A mensagem de Fátima é teocêntrica, trinitária e cristológica

A mensagem de Fátima conduz a humanidade a Deus

A Mensagem de Fátima tem, no seu centro e finalidade, um caráter teocêntrico, pois, Maria apareceu como mensageira de Deus para reconduzir a humanidade a Ele, convidando-nos a amá-Lo e a mudar de vida, deixando de ofendê-Lo com os nossos pecados.
Nos três ciclos das aparições – angélico, mariano e cordimariano – as dimensões: teocêntrica, trinitária e cristológica sobressaem de forma clara. Vejamos:

Ciclo angélico (Fátima – primavera, verão e outono de 1916)

As três crianças fizeram uma profunda experiência com Deus através das aparições do Anjo. Na primeira aparição, já vemos a dimensão teocêntrica, porque o Anjo as conduziu a um profundo ato de adoração e de súplica reparadora através desta oração: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos (…)” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 169), deixando nos seus corações a certeza do acolhimento do Céu: “Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 169).

Na segunda aparição, vemos mais a dimensão cristológica da reparação, pois, o Anjo refere-se a Jesus Cristo, dando a entender que Maria está associada à Sua obra de redenção: “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 170).

Na terceira e última aparição do Anjo vemos, claramente, as dimensões trinitária e cristológica (eucarística) da Mensagem de Fátima, como convite à adoração ao Deus uno e trino. O Anjo traz-lhes o Santíssimo Sacramento sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho e conduz as crianças a um profundo ato de adoração à Santíssima Trindade, através desta oração: “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores” (Memórias da Ir. Lúcia, pp. 170-171) . Em seguida, dá-lhes a Comunhão (do Corpo e Sangue de Jesus), repetindo depois mais três vezes esta oração de grande profundidade teológica, com apelo à fé em Jesus Eucarístico e à fecundidade reparadora das nossas súplicas e dos nossos atos, unidos aos de Jesus e de Maria.
Esta experiência mística imprimiu em suas almas um profundo amor pelo Sacramento da Eucaristia; especialmente para Francisco, que recebeu o dom da contemplação de maneira mais intensa, passando a ser uma alma amante de Jesus no Sacrário, pois comprazia-se sempre em adorar Jesus “escondido”, para O consolar.

A presença de Deus através do Anjo foi fortemente sentida pelas crianças. Segundo a Ir. Lúcia, depois da primeira aparição, “a presença de Deus sentia-se tão intensa e íntima que nem mesmo entre eles se atreviam a falar” (cf. Memórias da Ir. Lúcia,p. 169). E, gradativamente, Lúcia, Francisco e Jacinta cresciam na compreensão de “quem era Deus, como nos amava e queria ser amado” (cf. Memórias da Ir. Lúcia, p. 170).
O testemunho dos pastorinhos quanto ao amor e à vivência da centralidade em Deus nos move a imitá-los, para que Deus seja o objeto principal do nosso amor, como Jesus afirmou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento” (Mt 22,37-38).

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Ciclo mariano (Fátima – maio a outubro de 1917)

Neste ciclo vemos ressaltadas as dimensões teocêntrica e cristológica da Mensagem de Fátima, de maneira peculiar. A Virgem Maria, como Mãe amorosa e fiel mensageira do Altíssimo, já na sua primeira aparição interpela as crianças em nome de Deus, com esta pergunta: “Quereis oferecer-vos a Deus (…)?” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 173). Nossa Senhora demonstra que vem em nome de Deus e que sua missão consiste em levar a humanidade para os Seus caminhos, apelando à corresponsabilidade da salvação, dando-Lhe a primazia em tudo para que, consequentemente, encontremos a paz, bem como as demais necessidades temporais e espirituais, conforme Jesus havia afirmado: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6,33).

Depois de ouvir o “sim” dos pastorinhos à sua proposta, Maria lhes assegura de que, a graça de Deus seria o conforto para eles – principalmente diante dos sofrimentos provenientes desta oferta que iriam viver – e os envolve com a presença de Deus, de tal maneira que a Ir. Lúcia, ao narrar a aparição, tenta achar palavras para explicá-la: “Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente:
– Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 174) Esta é a luz de Deus que o apóstolo São João menciona na sua primeira carta e no Evangelho, quando diz: “Deus é luz” (1Jo 1,5) e também: “O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem” (Jo 1,9).

Na aparição de junho, a Mãe de Deus e nossa, mostra-se carinhosamente como via para Deus: “Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 175). Sendo Imaculada, Maria Santíssima possui Deus no seu Imaculado Coração como pura essência. De acordo com o então Cardeal Ratzinger, “o coração imaculado é, segundo o Evangelho de Mateus (5,8), um coração que, a partir de Deus, chegou a uma perfeita unidade interior e, consequentemente, vê a Deus” (Comentário Teológico – in Memórias da Ir. Lúcia, p. 227)

Entretanto, Maria, sendo Imaculada, quer que, como filhos obedientes, busquemos a Ela como Mãe para que nos conceda a graça de ter o Espírito Santo como condutor de nossas vidas, assim como concedeu a Isabel e a João Batista (cf. Lc 1,41-44), porque Ela é a mensageira do Espírito Santo.
Depois de garantir para os pastorinhos que seria “caminho para Deus”, Ela também lhes transmitiu a Sua luz divina nesta aparição de junho: “Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 175)
Estar submergido em Deus é estar repleto de Sua graça. Assim como Nossa Senhora os presenteou com a luz de Deus, também quer nos presentear; basta que nos confiemos a Ela e nos deixemos educar como filhos obedientes, a exemplo dos pastorinhos.

Na aparição de julho, a dimensão cristológica é ressaltada, pois Maria nos conduz à união com Jesus na Sua obra redentora, especialmente através da oração e dos nossos sacrifícios oferecidos a Ele por amor:
“Dizei muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso amor(…)” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 176). Ela disse ainda nesta aparição: “Quando rezais o terço, dizei, depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as alminhas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 177). E, assim, a Mãe de Deus continua nos formando no amor a Seu Filho, como pessoas firmes no bom combate da fé (cf. 2Tm 4,7).

No dia 19 de agosto, na aparição que ocorreu nos Valinhos – pelo fato dos pastorinhos terem sido levados à prisão no dia 13 – Nossa Senhora reforça o sentido da reparação em favor dos pecadores e relembra a nossa responsabilidade na salvação dos irmãos: “Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 179).

Na aparição de setembro, Ela afirma: “Deus está contente com os vossos sacrifícios” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 180). Com estas palavras afirmativas, Maria leva-nos a compreender que o olhar de Deus pousa sobre nós e quer que alimentemos uma profunda comunhão com Ele, quer seja pela oração, quer seja pela vivência dos sacrifícios, os quais nos levam a crescer na prática das virtudes teologais e cardeais, vivenciadas de forma tão eloquente pelos pastorinhos.

Na aparição de outubro, em que encontramos, na advertência de Maria, o núcleo principal da Mensagem de Fátima, Ela se mostra triste e nos dá esta ordem, como que em palavras de despedida e de última vontade: “Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor, que já está muito ofendido” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 181). Vemos que, na Sua infinita misericórdia, Deus sempre se derrama em amor pela humanidade, indo ao encontro do homem através dos seus interlocutores, pois Ele é amor (cf. 1Jo 4,8) e, sendo um Deus fiel, não pode negar-se a Si mesmo (cf. 2Tm 2,13).

Entretanto, vemos que Maria nos convida a não ofendê-Lo, correspondendo ao Seu amor. Jesus também se fez presente nesta aparição: “Vimos, ao lado do sol, São José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. São José com o Menino pareciam abençoar o mundo com uns gestos que faziam com a mão em forma de cruz. Pouco depois, desvanecida esta aparição, vi Nosso Senhor e Nossa Senhora, que me dava a ideia de ser Nossa Senhora das Dores. Nosso Senhor parecia abençoar o mundo da mesma forma que São José” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 181).

Jesus encerra este ciclo de aparições abençoando o mundo. Quanto amor, quanto apreço pelo gênero humano por parte de Deus! Que possamos corresponder a este amor, abrindo-nos para acolher as bênçãos e graças que Ele continua nos concedendo através de Sua Santíssima Mãe.

Ciclo cordimariano (Pontevedra e Tuy – Espanha – 1925,1926 e 1929)

A Ir. Lúcia foi agraciada com outras aparições na Espanha (Pontevedra e Tuy). Estas são conhecidas como ciclo cordimariano, pois o Imaculado Coração de Maria tem nelas um relevo especial. Nestas aparições verificamos especialmente o caráter cristológico e trinitário. Cristo é o grande reparador; por isso, a dimensão cristológica é bem evidenciada nestas duas aparições de Pontevedra, em 1925 e 1926.

Aparição de Jesus a Irma Lúcia. Fonte: pinterest.pt

Em 1925, o próprio Jesus vem como menino, junto com Sua Mãe, para pedir a Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, ou seja, veio pedir reparação ao Coração Imaculado de Sua Santíssima Mãe, através de atos reparadores, para que, centrados nos mistérios da Sua Encarnação e Redenção, nos configuremos a Ele. No ano seguinte, aparece sozinho para pedir a propagação desta devoção. Desta forma, Jesus nos mostra que a mensagem trazida por Nossa Senhora tem o selo de Sua santa vontade.

Na aparição de Tuy, em 13 de junho de 1929, vemos de forma peculiar a dimensão trinitária. A Ir. Lúcia conta-nos que havia obtido licença das superioras e do confessor para fazer adoração das 23h às 24h de quintas para sextas-feiras.

Numa destas noites, estando só e rezando as orações ensinadas pelo Anjo, “de repente iluminou-se toda a capela com uma luz sobrenatural, e sobre o altar apareceu uma cruz de luz que chegava até ao teto. Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem. Um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito. Escorrendo pela Hóstia, essas gotas caíam dentro do Cálice. Sob o braço direito da cruz estava Nossa Senhora (era Nossa Senhora de Fátima com o Seu Imaculado Coração na mão esquerda sem espada, nem rosas, mas com uma coroa de espinhos e chamas), com o Seu Imaculado Coração na mão. Sob o braço esquerdo, umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar, formavam estas palavras: “Graça e Misericórdia”. Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido revelar” (Memórias da Ir. Lúcia, p. 195)

Nesta aparição em Tuy, encerra-se o ciclo de todas as aparições em que Deus falou para o mundo, desde 1916 até 1929, através do Seu Anjo e de Sua Santíssima Mãe. Nesta última, a Santíssima Trindade – constantemente invocada e adorada pelos pastorinhos em todo o acontecimento de Fátima – faz-se presente, revelando o amor de Deus pelo gênero humano demonstrado na cruz de Cristo e presente na Eucaristia. As palavras “Graça e Misericórdia” resumem a essência da Mensagem de Fátima, conduzindo- nos a uma profunda confiança no amor de Deus, certos de que pela Sua graça fomos salvos (cf. Ef 2,8) e de que a Sua eterna Misericórdia (cf. Sl 135,1) perpassa, no decorrer do tempo, a história da nossa salvação.

Participe da Devoção Reparadora no Santuário

O Santuário do Pai das Misericórdias, acolhendo a Mensagem de Fátima, proporciona ao peregrino em cada primeiro sábado do mês, a Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados. Iniciamos às 10h com o Santo Terço, em seguida temos uma catequese sobre a espiritualidade de Fátima; e logo após temos 15 minutos de meditação da Palavra. Encerramos com a Santa Missa às 12h.

Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova

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