MANDAMENTOS

O quarto mandamento da Igreja

Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja

Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja – este é o quarto mandamento da Igreja. E para explicá-lo, primeiro precisaremos entender como e quando a Igreja ordena o jejum e a abstinência de carne. Veja o que diz o Código de Direito Canônico:

Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo” (CDC Cânon 1251).

Quem está obrigado a seguir essa lei? 

Quanto à abstinência – Todos os que fizeram 14 anos são obrigados a segui-la.

Quanto ao jejum – Todos os que fizeram 18 anos até o fim dos 59 anos.

Os que estão dispensados – Todos os que não estão na faixa etária indicada pelo Código de Direito Canônico, também aqueles que se encontram enfermos a ponto de não terem condições de praticar tais exercícios espirituais.

Observação:

  • – A Conferência episcopal pode determinar mais pormenorizadamente a observância do jejum e da abstinência, e bem assim substituir outras formas de penitência, sobretudo obras de caridade e exercícios de piedade, no todo ou em parte, pela abstinência ou jejum (Cf. CDC 1253). No caso do Brasil, segundo a legislação complementar da CNBB: “a abstinência pode ser substituída pelos próprios fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia”.
  • – O mandamento da Igreja não nos impede de praticarmos tais práticas com uma frequência maior, desde que observado as orientações apontadas pela própria Igreja. Por exemplo, muitos fiéis católicos fazem jejum não somente na quarta e sexta-feira da Semana Santa, mas em todas as sextas-feiras do ano, com exceção das solenidades.
  • – Tanto o jejum como a abstinência de carne são práticas penitenciais (cf. CDC 1249).

A purificação pessoal 

As penitências são ferramentas para a purificação, como, por exemplo, dos pecados capitais: a gula, a preguiça, a luxúria, a ira, a inveja, a avareza e a vanglória. É importante que o fiel pratique as penitências que fortalecerão sua própria alma contra as más inclinações. Sem purificação não progredimos no caminho de santidade. Confira logo abaixo algumas penitências que podem ser praticadas:

  • – Relacionadas à comida e bebida
    • Abster-se de comer carne;
    • Sair das refeições sem estar saciado;
    • Não comer ou beber nada com açúcar;
    • Acrescentar, nas refeições, algo que não lhe agrada; por exemplo, legumes.
  • – Relacionados ao corpo
    • Sentar-se em cadeiras sem encostar as costas;
    • Rezar alguma oração mais prolongada de joelhos;
    • Não usar elevadores ou escadas rolantes;
    • Cuidar da postura corporal; por exemplo, não se escorar nas coisas quando estiver parado.
  • Fazer um percurso a pé, quando poderia fazê-lo de carro, moto ou bicicleta – Andar em meio ao sol quente ao invés de o fazer pela sombra.
  • – Relacionados à moral
    • Não reclamar das contrariedades do dia;
    • Apesar das aflições, sorrir para as pessoas;
    • Fazer os serviços mais incômodos, que os outros desprezam;
    • Não se defender quando alguém lhe acusa;
    • Falar bem das pessoas que se gostaria de criticar;
    • Ouvir as pessoas incômodas sem as interromper.

A união com o Senhor 

Além da purificação pessoal, desde a Igreja Primitiva, os fiéis oferecem penitências para se unirem ao Senhor. Como disse São Paulo aos Coríntios: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a Glória de Deus” (Cf. I Cor 10, 31). Não se trata somente de escolher práticas que lhe farão sofrer, se assim fosse, estaríamos tratando apenas de algo masoquista. Longe disso! A penitência é a ocasião de provarmos o nosso amor por Jesus (Cf. I Cor 13, 1-13).

Santa Teresinha é um ótimo exemplo de como podemos viver de maneira fecunda esse tipo de prática. Nas situações cotidianas, ela oferecia a Jesus, por amor a Ele, cada situação que vivia. É assim que devemos fazer. Não fazemos por gostar do sofrimento, nem queremos provar para nós mesmos que conseguimos isso ou aquilo. Fazemos – ou deve ser feito – por amor a Jesus. O amor a Deus deve ser a motivação maior de nossa parte quando formos realizar qualquer que seja a penitência. Como a própria Santa Teresinha disse: “O amor se alimenta de sacrifícios”.

Durante o dia a dia, temos inúmeras obrigações ordinárias, e surgem diversas situações que nos contrariam. São coisas da vida. No entanto, podemos oferecer cada uma dessas situações como pequenos sacrifícios por amor a Deus. Em cada situação, faça o exercício de conversar com Ele e dizer: “Senhor, eu te ofereço esse sacrifício, por amor a Ti”. Viva essa situação sem murmurar, faça bem o que deve ser feito, com virtude, como um cristão verdadeiro deve fazer. Como disse São Josemaria Escrivá: “Fazei tudo por Amor. Assim, não há coisas pequenas: tudo é grande. A perseverança nas pequenas coisas, por amor, é heroísmo. Queres de verdade ser santo? Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes” (Caminho 813-815).

Foto: Cathopic – @giselagiraldofotografia

Pela conversão dos pecados

As penitências podem ser oferecidas pelas almas do purgatório e pela conversão dos pecadores. Os santos gastaram longos anos da vida por essa causa. E nós não estamos dispensados de fazer o mesmo, pelo contrário, é nossa obrigação enquanto membros da Igreja. Como ensinou São Paulo: “Alegro-me nos sofrimentos que tenho suportado por vós e completo, na minha carne, o que falta às tribulações de Cristo em favor do seu Corpo que é a Igreja” (cf. Col 1,24).

Com certeza, você conhece alguém que seja amigo ou familiar, e percebe que somente uma ação divina poderia mudar a vida desta pessoa. Não perca tempo, ofereça jejuns e outras penitências clamando a Deus pela conversão desta alma.

O relato de uma santa

“Num domingo, ao olhar uma foto de Nosso Senhor na Cruz, fiquei impressionada com o sangue que caía de uma das suas mãos divinas. Senti grande aflição pensando que esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o divino orvalho que se desprendia, compreendendo que precisaria, a seguir, espalhá-lo sobre as almas. O grito de Jesus na Cruz ressoava continuamente em meu coração: “Tenho sede!”. Essas palavras despertavam em mim um ardor desconhecido e muito vivo. Queria dar de beber a meu Bem-Amado e sentia-me devorada pela sede das almas. Ainda não eram as almas dos sacerdotes que me atraíam, mas as dos grandes pecadores.

Ouvi falar de um grande criminoso que acabava de ser condenado à morte por crimes horríveis. Tudo fazia crer que morreria impenitente. Quis, a qualquer custo, impedi-lo de cair no inferno. Para conseguir, usei de todos os meios imagináveis: sentindo que, de mim mesma, nada poderia, ofereci a Deus os méritos infinitos de Nosso Senhor, os tesouros da Santa Igreja, enfim, pedi a Celina para mandar celebrar uma missa nas minhas intenções…

No dia seguinte à sua execução, caiu-me às mãos o jornal La Croix. Abro-o apressada, e o que vejo? Minhas lágrimas traíram minha emoção e fui obrigada a me esconder. Pranzini não se confessou, subiu ao palanque e preparava-se para colocar a cabeça no buraco lúgubre quando, numa inspiração repentina, virou-se, apanhou um Crucifixo que lhe apresentava o sacerdote e beijou por três vezes suas chagas sagradas! Sua alma foi receber a sentença misericordiosa Daquele que declarou que no Céu haverá mais alegria por um só pecador arrependido do que por 99 justos que não precisam de arrependimento!” (História de uma alma Santa Teresinha).

Deixe seu comentários

Comentário