PRÁTICAS DE PIEDADE

Como manter viva a chama da vida de oração?

Nosso maior exemplo de vivência das práticas de piedade é Jesus Cristo, com a sua vida de oração

Nós podemos manter viva a chama da vida de oração por meio da vivência sacramental e da leitura orante da Palavra de Deus, o que deve nos levar a um testemunho diário, mas também por meio de outras práticas de piedade. Segundo R. Gerardi, no Dicionário Teológico Enciclopédico (2003, p. 591), as práticas de piedade compreendem as orações e devoções.

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Sendo assim, nosso maior exemplo de vivência das práticas de piedade é Jesus Cristo, com a Sua vida de oração. Basta observarmos, nas Sagradas Escrituras, como Ele orava. Em Lc 11,1 Jesus ensinou a oração do Pai-Nosso aos Seus discípulos. Em Mt 11, 5-11, aconselha a oração insistente dizendo que quem pede, recebe; quem procura, encontra; e para quem bate, a porta será aberta. Em Mt 14,1-23 Jesus, depois da notícia da morte de João Batista, queria orar, mas teve compaixão da multidão; curou os doentes; multiplicou os pães para os discípulos alimentarem a multidão, saciando-os; mandou os discípulos irem na frente e dispersou a multidão; e, após tudo isso, “subiu à montanha para orar a sós” (Mt 14, 23). Em Lc 6,12-16 Jesus passa a noite em oração a Deus antes de escolher os 12 apóstolos. Em Mt 26,36-46 Jesus foi ao Getsêmani com Pedro, Tiago e João (filhos de Zebedeu) e, com a alma triste e angustiada, em atitude de vigilância, com o rosto por terra, orou ao Pai e exortou os apóstolos que estavam com Ele a vigiar e orar para não caírem em tentação, sendo, logo depois, preso. Em 1Jo 5,14-15, Jesus nos ensina a orar conforme a vontade de Deus para sermos ouvidos. Em Hb 5,7, destaca-se o exemplo de Jesus que se dirigiu ao Pai com preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas. E, em Lc 23,46, vê-se que Jesus morreu orando, quando, na cruz, entregou-se nas mãos do Pai.

“Em momentos de decisões importantes e de desafios maiores, nós devemos intensificar as nossas orações.” | Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Jesus orava a todo instante, tanto nos momentos de calmaria, como para tomar decisões, como em momentos de angústia e tristeza. Jesus disse que não precisava multiplicar as palavras, quando ensinou a oração do Pai-Nosso, mas também passou a noite em vigília, em oração, num momento de suprema angústia. Jesus demonstrou práticas curtíssimas de súplica, mas também orações intensas, prolongadas no tempo, como para escolher os apóstolos. E o que se dirá dos 40 dias que passou no deserto, em jejum e oração (Mt 4,1-11) antes da sua entrada em Jerusalém para sofrer a Paixão e Morte, e por fim ressuscitar, o que para nós hoje corresponde ao tempo quaresmal!

É importante destacar que basta ter fé do tamanho de um grão de mostarda (Mt 17,20) para, com uma pequena oração, mover montanhas. Mas, em momentos de decisões importantes e de desafios maiores, nós devemos intensificar as nossas orações.

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Além da oração, a devoção também é uma prática de piedade importante. Segundo J. Castellano, no Dicionário Teológico Enciclopédico (2003, p. 190-191), a devoção, ao longo da história, assumiu diversos significados, desde a concepção de uma atitude de consagração, oblação e sacrifício oferecidos em homenagem a uma divindade, como um serviço e culto a Deus; como parte ou um ato do culto divino ou ainda uma atitude de oblação, de respeito e atenção no culto divino, noção que perdura até hoje nas liturgias que preservam ainda a linguagem do rito romano; como um conjunto de exercícios virtuosos; como atos fervorosos de caridade; como o afeto decorrente da meditação dos mistérios de Deus; como sentimentos de compaixão, lágrimas, entusiasmos e outra experiências; como uma espiritualidade; e também como atitudes particulares de atenção e veneração aos mistérios de Jesus, a Virgem Maria e aos santos por meio de expressões cultuais.

Ainda segundo aquele autor, São Tomás de Aquino, concebendo a devoção como um movimento da graça de Deus, conceitua-a como “um ato de vontade que tem como fim a pronta entrega da pessoa ao serviço de Deus”. E traz, como efeito da devoção, a alegria espiritual. Destaca ainda que é preciso ter um justo equilíbrio em relação à devoção, na medida em que nem sempre será sensível, podendo a pessoa viver uma aridez espiritual sem sentir nada, mas, mesmo assim, deve permanecer na “dedicação convicta e pronta com a qual se deve sempre servir ao Senhor”. (J. CASTELLANO, 2003, p. 191).

Sentimento religioso

Noutro sentido, a devoção também pode ser entendida como um “sentimento religioso para com as pessoas divinas ou para com os mistérios de Cristo, para com a Virgem Maria em seus mistérios ou em suas várias invocações, para com os santos, as pessoas ou os lugares sagrados. Essa atitude se concretiza em atos de devoção que podem ser inseridos no âmbito da liturgia ou, de forma mais geral, realizados mediante atos da piedade popular e dos piedosos ou sagrados exercícios” (J. CASTELLANO, 2003, p. 191).

R. Gerardi, no Dicionário Teológico Enciclopédico (2003, p. 591), traz o sentido dos “exercícios piedosos” que consistem em “expressões de oração comunitária ou individual, realizados na piedade da Idade Média e da época Moderna para cultivar o sentido da fé e da devoção para com o Senhor, a Virgem Maria e os santos, nas épocas em que o povo permanecia distante das fontes da Bíblia e da liturgia. Dentre os exercícios piedosos, pode-se incluir a Via Crucis, a oração do Angelus Domini, o santo rosário e as ladainhas de Nossa Senhora”. Posso incluir nos exercícios piedosos, o Terço da Misericórdia conforme Diário de Santa Faustina, nos ns. 475-476 e outras fórmulas de oração.

O Concílio Vaticano II, na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrado Liturgia, no n. 13, recomenda os exercícios espirituais e as práticas de piedade, desde que de acordo com as leis, normas, costumes, livros e a sagrada Liturgia da Igreja.

E, na Quaresma, é de suma importância falar sobre a intensificação das orações, conforme orientado na Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, no item 109. Veja as disposições:

“109. Ponham-se em maior realce, tanto na Liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Batismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal”

Veja que a Igreja se recomenda a vida de oração insistente, inclusive por meio de práticas devocionais desenvolvidas ao longo da história da Igreja e dos exercícios piedosos. Unindo tais práticas de piedade à vida sacramental, à leitura orante da Palavra e ao testemunho de vida, a chama da vida de oração se mantém acesa e encontra um sentido na vida cotidiana, eis que decorre da consciência de que é até isso é graça e dom de Deus, que deseja sempre estar em comunhão conosco.

 

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