LUGAR DE ENCONTRO

Oração ao ritmo da vida

Era o início de um dia comum. Morava na missão Canção Nova em Aracaju, Sergipe. Estava dentro do carro com minhas irmãs de casa, indo para o trabalho, com uma agenda de gravações intensa para aquele dia que, inclusive, estava chuvoso, contrariando os dias de sol no nordeste brasileiro.

Confesso que estava ainda meio sonolenta quando, de repente, fui despertada com um jato de água vindo pela janela, lançado pelo carro que fazia a ultrapassagem. Mas o pior de tudo é que não era “qualquer água” era água do esgoto; e eu não preciso dizer o quanto aquilo era podre, não é!?

Todas nós fomos atingidas, uma mais e outras menos. E, agora, o que fazer? Chegando na casa de missão percebemos que não dava para trabalhar o dia inteiro naquela “podridão”. O melhor a fazer seria voltar para casa para tomar banho e trocar de roupa. Logo ouvi o Senhor falar baixinho ao meu coração: “mais do que essa podridão do corpo, desejo que as almas limpem a podridão do coração”.

Até hoje não sabemos o que aconteceu. O jato de água, despertou o meu corpo, mas essa voz despertou a minha alma adormecida pelo pecado. Naquele exato momento, decidi não voltar para casa com as meninas e seguir meus trabalhos programados. Eu precisava fazer toda leitura que o Senhor queria me falar com esse fato. Aqui, na Canção Nova, procuramos confessar ao menos uma vez por mês. E já fazia quase três meses que não buscava a confissão, com a desculpa de que eu não tinha tempo. 

 “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Busquei a confissão com o coração arrependido e saí desejosa de levar para minha vida o bom odor de Cristo. 

Você pode se perguntar: “Por que Deus não fala comigo?”. É preciso estar atento, pois Ele sempre fala, não somente no seu momento de adoração ou estudo da palavra, mas também nos fatos e pequenos acontecimentos da vida. O problema pode estar na falta de intimidade com o Senhor ou você pode esperar que Ele fale de forma grandiosa, extraordinária, enquanto Ele está falando de forma simples. 

:: Foto: Ass. Comunicação – Santuário do Pai das Misericórdias

O Senhor nunca se cansa de bater à porta do nosso coração, mas Ele é educado, só entra se você abrir. É preciso estar atento a essa voz diante de tantos barulhos, da inversão de valores, da secularização, do relativismo que aponta uma vida sem Deus. 

O nosso coração deve estar preparado para ser visitado por Deus a qualquer momento. Talvez, Ele já tenha te visitado diversas vezes, mas você ainda não percebeu. Costumo dizer que é preciso estar atento à voz d’Ele porque costuma falar “baixinho” e o barulho pode nos impedir de ouvi-lo.

Diz o Catecismo da igreja católica: “O coração é o lugar da decisão, lugar da verdade, onde escolhemos a vida ou a morte. Nosso coração é o lugar do encontro com Deus, lugar da aliança. É o Espírito que impulsiona esse encontro íntimo, entre Criador e criatura” (CIC § 2563). 

Vale lembrar que se o coração está longe de Deus, toda expressão de oração é vã, pois ela passa a ser mecânica, foge da sua essência, que é buscar sem cessar a presença de Deus. É preciso viver a oração ao ritmo da vida, como vivemos aqui na Canção Nova. Tudo o que fazemos, convidamos o Senhor. Ele deve ser o primeiro companheiro de missão no nosso dia a dia. Trabalhamos em  um contínuo diálogo com Aquele com quem vivemos e para quem trabalhamos.

Esse diálogo é oração; é oração ao ritmo da vida que se aplica a cada um de nós, em cada realidade. Por exemplo, se estou lavando a louça, varrendo a casa, passando roupa ou em uma daquelas reuniões de trabalho ou de família que está “pegando fogo”, ali, interiormente, estou falando com Deus, pedindo a Ele têmpera, força, amor e sabedoria para lidar com as situações, ou, ainda tomando banho depois de um dia difícil, oro em línguas e ela vai me refazendo ou até mesmo me leva às lágrimas guardadas durante o dia ou a semana, ali eu louvo, choro, suplico, entrego, perdoo, lavo minha alma diante de Deus.

Dom Bosco, o patrono da juventude, tinha muitas atividades. Muitos da sua época perguntavam quando é que Dom Bosco rezava, pois nunca parava. Respondiam: “Quando é que Dom Bosco não reza?” .  

Não deixe a podridão do pecado tomar conta do seu coração. O Pai das Misericórdias quer amparar os fracos e receber nos braços paternos o filho pródigo que volta. Ele está te esperando ansiosamente no confessionário, não O deixe esperando. 

Deus abençoe você!

Edcleide Campos
Comunidade Canção Nova

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