Os dias que antecedem o Natal são propícios para meditarmos sobre o seu real significado. Para refletirmos melhor, entendamos os planos de Deus quanto à economia da salvação. Recordemos que, após a queda dos nossos primeiros pais (Cf. Gn 3), Deus recapitula toda a sua história de salvação em favor dos homens em Seu Filho Jesus. Deus se faz presente na pessoa do Seu Filho feito homem, concebido no seio da Virgem Maria para a redenção universal e definitiva dos pecados da humanidade.
Segundo S. Gregório de Nissa, a humanidade encontrava-se doente, decaída e necessitava de um Salvador: “Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se encontrava em um estado tão miserável e tão infeliz?”
Deus se compadece da humanidade decaída e envia Seu Filho para salvá-la, para que assim conhecêssemos seu amor: “Nisto manifestou-se o amor de Deus por nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele” (1 Jo 4,9); “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho Único, a fim de que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jo 3,16).
A Igreja ensina que o Verbo se fez carne para ser nosso modelo de santidade e para tornar-nos “participantes da natureza divina” (2 Pd 1,4). Essa é a razão pela qual o Verbo se fez homem: “É para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus” (CIC 460). Ao retomar a expressão de São João “O Verbo se fez carne” (Cf. Jo 1,14), a Igreja a denomina “Encarnação”. Ou seja, o Filho Unigênito de Deus assume a natureza humana para realizar nela a nossa salvação. São Paulo reflete sobre esse grande mistério para iluminar a consciência dos primeiros cristãos: “Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano. E encontrado em aspecto humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2, 5-8). A encarnação do Verbo é o ponto crucial para a realização das promessas de Deus feitas ao seu povo escolhido: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel!” (Is 7,14).
Meditar sobre a encarnação do Filho de Deus no seio da Virgem Maria ajuda na compreensão do Mistério do Seu nascimento. O Verbo Divino é concebido no seio da Virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo: “Ao ser concebido como homem no seio da Virgem Maria, o Filho Único do Pai é “Cristo”, isto é, ungido pelo Espírito Santo desde o início de sua existência humana. […]
Toda a vida de Jesus Cristo manifestará, portanto, “como Deus o ungiu com o Espírito e com poder” (CIC 486). Jesus Cristo é gerado no seio da Virgem, no escondimento do útero de Sua Mãe até que, finalmente, chega o dia do Seu nascimento: “Também José, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judeia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,4-7).
No pensamento do Papa Francisco, “a mensagem dos Evangelhos é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que diz respeito a todos os homens” (Papa Francisco, 2021). Segundo os desígnios de Deus Seu Filho manifestou-Se ao mundo como menino, nascido no estábulo de Belém, não nos palácios do rei: “Um Menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros, e dão-lhe o seguinte nome: “Conselheiro admirável! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da Paz!” O poder será engrandecido numa paz sem fim” (Is 9, 5-6). No Natal, pode-se contemplar “um Deus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer”. (Bento XVI, 2011). Natal é epifania: a manifestação de Deus e da sua grande luz num menino que nasceu na pobreza, em uma família pobre. Seu nascimento está envolto em grande mistério, mas Deus o revela tanto aos pobres, quantos aos doutos, a fim de revelar que Ele veio para todos os homens, pois a salvação é universal. As primeiras testemunhas do evento do nascimento do menino Jesus são homens simples, pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho (cf. Lc 2,8). Mas Jesus também foi visitado por pessoas ilustres, alguns magos do Oriente que, ao ver o menino com Maria, ajoelharam-se diante dele e o adoraram, abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra (cf. Mt 2,1-12).
Neste cenário, a Igreja canta sem cessar a glória dessa noite: “Hoje, a Virgem traz ao mundo o Eterno, e a terra oferece uma gruta ao Inacessível. Os anjos e os pastores o louvam, e os magos caminham com a estrela. Pois Vós nascestes por nós, Menino, Deus eterno” (CIC 526). Portanto, reflitamos sobre o verdadeiro significado do Natal: Ele veio para salvar, para resgatar aqueles que andam nas trevas: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, para os que habitavam nas sombras da morte uma luz resplandeceu. Multiplicastes sua alegria, redobraste sua felicidade. O amor apaixonado do Senhor dos exércitos é que fará tudo isso” (Is 9,1-2.6).
Cristo é Luz! Portanto, deixemo-nos iluminar por Ele, vivamos a reconciliação em nossas famílias, voltemo-nos a Ele de todo coração. Cantemos ao Seu Santo Nome, alegremo-nos com os Anjos, dizendo: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos que são do seu agrado!
É Natal! Nasceu para nós o Cristo Senhor, Aleluia!
Feliz Natal!
Sua irmã,
Fontes:
Bento XVI, homília 2011.
Bíblia CNBB
Catecismo da Igreja Católica
Papa Francisco, Audiência geral 2021.