A Eucaristia: um Céu escondido!

O testamento do Amor feito carne para nós!

Na Quinta-feira da Semana Santa, a Igreja celebra a instituição da Eucaristia. A Igreja faz memória e, ao mesmo tempo, atualiza a ceia do Senhor. Aliás, essa missa, tradicionalmente conhecida como Missa do Lava-pés, é, na verdade, nomeada como Missa da Ceia do Senhor. Ao referir-se à instituição da Eucaristia, Santo Euzébio diz:

“Havendo de tirar de nossa visão o corpo que assumira e levá-lo aos astros, era necessário que, no dia da ceia, Cristo consagrasse para nós o sacramento de seu corpo e sangue, para que fosse cultuado permanentemente pelo mistério o que ele oferecia uma única vez como penhor.”

Na liturgia da palavra desta Santa Missa, São Paulo (1Cor 11,23-26) fala sobre a instituição desse santo momento como um dom recebido. São Paulo, no versículo 23, diz: “O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti”. São Paulo, antes mesmo de falar sobre o grande mistério da presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento, primeiro quer nos fazer compreender que a Eucaristia é um dom da graça de Deus que nós recebemos do próprio Senhor.

Deus se dá a si mesmo a cada um de nós e o faz devido ao amor que Ele tem por cada um de nós. O Céu se faz presente na Terra. Deus, que se encarnou e se fez homem, “arruma um jeitinho” de permanecer em meio a nós com Seu Corpo, Alma e Divindade sob as espécies do pão e do vinho consagrados.

É no mistério da Eucaristia que o Senhor nos oferece o pão da vida e o vinho do Seu amor, e nos convida para a festa do amor eterno.

A imagem do pão e do vinho tem significados especiais na Bíblia. Na Sagrada Escritura, o pão representa tudo aquilo de que o homem tem necessidade para a sua vida quotidiana, e o vinho exprime a excelência da criação, dá-nos a festa em que ultrapassamos os limites da cotidianidade.

Sempre gostei da maneira como São Francisco Marto (um dos pastorinhos de Fátima) chamava a presença real de Jesus na Eucaristia: Jesus Escondido. Nessa simples expressão, encontramos uma forma simples, mas plena de significado, um rico ensinamento do testamento do amor que Deus deixou a cada um de nós. Mesmo que não tenha sido essa a intenção do pequeno Francisco, ao usar essa expressão, ele nos mostra que Jesus está ali e compete a nós encontrá-Lo.

Fico imaginando uma criança que gosta de brincar de esconder. Muitas vezes, ela, em sua simplicidade, se esconde por detrás de uma cortina, deixando uma parte do seu corpo à mostra ou um enorme volume que qualquer adulto é capaz de perceber. Assim é também Jesus na Eucaristia. O Todo-poderoso “se esconde” no Santíssimo Sacramento para que toquemos o Céu. De alguma maneira, às vezes mais sensível, outras nem tanto, nós nos deparamos com os sinais que a Eucaristia nos deixa. Muito provavelmente não veremos o todo, não alcançaremos, com nossa razão, a plenitude do mistério da Eucaristia; não teremos êxtases ou levitaremos como alguns santos fizeram ao contemplar ou pensar na Eucaristia, mas podemos, pela fé, receber o Céu em nós.

Papa Bento XVI, ao falar da Eucaristia, deixa claro: É no mistério da Eucaristia que o Senhor nos oferece o pão da vida e o vinho do seu amor, e nos convida para a festa do amor eterno. A presença Eucarística é para nós o lugar concreto do amor eterno de Deus. Ali, de forma única, mas que se perpetua no tempo através de cada Santa Missa celebrada, nós temos a possibilidade de, aqui na Terra, tocar o Céu. Ao refletir sobre essa presença real de Jesus na Hóstia Consagrada em meio a nós, São Tomás de Aquino vai dizer:

Pois, o próprio Cristo está contido na Eucaristia como num sacramento. Por isso, quando Cristo teve de se separar corporalmente dos discípulos, entregou-se-Ihes a si mesmo sob a espécie sacramental, assim como na ausência do imperador se mostra a sua veneranda imagem. (Suma Teológica T III, 73, 5)

Bento XVI, ao mencionar que este sacramento é a manifestação do amor de Deus por nós, nos explica:

Nós celebramos a Eucaristia conscientes de que o seu preço foi a morte do Filho, o sacrifício da sua vida, que nela permanece presente.[…] Mas sabemos também que, desta morte, brota a vida, porque Jesus a transformou num gesto oblativo, num ato de amor, mudando-a assim no íntimo: o amor venceu a morte.

Espero que você possa aproveitar deste tão grande tesouro que o Senhor instituiu naquela noite Santa. Que, ao ir ao encontro de “Jesus escondido”, você possa sentir e “tocar” o Céu já aqui na Terra, recebendo, de forma concreta, a herança que consta neste testamento que o Pai, rico em amor e misericórdia, nos deixou.

Termino citando o Papa Bento XVI ao responder uma questão sobre a Eucaristia em um encontro que realizou com inúmeras crianças em outubro de 2005: “As coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos sentir os efeitos.

Deus abençoe!

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