“Mulher, eis o teu filho. Filho, eis a tua mãe!”
Esta pergunta inquieta corações generosos. Somente os que vivem uma experiência de salvação, de sentir o seu interior renovado pelo amor de Deus é que podem responder à altura tal indagação. Antes de qualquer reflexão, deixo-lhe um aviso: este tema pode gerar uma grande conversão. Poderá aproximá-lo de Deus de maneira profunda e até ser a resposta que você esteja procurando há tanto tempo. Então, abra-se ao que Deus tanto deseja: unir-se a você. A Virgem Maria, Mãe das dores, ensinará a você o caminho reto para a verdadeira consolação, ela é o “caminho curto”!
São Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado de Verdadeira Devoção (n.155), aponta, com clareza, que, o simples fato de ser devoto da Santíssima Virgem é um caminho curto para encontrar Jesus Cristo. Avançamos mais, em pouco tempo de submissão e dependência a Maria, do que em anos inteiros de vontade própria e contando apenas com o próprio esforço, pois o homem obediente e submisso a Maria Santíssima cantará vitórias (Prov. 21, 28) assinaladas sobre seus inimigos. Estes hão de querer impedi-lo de avançar, obrigar-lhe a recuar ou derrubá-lo, mas apoiado, auxiliado e guiado por Maria; ele, sem cair, sem recuar, sem mesmo atrasar-se, avançará a passos de gigante em direção a Jesus Cristo, pelo mesmo caminho que, como está escrito (Sl 18,6), Jesus trilhou para vir a nós em largos passos e em pouco tempo. Por isso São Bernardo: “Tu es via compendiosa in caelo” (Laudes glor. Virginis) – Cf. Bento XV: “Recta et tanquam compendiaria via ad Iesum per Mariam itur” (Epist. ad R. P. D. Schoepfer. – AAS 1914, p. 515).
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É por isso que aprender a consolar o Coração de Maria é, por lógica do Reino, estar próximo de Deus. Aquele que se aproxima da Rainha, consequentemente, está próximo do Rei. Quem se aproxima de Nossa Senhora já tem a certeza de que está no caminho correto para agradar a Deus. Quem é você para apagar da Bíblia as palavras de Jesus? Lembre-se de que o Arcanjo Gabriel a chamou: “Ave Maria, ‘cheia de graça’ (Kecharitoméne, no grego). A Maria Deus dirige o olhar – “Olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1, 48) – e se faz dependente do humilde ‘sim’ de sua serva”. Quem teria tão grandeza diante de Deus, mesmo sendo uma criatura? E ainda: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35). Por fim, o próprio Jesus, no alto da Cruz, no ápice do sofrimento, lhe disse: “Mulher, eis o teu filho. Filho, eis a tua mãe!” (cf. Jo 19,26-27). Bento XVI nos explica ainda melhor.
Penso que podemos compreender muito bem a atitude e as palavras de Maria; contudo, temos ainda maior dificuldade de entender a resposta de Jesus. Já o apelativo não nos agrada: “Mulher”. Por que motivo Ele não diz: mãe? Na realidade, este título exprime a posição de Maria na história da salvação. Ele remete ao futuro, à hora da crucifixão, em que Jesus lhe dirá: “Mulher, eis o teu filho. Filho, eis a tua mãe!” (cf. Jo 19, 26-27). Por conseguinte, indica antecipadamente a hora em que Ele fará da mulher, sua mãe, a mãe de todos os seus discípulos. Por outro lado, este título evoca a narração da criação de Eva: no meio da criação com todas as suas riquezas, Adão sente-se sozinho como ser humano. Então é criada Eva, em quem ele encontra a companheira que esperava e a quem chama com o título de “mulher”. Assim, no Evangelho de João, Maria representa a nova e definitiva mulher, a companheira do Redentor, a nossa Mãe: aparentemente pouco afetuoso, este apelativo expressa ao contrário a grandeza da sua missão perene. (BENTO XVI, 2006, homilia na solene concelebração eucarística na praça do Santuário de Altötting).
Consolar? Como consolar a Deus? E por que consolar o Coração de Maria?
Na Carta Encíclica “Spe Salvi”, temos a compressão: A palavra latina con-solatio, consolação, exprime isto mesmo de forma muito bela, sugerindo um estar-com na solidão, que então deixa der ser solidão. Mas a capacidade de aceitar o sofrimento por amor do bem, da verdade e da justiça, é também constitutiva da grandeza da humanidade, porque se, em definitiva, o meu bem-estar, a minha incolumidade é mais importante do que a verdade e a justiça, então vigora o domínio do mais forte; então, reinam a violência e a mentira. A verdade e a justiça devem estar acima da minha comodidade e incolumidade física, senão a minha própria vida torna-se uma mentira. E, por fim, também o “sim” ao amor é fonte de sofrimento, porque o amor exige sempre expropriações do meu eu, nas quais me deixo podar e ferir. O amor não pode, de modo algum, existir sem essa renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo, senão torna-se puro egoísmo, anulando-se deste modo a si próprio enquanto tal (cf. n.38).
A ideia da consolação de Deus é, em si, um desafio teológico: Deus sofre? Pode Deus sofrer? Hans Urs von Balthasar diz que “Deus ‘sofre’ conosco e bem mais do que nós; não deixará de sofrer enquanto houver sofrimento no mundo” (Theodramatik IV Das Endspiel, Einsiedeln, 1983, p. 239, apud PINHEIRO TEIXEIRA, João Antônio, Um coração em trespasse na Cruz, Didaskalia, vol. 47, n°1, 2017, p. 158). São Bernardo de Claraval cunhou esta frase maravilhosa: Impassibilis est Deus, sed non incompassibilis [Sermones in Cant., Serm. 26,5: PL 183, 906.] – Deus não pode padecer, mas pode-se compadecer.
Deus não sofre por uma qualquer fraqueza da sua natureza, mas por causa do poder do seu amor (idem, p. 159). É o amor que explica a reparação! “O que oferece o conteúdo teológico e místico-espiritual tanto em relação a Deus como à conversão dos pecadores, as duas dimensões essenciais da “reparação”, é o “amor”, que tem em si uma força purificadora” (FARIAS, José Jacinto. O coração de Maria e a mística da reparação, p. 223). Como explicou Lúcia: “Quanto a mim, parece-me que o que nos purifica é o amor, o fogo do amor Divino, comunicado por Deus às almas” (JESUS, Lúcia. Como vejo a mensagem, p.35).
Quem buscar reparar a Deus é alguém que quer retribuir o amor que recebeu. E aproximando não porque Deus poderia lhe dar algo em troca, de maneira alguma. Quem ama a Deus, desta maneira, simplesmente não ama! O amor termina quando alguém se procura a si mesmo. Por isso que consolar o coração de Deus é uma grande via de conversão. Por que passamos a amá-Lo acima de todas as coisas, principalmente acima de nossas listas imensas de intenções. E como fazer isso de maneira mais perfeita? Por meio de Nossa Senhora!
A aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal, e a confirmação da reparação.
Na aparição de 13 de maio de 1917, a Senhora perguntou aos três pastorinhos: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?”. Lúcia responde em nome dos três: “Sim, queremos”. A Senhora prosseguiu: “Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto”. Irmã Lúcia escreve: “Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus etc.) que abriu, pela primeira vez, as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrava no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nós vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente: “Ó Santíssima Trindade, eu vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu vos amo no Santíssimo Sacramento”. Esta passagem foi assim comentada, numa catequese radiofônica, pelo mariólogo Padre Angelo Mana Tenton: “E por Nossa Senhora que “Deus sai”. É a própria Senhora que faz dom de Deus aos pastorinhos de Fátima, é através dela que Deus chega a eles. Deus era perceptível na forma da luz intensa que promanava das mãos de Maria.
A luz de Deus brilha em Maria como em nenhuma outra criatura, e difunde-se pelo mundo. Escreve São Fulgêncio de Ruspe: “Maria tornou-se janela do céu, porque, através dela, Deus difundiu a sua verdadeira luz ao longo dos séculos. Maria tornou-se escada do céu, porque, através dela, Deus desceu à terra, para que, por meio dela, os homens merecessem subir ao Céu” (Sermo 36. De laudibus Marice ex partu Salvatons, (PL 65, 899).
Como consolar o coração da Virgem das Dores?
Com esta pequena oração, cunhada por Irmã Lúcia, uma das videntes de Nossa Senhora, é possível entender perfeitamente o que devemos fazer:
Maria, minha mãe
é verdade que já estás no Céu
coroada de glória,
mas o teu coração maternal
não deixa de sofrer por cada homem e mulher
que ainda estão longe de Jesus.
Cada vez que me uno a Ti em oração,
cada vez que imito as Tuas virtudes,
praticando sempre o bem,
estou a devolver para o Alto
o amor que nos é dado.
Cada gesto, cada palavra de boa vontade
é uma flor que ofereço ao Teu coração
para Te consolar e alegrar,
sabendo que as Tuas graças se espalharão
onde Tu sabes que são mais necessárias.
Que assim seja.
Venerável Irmã Lúcia de Jesus | 1907 – 2005
Cartas da Irmã Lúcia. Pe. António Maria Martins SJ,
Termino dizendo a você: se realmente deseja viver em Deus, habitar no coração d’Ele, ainda nesta terra – que passará –, aproxime-se de Nossa Senhora! Esteja cada dia mais buscando a pureza da mente, a conversão! Ela o ajudará e muito a alcançar a santidade que Deus lhe reserva! Não perca mais tempo! A sua união a Deus, o crescer na santidade, o aperfeiçoar-se nas virtudes, pacificar os afetos do seu coração… Colocar Deus em primeiro lugar! Este é o plano! Só seguem por este caminho, os generosos. Console a Virgem das Dores e, nas suas dores, Ela será a sua alegria!