Um dos momentos mais marcantes da longa e bela história de evangelização da TV Canção Nova, sem dúvida até hoje gravado no coração de quem pôde acompanhar tudo ao vivo, foi a última pregação do padre Leo, “Buscai as coisas do alto”, no Hosana Brasil de 2006. Já bastante debilitado em virtude das sessões de quimioterapia e radioterapia, o padre pregou para uma multidão no Centro de Evangelização. “Já não enxergo com um olho, com o outro tenho 40% a 50% de visão”, diz ele, sentado numa poltrona, porque não tem forças para pregar de pé. “Não prego mais, não estou mais na minha comunidade, mas veio no meu coração: Ai de mim se eu não evangelizar”. Como uma espécie de testamento espiritual, o padre Leo ressalta quantas graças recebeu a partir de sua doença e insiste: buscai as coisas do alto. “Eu não me acostumei nas terras onde andei”, canta, finalizando uma pregação que, mais do que profundamente emocionante, transmite, em sua essência, a verdadeira missão do cristão: anunciar Cristo, e este crucificado.
Outro sacerdote tem trilhado um caminho parecido, tendo se tornado, em suas próprias palavras, especialista em fazer, dos limões que a vida lhe deu, muita limonada. Portador de uma doença ultrarrara, que atinge pouco mais de trezentas pessoas em todo o mundo, e que lhe causa diversas dificuldades sérias, o padre é incansável na evangelização e nunca abandona o seu sorriso. Com sua vida, o padre Marlon Múcio também anuncia Cristo, e este crucificado.
Neste mês dedicado às missões, os exemplos desses dois padres, dentre tantos outros, nos remetem ao ensinamento de São Paulo, que, falando aos Coríntios, diz: “Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (I Cor 2, 2). A verdadeira evangelização passa não apenas pelo anúncio da cruz, mas por assumir a própria cruz sem murmuração, sem desânimo, sem desespero. “Se alguém quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e venha comigo” (Lc 9, 23), disse Jesus. Há aqueles que foram chamados a anunciar Jesus com um microfone na mão, seja pregando, seja cantando, mas a maioria de nós vive a sua missão evangelizadora apenas com o seu testemunho de vida, no mais das vezes silencioso e discreto, percebido apenas por Deus e por aquelas almas que serão tocadas pela forma como decidimos viver o Evangelho. O interessante é que quase nunca saberemos quando, como e para quem fomos instrumentos usados por Deus, e que bom que seja assim, para não nos envaidecermos.
É certo que a melhor pregação que eu posso fazer é ser um bom cristão naquilo que é a minha realidade: meu estado de vida (casado, solteiro, religioso etc.), minha forma de serviço à Igreja (vida consagrada, leigo etc.). Um homem que trabalha com responsabilidade e compromisso, que ama e honra sua esposa, ama e honra seus filhos, que coloca Deus em primeiro lugar em sua vida, que educa seus filhos na fé, vive de forma honesta, busca os sacramentos com frequência, faz da sua vida uma belíssima pregação que talvez já tenha tocado muitos corações sem que ele sequer desconfie. Mas se De quanta esperança se enche o coração de uma pessoa que convive com alguém que sabe sofrer com amor! Quantos de nós experimentamos uma verdadeira conversão apenas por vermos exemplos de pessoas como padre Léo, padre Marlon Múcio, padre Jonas Abib e tantos outros que, marcados pelo sinal da Cruz de Cristo, não desistiram de olhar para o alto, não deixaram de buscar a Deus.
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Se você tem sofrido, transforme isso num motivo para louvar a Deus. Se a cruz na sua vida tem sido uma constante, louve a Deus e peça a Ele a graça de proclamar não apenas com sua boca, mas com sua vida: “Faça-se em mim não como eu quero, mas segundo a Vossa vontade, ó Deus.” O próprio Jesus diz a Santa Faustina, a respeito dessa frase: “Deves saber que essas palavras, pronunciadas da profundeza do coração, nesse mesmo instante elevam a alma ao auge da santidade. Por uma alma assim tenho predileção especial. Ela Me dá grande glória. Ela enche o Céu com o perfume da sua virtude. Mas deves saber que a força que tens em ti para suportar os sofrimentos decorre da Santa Comunhão frequente, e, portanto, vem com frequência a esta fonte da misericórdia e tira com o vaso da confiança tudo de que necessitares”.
Que Jesus Misericordioso nos ajude a sermos autênticos evangelizadores, que não negam a Cruz de Cristo nem as suas próprias cruzes. Que, pelo contrário, possamos proclamar, mesmo sofrendo: “Buscai as coisas do alto!”