Ao aprofundar sobre esse tema, pode-se recordar o ensinamento das Sagradas Escrituras contidas nos livros do Gênesis e do Apocalipse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (cf. Gn 3,15); “Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão lutou, juntamente com os seus anjos, mas foi derrotado; e eles perderam seu lugar no céu. Assim foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, que é chamado Diabo e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Ele foi expulso da terra e os seus anjos foram expulsos com ele.
Quando viu que tinha sido expulso para a terra, o Dragão começou a perseguir a Mulher que tinha dado à luz o menino.
Mas a Mulher recebeu as duas asas da grande águia e voou para o deserto, para o lugar onde é alimentada, por um tempo, dois tempos e meio tempo, bem longe da Serpente.
Cheio de raiva por causa da Mulher, o Dragão começou a combater o resto dos filhos dela, os que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus” (cf. Ap 12, 7-9.13-14.17).
É fato! Estamos em guerra! Entramos numa verdadeira batalha espiritual, e pode-se dizer que o pano de fundo desta batalha é a inimizade entre a Mulher e Satanás, entre a descendência de Maria e os demônios. E por se tratar de uma batalha espiritual, é preciso lutar com armas espirituais: “Pois a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados, as potestades, os dominadores deste mundo tenebroso, os espíritos malignos espalhados pelo espaço” (cf. Ef 6,12).
Segundo São Domingos de Gusmão, a melhor artilharia para combater o demônio e seus seguidores é o Santo Rosário. Apoiados na sabedoria deste santo, na Doutrina da Igreja Católica e nos textos bíblicos, percebemos que a luta espiritual é real. E uma das armas mais eficazes contra o Demônio é o Rosário da Virgem Maria. Para atestar esta verdade, recordamos que, desde os primórdios, o Rosário tornou-se expressão de força e de combate, sendo invocado até nas ações políticas da Igreja Católica. Com o Papa Pio V, por exemplo, o Rosário propagou-se com características de arma no combate espiritual contra os inimigos da Igreja. Fato que ocorre de maneira especial quando se conquista a vitória contra os Turcos na Batalha de Lepanto em 1561. Na época, a Virgem do Rosário tornou-se estandarte da missão católica, o Rosário símbolo católico e, “nas imagens, a Virgem era representada como soberana imperatriz do mundo, segurando o Menino Jesus, desnudo com sua mão esquerda e o colar de contas na direita”. (CORDEIRO, 2017).
Leia também:
:: Por que o sábado é dedicado a Virgem Maria?
:: Eu posso mesmo contar com a intercessão da Virgem Maria?
:: A tradição de consagrar-se a Virgem Maria?
Na aparição de Fátima, a Virgem Maria aconselha que rezemos o Santo Rosário. Nesta aparição, ela quis apresentar-se sob o título de Nossa Senhora do Rosário. Na sexta aparição, em 13 de outubro de 1917, assim se expressa aos três pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta: “Sou a Virgem do Rosário. […] Continuem sempre a rezar o Rosário todos os dias” (DE FIORES; MEO, 1995).
O Rosário tornou-se, então, este condão que nos une a Deus por intercessão da Virgem Maria e, cada vez mais, tem encontrado grande força de expressão na piedade popular. Muitos fiéis têm alcançado inúmeras graças ao se aproximarem da Virgem Maria para rogar sua intercessão para as mais diversas realidades. Mas quanto mais aprofundarmos sobre a essência do Rosário, mais eficácia terá em nossa vida, inclusive, na luta contra o Mal. O real motivo da sua eficácia consiste no fato de que o Rosário apresenta uma característica mariana, mas, em sua essência, é uma oração profundamente cristocêntrica. Assim o apresenta o Papa São João Paulo II (2002) quando afirma que Cristo ocupa o centro desta devoção – os atos da vida terrestre de Jesus equivalem a seus mistérios.
Na recitação do Rosário, somos conduzidos pela Virgem Maria a olharmos para Cristo e contemplarmos os mistérios salvíficos da Sua vida, desde a encarnação até Sua morte e ressurreição. Desta forma, recordamos as obras realizadas por Deus na história da salvação. Sem a contemplação de cada mistério do Rosário, a recitação corre o risco de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas que não elevam em nada a alma do fiel, além de contradizer as palavras de Jesus, que adverte para que, nas orações, não se use repetições de palavras vãs (cf. Mt 6,7).
Quando rezamos o Rosário, Maria intervém com sua intercessão como o fez nas Bodas de Caná (cf. Jo 2,3). Como onipotência suplicante, faz-se porta-voz junto a Jesus em favor de todo o povo de Deus. Ela repete sem cessar: “Fazei tudo o que ele vos disser!” Ao seguirmos o exemplo de humildade e obediência da Santíssima Virgem, refutamos Satanás, suas manobras, suas armadilhas e o pomos em fuga. Dela, devemos aprender a vencer todo cansaço gerado pelo combate espiritual, podemos oferecer-lhe nossas dores, e pedir-lhe sua especial proteção na luta contra o Mal. Mas convém lembrar que a Virgem Mãe de Deus, em sua pureza e grande humildade, nos faz um convite para que intensifiquemos nossas forças na luta contra o pecado. Devemos combater o pecado que há em nós; sejamos santos, como Deus é Santo e, desta forma, venceremos o Demônio. Recordemos que em várias de suas aparições, ela recorda sem cessar: é preciso conversão para alcançar a salvação.
Finalmente, para iluminar ainda mais nossa visão diante da batalha espiritual, e da vitória final à qual está destinada a Igreja, recordemos as palavras de São Luís Maria Grignion de Montfort:
Nesses últimos tempos, Maria deve brilhar, como jamais brilhou, em sua misericórdia, em força e graça. Em misericórdia para reconduzir e receber amorosamente os pobres pecadores e desviados que se converterão e voltarão ao seio da Igreja Católica; em força contra os inimigos de Deus […], que se revoltarão terrivelmente para seduzir e fazer cair, com promessas e ameaças, todos os que lhes forem contrários. Deve enfim, resplandecer em graça, para animar e sustentar os valentes soldados fiéis de Jesus Cristo que pugnarão por seus interesses.
Maria deve ser, enfim, terrível para o demônio e seus sequazes como um exército em linha de batalha, principalmente nestes últimos tempos, pois o demônio, sabendo que pouco tempo lhe resta para perder as almas, redobra, cada dia mais, seus esforços e ataques. Suscitará, em breve, perseguições cruéis e terríveis emboscadas aos servidores fiéis e aos verdadeiros filhos de Maria que mais trabalho lhe darão para vencer. (MONTFORT, 1961, p.55)
Unidos a Virgem Maria, tomemos o Rosário como arma de combate, e ela nos concederá a vitória, esmagando sob seus pés, a cabeça de Satanás.
Cassia Duarte Leal
Missionária da Comunidade Canção Nova
Referencias:
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Storniolo; Ana Flora Anderson (Coord.). Nova ed. rev. amp. São Paulo: Paulus, 2002.
CORDEIRO A. R., Mater, Virgo et Regina: Frei Nicolau Dias e o Rosário da Virgem Maria (Portugal -1573); Maringá, 2017. 180 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Artes) – Universidade Estadual de Maringá. Disponível em: CORDEIRO, André Rocha DISSERTAÇÃO Mater, Virgo et Regina Frei Nicolau Dias e o Rosário da Virgem Maria Portugal 1573 Mari_1.pdf. Acesso em: 14 de set. de 2021.
DE FIORES, Stefano; MEO, Salvatore (dir.). Dicionário de Mariologia. São Paulo: Paulus, 1995.
JOÃO PAULO II. Rosarium Virginis Mariae, 2002. Disponível em: <Vatican.va/content/ johnpii/pt/apost_letters/2002/documents/hf_jpii_apl_20021016_rosarium-virginis-mariae. html>. Acesso em: 22 abr. 2021.
MONTFORT, S. Luís Maria Grignion. Tratado da Verdadeira Devoção à Santissima Virgem. Petrópolis: Vozes, 1961.