O que “Nasceu para nós um menino” realmente significa?
A frase “Nasceu para nós um menino” é encontrada no Antigo Testamento, no livro de Isaías. Isaías foi um profeta do reino do sul de Judá na época em que o reino do norte de Israel sucumbiu para a Assíria. Em uma época tumultuada de superpotências em guerra que ameaçavam Judá, Isaías ofereceu mensagens do Senhor tanto de julgamento quanto de esperança.
Isaías 9, 6 foi uma mensagem de esperança. Nela, um rei vindouro foi prometido. Isaías 9,6-7 explica: “Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado, e o governo estará sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Da grandeza do seu governo e da paz não haverá fim. Ele reinará no trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecendo-o e sustentando-o com justiça e retidão, desde agora e para sempre”.
Isaías é conhecido como um profeta messiânico, predizendo a vinda do Messias, o ungido que salvaria o povo de Deus. Esta passagem passou a ser entendida como referindo-se ao Messias vindouro. Para nós como cristãos, as profecias messiânicas apontam para Jesus.
Qual é o contexto de Isaías 9,6?
Um príncipe abençoado, um rei poderoso, um reinado de paz – essas promessas teriam sido maravilhosas para quem escutava Isaías no século VIII a.C. Neste ponto, Judá estava enfrentando a ameaça do Império Assírio. Provavelmente, eles esperavam que o príncipe prometido se tornasse um grande rei para libertá-los fisicamente – talvez o filho do rei Acaz fosse o escolhido?
O filho de Acaz, Ezequias, se encaixava em alguns aspectos. Ele decidiu expurgar a idolatria de Judá e se rebelou contra o rei da Assíria, de quem Deus resgatou milagrosamente Judá (2 Reis 19). No entanto, Ezequias morreu. Seu reino não durou para sempre, e Judá logo seguiu Israel para o exílio, desta vez para a Babilônia.
As palavras de esperança em Isaías 9 estão intercaladas com palavras de julgamento, advertência e condenação do Senhor pela iniquidade de Israel. O Senhor pretendia punir Israel, mas Isaías 9, 2-7 mostra que Sua ira não durou para sempre. Um verdadeiro rei viria, restaurando o povo de Deus.
Por que Jesus nasceu “para nós”?
Isaías 9, 6 diz: “Nasceu para nós um menino”. Por que a criança nasceu para nós? Jesus nasceu para nós porque Seu nascimento não foi simplesmente uma bênção para Seus pais. Jesus não nasceu “para” Maria e José da mesma forma que Isaac nasceu “para” Abraão.
Em vez disso, Seu nascimento foi feito para resgatar o povo de Deus (Marcos 10, 45). Este nascimento seria uma grande alegria para Israel. A criança não seria apenas uma bênção para Seus pais, mas para o mundo inteiro.
O que Isaías 9,6 nos ensina sobre a história do Natal?
Cada linha de Isaías 9,6 contém profundidade de significado.
“Porque um menino nasceu para nós”, começa. Discutimos o que significa um filho nascer para nós, coletivamente, uma bênção para o mundo. Também podemos notar como é único que Deus venha dessa maneira para salvar Seu povo. Em vez de andar em uma carruagem sobre as nuvens ou enviar raios, Deus veio como uma criança para viver entre nós, para ser um de nós. O Senhor do Universo desceu para se familiarizar intimamente com nossa dor e nossas lutas.
“Um filho nos foi dado”, continua Isaías. Essa criança não seria qualquer um; Ele seria um filho. Especificamente, Ele é o Filho de Deus. O amor do Pai por nós era tão grande que Ele se dispôs a enviar Seu único Filho como servo sofredor (Isaías 53) para nos salvar (João 3,16).
“E o governo estará sobre seus ombros.” O servo sofredor se tornaria o líder. O bebê da história do Natal um dia governaria o cosmos. Após Sua ressurreição, Mateus 28,18 registra: “Então Jesus, aproximando-se deles, disse: ‘Foi-me dada toda a autoridade no Céu e na terra’.”
“E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” Nesse sentido, a palavra “maravilhoso” significa incompreensível, ou além da compreensão, enquanto conselheiro refere-se a alguém com grande sabedoria. Desde o nascimento de Jesus até Seu ministério, Ele demonstrou Sua natureza milagrosa e em Sua pregação e interações Ele demonstrou Sua sabedoria.
Isaías deixou claro que esse filho e rei vindouro seria mais do que apenas um homem. Ele seria o Deus Poderoso. Curiosamente, o filho também seria o Pai Eterno – uma referência à doutrina da Trindade. Finalmente, Jesus traria a paz, um sentimento ecoado no Apocalipse: “Não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor, porque a velha ordem das coisas já passou” (Apocalipse 21,4).
Onde mais Isaías faz previsões sobre Jesus? Isaías faz extensas profecias sobre Jesus. Vou expor alguns aqui:
- Isaías 7,14 previu que Jesus nasceria de uma virgem.
- Isaías 9,1 previu que Ele seria da Galileia.
- Isaías 9,6 (nosso versículo chave) predisse que o Messias nasceria como uma criança e que Ele não seria apenas rei, mas também “Deus Poderoso”.
- Isaías 9,7 proclamou que Jesus seria da linhagem de Davi.
- No entanto, a profecia mais extensa de Isaías é encontrada em Isaías 53
Nela, Isaías pintou um quadro não de um poderoso rei guerreiro, mas de um servo sofredor que traria a salvação. Isaías 53,5-6 afirma, “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, como ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós”.
A imagem de Isaías do Messias era de alguém que era Deus e homem, rei e servo, governante e sacrifício. Levaria centenas de anos até que alguém pudesse começar a entender exatamente como todas essas identidades aparentemente conflitantes se encaixam na pessoa de Jesus Cristo.
Jesus é o presente de Deus para nós “Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado”. O Natal costuma ser acompanhado pela entrega de presentes. Mas Deus estabeleceu o precedente final. Embora estivéssemos entrincheirados no pecado, Jesus veio para viver e morrer para que pudéssemos ser salvos (Romanos 5,8).
Ao ouvirmos na liturgia natalina que “um menino nasceu para nós”, lembremo-nos com profundas ações de graças que grande dádiva isso realmente é.