da misericórdia divina, foi tomada por uma decisão que mudaria toda sua vida: por tocar em Jesus, também foi tocada na alma, e ali, como canta o hino do Ofício das Leituras, a “estrela feliz de Mágdala” se uniu a Jesus “por estreita aliança de amor”.
Foi tomada por este amor que ela seguiu o seu Rabi também na morte, compartilhando, junto com o discípulo amado, as dores que feriam o corpo do Mestre e o coração de sua mãe junto a Cruz. Mais que isso, tal como a amada “ferida de amor” (Ct 5,8) do Cântico dos Cânticos que saiu na madrugada em busca do amado, Madalena também se torna a primeira a ver o Ressuscitado, porque buscou amá-Lo, mesmo depois da morte. Foi buscá-Lo, não o achou; por medo, corre em direção aos discípulos que também visitam o túmulo vazio; porém, a despeito de tudo, permanece do lado de fora, chorando pelo seu Senhor (cf. Jo 20,10-11).
Escreve São Gregório Magno: “Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois de os discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade daquele que julgava ter sido roubado.”
E aqui Santa Maria Madalena nos dá outra lição acerca de quem foi alcançado pela misericórdia de Deus: perseverança! É próprio do amor firmemente suportar as demoras e esperar contra toda esperança que o silêncio da ausência se quebre, do mesmo modo como foi quebrado quando Jesus pronunciou o nome daquela que um dia lavou seus pés: “Maria” (Jo 20,26).
São Gregório, em sua homilia sobre a santa, afirma que, naquele momento, é como se Jesus falasse a ela: “Reconhece aquele por quem és reconhecida. Não é entre outros, de maneira geral, que te conheço, mas especialmente a ti. Maria, chamada pelo próprio nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente exclama: Rabuni, que quer dizer Mestre (Jo 20,16). Era ele a quem Maria Madalena procurava exteriormente; entretanto, era ele que a impelia interiormente a procurá-lo”.
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Obedientes à lei do Amor
Como rezamos na Liturgia das Horas, em uma das antífonas da festa de Santa Maria Madalena: “sua língua obedeceu à lei do amor”. Tal qual o Amor feriu o coração de Maria de Mágdala de amor, também espera que o nosso seja alcançado para que também nós, movidos interiormente pelo Amor que procuramos fora, nos tornemos discípulos perseverantes e apaixonadas testemunhas da misericórdia de um Deus que nos conhece pelo nome.
Santa Maria Madalena, rogai por nós!
1 Das Homilias sobre os evangelhos, de São Gregório Magno, papa (Hom.25,1-2.4-5:PL 76,1189-1193) (Séc.VI)
George Lima
Membro definitivo da Comunidade Canção Nova. É natural de Maranguape – CE, tem 35 anos, ingressou na Comunidade em 2014 e no seminário Canção Nova em 2016. Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo, pela UFC, licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, atualmente, cursa a Faculdade de Teologia.