MISTÉRIO DA REDENÇÃO

A espiritualidade da Sexta-feira Santa

Para vivermos com profundidade a espiritualidade da Semana Santa, precisamos, acima de tudo, entender o “Mistério da Redenção”, isto é, o significado da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Por que Jesus sofreu tanto e morreu para nos salvar?

Imagem: Santuário do Pai das Misericórdias

Na base de tudo está o fato de que o nosso pecado fere o amor de Deus e a Sua Infinita Majestade; logo, a culpa devida ao pecado se torna infinita. Como, então, reparar essa culpa infinita?

Foi preciso que Jesus Cristo assumisse a culpa de nossos pecados e oferecesse um Sacrifício de valor infinito à Justiça divina. Esse valor infinito tinha de ser a oferta de Sua Vida, que, por ser a vida de Deus feito homem, tem valor infinito e pode pagar à Justiça divina a culpa dos homens, com um resgate de valor infinito. O nosso Catecismo diz que:

“Nenhum homem, ainda que o mais santo, tinha condições de tomar sobre si os pecados de todos os homens e de se oferecer em sacrifício por todos. A existência em Cristo da Pessoa Divina do Filho, que supera e, ao mesmo tempo, abraça todas as pessoas humanas, e que o constitui Cabeça de toda a humanidade, torna possível Seu Sacrifício redentor por todos” (n.616).

Jesus disse aos discípulos de Emaús: “Era necessário que o Cristo padecesse, e ressurgisse dos mortos ao terceiro dia” (Lc 24,46). Na agonia do Horto das Oliveiras, Ele disse ao Pai: “Se não é possível que este cálice passe sem que Eu o beba, então seja feita a vossa vontade” (Lc 22,42).

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No Antigo Testamento, os judeus ofereciam os sacrifícios de animais para que Deus perdoasse os pecados do povo. Eram os “holocaustos perpétuos” (Ex 29,38.42). A cada dia, celebravam este holocausto perpétuo: um cordeiro de um ano, sem defeito, era imolado no Templo, pelo sacerdote, às seis horas da manhã, e outro à tarde.

Este sacrifício era a imagem do “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29), anunciado por João Batista.

O judeus sabiam que só com o oferecimento da própria vida (o sangue) se poderia conseguir o perdão dos pecados. Assim, para que não se imolassem as pessoas, imolavam os animais. A Carta aos hebreus diz que: “Sem efusão de sangue não há perdão” (Hb 9,22). O pecado gera a morte, então, o pecado é punido com a morte do pecador. “O salário do pecado é a morte” (Rom 6,23). “O aguilhão da morte é o pecado” (1 Cor 15,56).

No Antigo Testamento, o pecado grave era punido com a morte do pecador. O Verbo divino veio em nosso socorro e, diante da Santíssima Trindade, Ele se ofereceu para resgatar a nossa culpa, assumindo a nossa natureza humana sem abandonar a divina e se deixar imolar para oferecer o Sacrifício de valor infinito da Sua vida à Justiça divina. Sabemos que Deus é Amor, mas também é Justiça. A ofensa humana tinha de ser reparada. Diz a Carta aos hebreus:

“Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então, eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Sl 39,7ss)”. (Hb 10,5-7). Esta vontade do Pai era a salvação da humanidade, que só poderia ser obtida com o pagamento à Justiça Divina da culpa infinita da humanidade.

São inúmeras as passagens que dizem que o Verbo se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus: “Foi Ele que nos amou e enviou seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados” (1 Jo 4,10). “O Pai enviou seu Filho como salvador do mundo”. (1 Jo 4,14)

Entendido isso, podemos experimentar o imenso amor de Deus por nós, que aceitou o Sacrifício do seu Filho Único para a nossa salvação. Então, a Semana Santa é celebrada para agradecermos a Deus pela nossa salvação e celebrarmos isso com fé e devoção.

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Para isso, a Igreja nos oferece o Tríduo Pascal: na Quinta-feira Santa, a celebração da Ceia Pascal com o Lava-pés, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio; na Sexta-feira Santa, a celebração da adoração da Cruz, símbolo do Sacrifício de Jesus; e, no Sábado Santo, a celebração da Vigia Pascal e da R00essurreição de Cristo. Por isso é preciso participar dessas celebrações com devoção.

As celebrações da Semana Santa precisam ser preparadas antes, com as atividades espirituais próprias da Quaresma: um tempo forte de jejum, esmola e oração, que a Igreja chama de “remédios contra os pecados”.

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Algumas práticas espirituais são recomendadas para uma boa preparação para viver bem a Semana Santa: renúncia à própria vontade; um pouco de abstinência de comida e bebida; fazer um pouco de silêncio para meditação e boa leitura; vigílias de oração; ajudar generosamente os outros; vestir-se modestamente e vencer a própria vaidade.

Os antigos chamavam a Semana Santa de a “Semana maior”, e de modo especial guardavam o silêncio na Sexta-feira e no Sábado Santo. Os carros e os trens não buzinavam, as crianças não brigavam, trabalhava-se o mínimo necessário, e nada de festas e diversões; sobretudo, meditava-se a Paixão e Morte de Jesus na Sexta-feira e no Sábado Santo. Isso continua a ser um bom programa espiritual sempre.