O preço de anunciar e viver na Verdade

Santo Agostinho afirma que era necessário que Jesus dissesse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14, 6), porque, quando se conhece o caminho, só falta conhecer a meta (Tratactus in Ioh., 69, 2: CCL 36, 500), e a meta é o Pai. Portanto, para os cristãos, para cada um de nós, o Caminho para o Pai é deixar-nos guiar por Jesus, pela sua palavra de Verdade, e acolher o dom da sua Vida.

Façamos nosso o convite de são Boaventura: “Abre, portanto, os olhos, põe à escuta o ouvido espiritual, abre os teus lábios e dispõe o teu coração, para que tu possas em todas as criaturas ver, ouvir, louvar, amar, venerar, glorificar, honrar o teu Deus (Itinerarium mentis in Deum, 1, 15). É, portanto, que, neste início, começamos pelo fim. Medite o que você leu e depois continue o texto. 

“Sermos verdadeiros exige viver, sem mentiras! Exige humildade diante de Deus! Sem melindre!” | Foto ilustrativa: Pichardo MSP

Estamos num século marcados pela banalização do sexo, do borbulhar das ideologias, do relativismo, dos frutos de falsas filosofias, dos frutos da Escola de Frankfurt, da reação em cadeia do abandono de Deus e de seu devido valor em nossas vidas e na sociedade, este é o século da fragilidade emocional, da anemia espiritual, da tibieza etc. Nos séculos passados e nos tempos atuais, existem pessoas melhores do que eu, os verdadeiros teólogos que explicariam este tema com muita profundidade. Mas, se coube a mim, então, abaixo exporei verdades que nos conduzem à Verdade. 

Antes de perder a cabeça pela Verdade, como aconteceu com São João Batista, é necessário conhecê-la. Ninguém ama sem conhecer. Ninguém poderia dizer bem de alguém sem antes experiênciar ou pelo menos ouvir dizer. Por isso, com grande acerto, ponderou São Tomás de Aquino: “O elemento principal da vida contemplativa é a contemplação da verdade divina, posto que este é o fim da vida humana”(SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.180, a.4). Em consequência, a vida contemplativa deve consistir em amar a Deus, já que a caridade faz arder nosso coração no desejo de ver a face do Criador (Cf. Idem, a.1.).

É neste impulso de amar e de contemplar que muitos foram às missões com alto risco de morte. Aqui existem muitos santos que deram a vida, que se desdobraram, que perderam, literalmente, membros do corpo. É pela Verdade que defendiam. Pelo amor a esta Verdade. O “V” maiúsculo entenda, é por amor a Cristo que não se desesperam diante de reis, imperadores, carrascos, grades de ferro, tempestades, açoites, flechadas, diante do fogo, do afogamento, de masmorras, de leões no grande circo de Roma (Coliseu)…

Estamos falando do que alimentava os mártires. É este amor profundo que eles contemplaram e que fez com que, durante os anos que lhes restavam, o mandato fosse cumprido: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). O compromisso de anunciar Jesus Cristo, “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6), é a tarefa principal da Igreja. Bento XVI, em 22 de maio de 2011, na praça de São Pedro, aponta para a fonte principal do anúncio:

O Novo Testamento pôs fim à invisibilidade do Pai. Deus mostrou o seu rosto, como confirma a resposta de Jesus ao apóstolo Filipe: “Quem viu a Mim, viu o Pai” (Jo 14, 9). O Filho de Deus, com a sua encarnação, morte e ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado para nos doar a liberdade dos filhos de Deus e fez-nos conhecer o rosto de Deus que é amor: Deus pode ser visto, é visível em Cristo. Santa Teresa de Ávila escreve que “não devemos afastar-nos do que constitui todo o nosso bem e o nosso remédio, ou seja, da santíssima humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo” (Castello interiore, 7, 6: Opere complete, Milão 1998, 1001). Por conseguinte, só crendo em Cristo, só permanecendo unidos a Ele, os discípulos, entre os quais estamos nós também, podem continuar a sua acção permanente na história: “Em verdade, em verdade vos digo — diz o Senhor —: aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço” (Jo 14, 12).

Anunciamos a Palavra de Deus! Sem Igreja não há Bíblia

Em suma, para este primeiro momento, você precisa compreender que: a Igreja não anuncia uma ideia, e sim alguém vivo. Nosso Senhor Jesus Cristo está vivo e operante na sua Igreja. Ele é Rei! Somos assistidos pela Igreja triunfante mais a Santíssima Trindade. E ninguém deve se separar de Cristo. O que comunica está sempre em estreito contato com aquele que é comunicado. E aqui na Canção Nova, somos especialistas nisso. É preciso, porém, que antes de comunicá-Lo, se experimente. 

Assim como os discípulos fizeram; eles andaram com Jesus, foram discipulados pelo Mestre dos mestres. No caminho foram curados e viram as curas, exorcizaram demônios e foram libertos das amarras de traumas, feridas da alma etc. Imagine, Simão, que tornou-se São Pedro. O grande processo que ele teve de passar; primeiramente que ele era um pescador. Homem simples, que não sabia muitas línguas como São Paulo. E a que tudo indica, São Lucas era médico, versado na língua grega. Mas se coloque diante de Simão: aquele homem, depois do Pentecostes, como narra Atos dos Apóstolos, anunciou a Verdade e mais de três mil pessoas se converteram.

A fonte era São Pedro? Como ele sendo tão simples teve as palavras corretas? Como poderiam escutá-lo na sua língua materna? Porque eram pessoas de muitas nações que passavam por Jerusalém. São Pedro foi um instrumento de Deus, todos que o escutavam se voltaram para Jesus Cristo. O movimento com o povo, ao ouvi-lo, foi de experimentar o poder do anúncio, dado pela Graça, que movimentou o organismo espiritual de mais de três mil pessoas… Foram iluminados pela Verdade.

A água parada começou a se movimentar, o rio fluiu, os sentidos se ascenderam a Deus Pai, por Jesus Cristo, na eficácia do Espírito Santo. Os cegos (espirituais) passaram a enxergar a Verdade! Tudo porque um homem simples, foi chamado para anunciar. S. Pedro poderia, simplesmente, ter desistido; mas, seguiu-O. No cenáculo, com Maria, a Mãe de Jesus (Atos dos Apóstolos, 2) permaneceram em oração.

Veja só! Quem anuncia nunca está longe da palavra que anuncia. E, para São Pedro, Jesus era seu Senhor, KYRIOS em grego. O senhorio, o poder de Deus, era experimentado na sua Igreja e através dela. Por isso, a Igreja é a guardiã do depósito da Fé. Quis Deus entregar o poder das chaves (ligar e desligar) a Santa Madre Igreja, ao Papa. Logo, o que você anuncia, tem também o peso da Igreja de mais de 2000 anos, o sangue de mártires, o suor de cristãos, etc. Não se pode esquecer a história, ela é a mestra da vida. Assim nos disse Cícero (De Oratore, II, 36).

Essa é uma grande lição! A Igreja é a guardiã do depósito da Fé. Padre Paulo Ricardo, em 10 de agosto de 2010, num dos “Escola da Fé”, da Canção Nova, com Professor Felipe Aquino, respondeu com firmeza à acusação de um protestante, que a Bíblia que temos nas nossas casas, que carregamos nas mãos; existe, graças aos Bispos da Igreja Católica, que ela não “caiu do céu de paraquedas com zíper e tudo. Hoje, temos um volume bonitinho. Antes era uma biblioteca que ninguém conseguia ter em casa, porque precisava ser copiada palavra por palavra […]. A Igreja sobreviveu 1500 anos com a Tradição”. Depois, sim, com a imprensa, em (1439/1440), que conseguiram fazer impressões rápidas da Bíblia. Porém, isso não nos dá poder de anunciar do jeito que pensamos melhor, segundo nossa própria interpretação. Isso está errado! 

De fato, a Igreja nasce da Palavra de Deus, pois nasce da Pessoa de Cristo, que é seu Noivo e Salvador. Mas uma coisa é a pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo encarnado do qual procede toda salvação; outra é o cânon dos livros sagrados como temos na Bíblia. Este é posterior à Igreja e dela depende sua autenticidade, como professava Santo Agostinho: Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas, “Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja católica” (Contra Epistulam Manichaei quam vocant fundamenti, V, 6). Sem Igreja não há Bíblia! 

A Bíblia inegavelmente é um instrumento preciosíssimo pois, por meio dela, a “Igreja encontra continuamente o seu alimento e a sua força” (Catecismo da Igreja Católica, § 104). O que seria de nós sem a Bíblia? Todavia, não se pode perder de vista que a “fé cristã não é uma ‘religião do Livro’”, “mas é a religião da ‘Palavra’ de Deus, ‘não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo’” (Catecismo da Igreja Católica, § 108), o qual nos legou a Igreja como coluna e sustentáculo da verdade (1Tm 3, 15). Daí que o Magistério venere igualmente a Tradição e as Sagradas Escrituras, porque não tira só desta última “a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas”, uma vez que ambas derivam “da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim” (Catecismo da Igreja Católica, § 80).

O PREÇO DO ANÚNCIO: SER DA VERDADE TEM CONSEQUÊNCIAS

 Naquele tempo, Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher de seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava (Mc. 6,17-29).

Diante da verdade, existe uma escolha a ser feita: ou se aceita ou não. A verdade nos tira do escuro, nos ilumina! Uma vez que você escolher viver a verdade, ela te convenceu a vivê-la. Jesus disse: “Eu sou a Verdade” (Jo. 14,6). O Antigo Testamento atesta: Deus é fonte de toda verdade (Pr. 8,7; 2Rs. 7,28). Sua Palavra é a verdade. Deus é “veraz” (Rm. 3,4). Em Jesus Cristo, a verdade de Deus se manifestou plenamente. “Cheio de graça e verdade” (Jo. 1,14). São Paulo disse a S. Timóteo disse que “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Deus quer a salvação de todos pelo conhecimento da verdade. O nosso Catecismo afirma com todas as letras: “A salvação está na verdade” (Catecismo § 851).

Contudo, nós podemos ser como Herodes. Sermos fascinados por escutar a Verdade, assim como ele ficava fascinado quando ouvia São João Batista; ainda sim não quer pagar o preço de viver a verdade! Ele estava preocupado com a estética e não com a ética! Estava sim preocupado em agradar as pessoas e a não ficar com uma má imagem. De forma que, sob o efeito do álcool e da sedução de Salomé, ele promete metade do Reino. Louco! Quantos hoje estão sob o efeito do álcool, das ideologias, do fascínio por pessoas… Tão cegos! E guiam outros cegos e ambos cairão no mesmo buraco da mentira! A verdade só liberta se ela for vivida! Do contrário, seremos hipócritas! Esta é uma grande conversão que temos que passar. Sermos verdadeiros exige viver, sem mentiras! Exige humildade diante de Deus!  Sem melindre! 

A partir deste ponto, poderíamos dissecar a verdade com argumentos filosóficos e teológicos… Até demonstramos as consequências das guinadas antropológicas, a transmissão de uma ideologia (vestido de ideias), o que são as heresias e ideologias? Poderíamos abrir inúmeras janelas a partir destes pequenos parágrafos, de fato, o assunto é extenso. Mas nos deteremos no anúncio. Agora que você já compreendeu que a verdade é para ser vivida, então, como proceder?

A VERDADE NÃO PRECISA SER IMPOSTA. IMPÕE-SE SOZINHA.

No site do Padre Paulo, eu li um texto uma vez e quero trazer, para nos ajudar a compreender a questão do anúncio. Acompanhe abaixo: “A batalha pela verdade – Tradução: Equipe Christo Nihil Præponere – 4.Nov.2022”. 

Não é um tema simples. Em tempos obscuros como os que vivemos, onde é difícil distinguir contornos, onde tudo é confuso e as referências se tornam opacas atrás de névoas cada vez mais densas, às vezes, nos perguntamos como defender e pregar a verdade, dever a que somos chamados porque assim o exigiu o Senhor em seu Evangelho.

Vale a pena, por exemplo, meter-se em discussões com inimigos da verdade através de meios de comunicação ou de redes sociais? Creio que são questões prudenciais, e cada qual saberá o que convém fazer em cada caso concreto.

E porque se trata de questões prudenciais, parece-me que já não funcionam as receitas vintage que consistiam em instigar todo o mundo a se envolver na “batalha pela verdade”, entendendo-se por tal fazer o maior alvoroço possível. É a ideia, por exemplo, de que a verdade é por natureza combativa e que, necessariamente, está em contínua contenda contra o erro.

Há uma brevíssima carta que Dionísio Areopagita — o tão venerado e citado mestre de Santo Tomás —, escreve ao sacerdote Sópatro, na qual lhe puxa a orelha porque, aparentemente, o padreco não parava de polemizar com os pagãos, na tentativa de mostrar-lhes o erro em que estavam e a verdade da fé cristã. Dionísio é claro: [Sópatro] deve abandonar esse costume de impor-se aos outros em nome da verdade.

Quer dizer que o Areopagita era um “progressista” e pensava que a caridade vem primeiro e que é melhor não brigar, por amor à paz? Não é esse o seu argumento. O que ele explica é que a disputa não implica necessariamente que o outro possa encontrar a verdade, quer dizer, enquanto gastamos energia para mostrar ao outro seu erro, a perdemos para fazer o que devemos por natureza: mostrar a verdade, e não o erro. E muitas vezes não se conseguirá senão o efeito contrário, pois a refutação do erro do outro pode provocar nele uma atitude refratária à verdade, considerada uma imposição externa, e não o resultado de um encontro pessoal.

E Dionísio vai ainda mais longe: “Se algo não é vermelho”, ele diz, “tampouco é necessariamente branco, e se algo não é cavalo, tampouco é forçosamente homem”, quer dizer, mesmo que eu seja capaz de mostrar o erro do outro, isso não significa que eu esteja na verdade, que é justamente o que importa. Na opinião de Dionísio, a coisa não funciona assim.

A conclusão do Areopagita é que aquilo a que está chamado o cristão não é impor a verdade através da disputa, mas ser reflexo da Verdade, “fazê-la brilhar” para os demais, transmitindo-lhes essa luz que ele mesmo recebeu. Diria até que é uma atitude passiva, como a do Sol e da Lua, que se limitam a estar aí e iluminar. Não se transmite a verdade mostrando-se o erro, mas deixando-a iluminar.

A verdade não precisa ser imposta. Impõe-se sozinha. Em todo o caso, precisa de homens que a reflitam.

Epístola VI
A Sópatro, sacerdote

Não penses ser uma vitória, venerável Sópatro (cf. At 20,4; Sosípatro, em Rm 16,21), o afrontares uma religião ou doutrina que te não pareça boa (cf. Tt 3,9); de fato, mesmo que sabiamente a critiques, nem por isso estão as coisas a favor de Sópatro [i]. Com efeito, tanto a ti quanto a outros, entre muitos erros e aparências, pode ocultar-se algo de verdadeiro [ii]. Ora, que uma coisa não seja vermelha, nem por isso já é branca, e que algo não seja cavalo, tampouco é necessariamente homem.

Assim pois hás de agir, se me deres ouvidos: deixarás de falar contra os outros, mas dirás de tal modo a verdade, que será irreprochável quanto disseres (cf. Lc 21,14s) [iii].

  • Para o texto grego, G. Heil–A. M Ritter, Corpus Dionysiacum, II 164 (Berlim, De Gruyter, 2012), em “Patristische Texte und Studien” (1963ss), vol. 67, disponível aqui. — Para o texto latino, MG 3, 1078AB. Cf. B. Cordier, SJ, Sancti Dionysii Areopagitæ opera omnia quæ extant, 274s (Bréscia, 1854), reimpressão, do mesmo autor, de Opera S. Dionysii Areopagitæ cum schollis S. Maximi et paraphrasi Pachymeræe, II 85b (Antuérpia, 1634, 2 vols.), citado nas notas abaixo. — Há tradução para o espanhol, elegante mas nem sempre literal, de Teodoro H. Martín (Madrid, BAC, 2007), 259.

Notas

  1. Cf. Cordier, II 85: “Note-se o prudentíssimo conselho de Dionísio aos que tratam com hereges, com os quais não se há de discutir contenciosamente, por ser isto pouco útil, segundo aquilo: ‘Foge… de disputas e de contestações sobre a Lei, porque são inúteis e vãs’ (Tt 3,9). É contudo proveitoso propor e confirmar a verdade, que, uma vez conhecida, dissipa os erros como trevas na presença da luz”.
  2. Cf. Id., II 86a: “Escólios de São Máximo. — Pode acontecer de alguém, enquanto argui entre muitas uma flagrante mentira, acabar se afastando da verdade… pois a verdade, única mas misteriosa por causa da inteligência mística dos dogmas, reclama ainda muita reflexão com a graça de Deus. Foi o caso de Nestório, ao desmantelar as doutrinas de Ário e de Apolinário, e é o de outros que, como ele, se levantaram contra outras heresias igualmente absurdas. Mas que ninguém se engane com isso, pensando que [Dionísio] condena o estudo dos Padres com o fim de refutar os hereges. Não é isto o que diz, como se as opiniões dos ímpios não devessem ser rejeitadas e desmentidas (afinal, de que outro modo responderia ele, no livro Sobre os nomes divinos, às doutrinas de Elimas? [cf. At 13,8]), senão que o mais importante não é falar contra os outros, mas expor a verdade de forma erudita e exata, reservando-se a refutação para a réplica dos ímpios. Em outras palavras, importa menos refutar a opinião dos outros que fundamentar a própria”.
  3. Ideias semelhantes aparecem logo no início da Epístola VII, n. 1: “Não creio ter investido <alguma vez> contra pagãos ou outros, por julgar suficiente a uma pessoa honesta poder reconhecer em si mesma a verdade e proferi-la como realmente é. […] Eis por que é inútil a quem demonstra a verdade altercar com uns e com outros: todo o mundo diz ter moedas autênticas (talvez até tenha alguma imitação falsa), e se tu o desmentires, virá outro e depois outro defender a mesma causa. Se, no entanto, a verdade vier à luz e resistir irrefragável a todo o restante, virá abaixo o que quer que não lhe seja em tudo conforme, dada a insuperável firmeza do que é absolutamente verdadeiro. Tendo disto, pois, perfeita consciência, pelo menos a meu ver, não despendi o menor esforço em falar contra pagãos ou outros, senão que me basta, se Deus no conceder, julgar primeiro retamente da verdade, para só então falar como convém” (Corpus Dionysiacum, II 165,3–166,6).

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