Ainda estamos no Tempo Pascal — que corresponde aos cinquenta dias entre o Primeiro Domingo de Páscoa e o Domingo Pentecostes —, dentro desse tempo, também celebramos a Ascensão de Jesus Cristo, que significa a sua subida para junto do Pai, como descrito em Lucas 24, 50-52:
“Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. E enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi elevado ao céu. Eles se prostraram, adorando-o.”
O professor Giovanni Immarrone, da Pontifícia Universidade Lateranense, no Dicionário Teológico Enciclopédico, afirma que a Ascensão de Cristo ao céu significa “a exaltação da humanidade de Jesus Cristo à glória da vida divina” (p. 51). Esse autor sustenta que esse mistério, mesmo ligado à Ressurreição e ao derramamento do Espírito Santo em Pentecostes, ele tem um sentido próprio: Cristo, feito homem na Encarnação, depois da Ascensão, assume sua vida divina, só que de uma nova forma: Ele atrai todos os homens a Ele (Jo 12,32); está na presença de Deus intercedendo pela humanidade (Hb 9,24); exerce, em caráter permanente, o seu sacerdócio por meio do seu poder ilimitado para salvar os que d’Ele se aproximam (Hb 7,25); é autor principal do culto em honra ao Pai, no céu (Ap 4, 6-11); está corporalmente sentado à direita do Pai, com a sua carne glorificada, com soberania, glória e realeza para ser servido por todas as nações, inaugurando um Reino que não terá fim. Ele que preexiste por todos os tempos como Filho de Deus, consubstancial ao Pai, após a Ascensão, permanece vivo, sentado à direita do Pai, com a sua carne glorificada.
O Catecismo da Igreja Católica explica que existe uma diferença de manifestação entre a glória do Cristo Ressuscitado e a do Cristo elevado ao céu. Explica:
“Durante os quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com seus discípulos e instruí-los sobre o Reino, sua glória permanece ainda velada sob os traços de uma humanidade comum” (CaIC, 659). Essa reflexão transparece na fala de Jesus para Madalena quando diz: “Não me segures! Eu ainda não subi para junto do Pai…” (Jo 20, 17). Já a Ascensão, portanto, ela marca a transição entre o caráter velado da glória do ressuscitado e a entrada irreversível da humanidade de Cristo na glória divina.
Cristo abriu as portas do céu para nós porque pelas nossas próprias forças naturais não conseguiremos acessar o céu e alcançar a vida e a felicidade em Deus. Mas Cristo subiu ao céu, não para afastar-se de nós, e sim para nos garantir a imortalidade (CaIC 661).
“Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, nos precede no reino glorioso do Pai para que nós, membros do seu corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com ele. Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo” (CaIC, 666 e 667).
Uma vez que está junto do Pai, Jesus não está longe, mas perto de nós. Agora, já não Se encontra num lugar concreto no mundo, como antes da ‘ascensão’; no seu poder, que supera todo e qualquer espaço, está presente junto de todos, podendo ser invocado por todos, através da história inteira, e em todos os lugares.” (p. 252)
Cristo, no monte do Pai, nos vê e nos ouve, e podemos sempre invocá-Lo para nos socorrer e nos ajudar a chegar até lá.
E podemos dizer que Cristo, depois da Ascensão, está presente na Igreja, o que se pode chamar de “vinda intermediária (adventos medius)” conforme termo usado por São Bernardo de Claraval (apud Joseph Ratzinger, p. 260), eis que vem por meio da sua Palavra, na oração da Igreja, nos pobres, nos doentes, nos presos, nos sacramentos, especialmente na Eucaristia, cuja presença é única. A Eucaristia está acima de todos os sacramentos, pois nela estão contidos o Corpo, o Sangue, a Alma e Divindade do nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, o Cristo todo (CaIC 1373 a 1374).
Estejamos atentos para vivermos este tempo da Ascensão do Senhor, cultivando em nós a fé na ressurreição e na vida eterna junto de Deus, o que pode ser alcançado pela ação do Espírito Santo em nós e pela vivência da Palavra, da caridade e dos sacramentos.
REFERÊNCIAS:
BÍBLIA. Tradução Oficial da CNBB. Brasília: CNBB, 2020.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA (CaIC). São Paulo: Loyola. Brasília: CNBB, 2000.
IMARRONE, Giovanni. Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003.
RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. Tradução de Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta, 2020.