RESOLUÇÃO

O peso da culpa e do ressentimento em nossos relacionamentos

Perdoar não é esquecer, mas sim dar um novo sentido para aquilo que vivemos neste processo de encarar as situações e tomar a resolução de um novo tempo.

Os relacionamentos trazem consigo, essencialmente e de forma muito importante e impactante, a história de duas pessoas que portam uma bagagem particular, e essa pode incluir traumas, marcas, alegrias, tristezas e até mesmo ressentimentos e culpas que podem impactar e cair em cheio sobre a vida do casal, seja ele de namorados, casados ou ainda nas amizades.

Quantas vezes ouvimos nosso par falando de uma certa forma, com uma tonalidade que nos parece familiar e, automaticamente, aquela fala desperta em nós uma raiva imensa? Quantas vezes um jeito de olhar ou falar de um assunto difícil nos faz lembrar de uma mágoa de outras pessoas que refletimos no nosso hoje?

“É “entre” duas pessoas que a coisa se resolve, havendo o compromisso efetivo de resolução. Sem isso, nada dará certo.” | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Quando nos concentramos apenas em determinados comportamentos negativos, criamos uma cadeia de correlações e, quase de modo automático, excluímos ou começamos anular o outro na relação. Tudo começa a ficar complicado: ouvir, conviver, estar na mesma casa, olhar. Essas situações podem ou não ser causadas pela relação em si ou por outras coisas vividas no passado com outras pessoas, ou com aquela pessoa, mas ambas podem estar recheadas de ressentimentos e culpas.

Entre mágoas e ressentimentos, é muito importante evitar a premeditação de avaliações baseadas em possíveis distorções dos fatos, ou seja, de uma visão não realista das coisas, como por exemplo: “se ela disse isso, logo não gosta de mim”; “se ele não respondeu (da forma como desejo), não tem interesse por mim”. Nem sempre nossa impressão é verdadeira, e essas distorções podem estar nos fazendo ver e pensar de forma distorcida.

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Observamos que o diálogo tem sido muito falho nos relacionamentos de forma geral, e ele é essencial para resolvermos aquilo que não vai bem. Quanto mais nos fecharmos nas situações mal resolvidas, tudo ficará pior.

Quando me preparava para escrever este texto, encontrei uma citação do Padre Léo no livro “A cura dos ressentimentos”, e a achei bem pertinente: “O diálogo só é curador quando ocorre num clima de amizade fraterna, com o objetivo de solucionar o problema; é curador se ajuda quem fala e quem escuta. Ou ajuda a curar os dois envolvidos no processo ou não é a cura do ressentimento. Por isso, o diálogo curador exige a coragem de ouvir. É preciso colocar-se no lugar do outro, tentando enxergar o problema a partir do ponto de vista dele, tentando enxergar o problema a partir do ponto de vista dele, saber como ele está vendo e sentindo a situação”.

Quanto da culpa e do ressentimento têm sido forma de manutenção daquilo que não queremos resolver ou temos dificuldade de encarar? Qualquer adversidade em nossa vida só poderá ser resolvida quando enfrentada e, assim, potencialmente curada. É “entre” duas pessoas que a coisa se resolve, havendo o compromisso efetivo de resolução. Sem isso, nada dará certo.

Relacionamentos exigem concessões e revisões, e tudo isso pode ser conseguido se ambos desejarem lutar por isso, sendo atentos às necessidades e pressões um do outro. Haverá sim a necessidade de cultivar paciência e tolerância, pois nem tudo sairá do modo que desejamos sempre.

Tal como uma planta, um relacionamento exige cuidados. Apenas assim conseguiremos viver com mais união e parceria no casamento. Unir duas personalidades não é simples, mas é possível quando se propõem a viver isso.

O cultivo dos ressentimentos e das culpas não resolve nenhuma situação, e até mesmo cria situações mais complexas. Reviver mágoas antigas num novo relacionamento é o caminho para o fim. Sempre é tempo de rever uma posição e perdoar.

Perdoar não é esquecer, mas sim dar um novo sentido para aquilo que vivemos neste processo de encarar as situações e tomar a resolução de um novo tempo. Quando os ressentimentos tomam um excesso, haverá, certamente, pouco espaço para o amor. Olhar para as falhas do outro deve nos permitir também enxergar nossa possibilidade de falhar.

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