DOM ALBERTO TAVEIRA

Apascentar o Rebanho do Senhor

Quando fomos batizados, apenas saídos das fontes batismais, recebemos a unção com o Óleo do Crisma: “Agora fazes parte do povo de Deus. Que ele te consagre com o óleo santo para que, inserido em Cristo, sacerdote, profeta e rei, continues no seu povo até a vida eterna”. Recebemos a graça da responsabilidade pela Palavra, vocação profética, pela Santificação das pessoas e do mundo, na Prática Sacramental e a Vida de Oração, e foi-nos confiada a Missão Régia do Pastoreio, com a qual participamos do crescimento do Reino de Deus e da Igreja.

O Pastor e seu rebanho

“Não se pode retornar à vida de antigamente, depois de conhecer e seguir Jesus” | Foto ilustrativa: Laurinson Crusoe by Getty Images

No Sacramento da confirmação foi-nos dito assim: “Vós que já fostes batizados recebereis agora a força do seu Espírito e sereis assinalados na fronte com sua Cruz. Deveis, pois, dar diante do mundo testemunho de sua Paixão e Ressurreição, de modo que a vossa vida seja em toda parte o bom odor de Cristo. O seu Corpo Místico, que é a Igreja, povo de Deus, recebe dele graças diversas, que o Espírito Santo distribui a cada um para a edificação do corpo na unidade e na caridade”. Responsáveis pelo crescimento do Reino de Deus e da Igreja, com os dons que cada um recebe!

O Sacramento da Ordem, desde o seu primeiro grau, que é o Episcopado, até os Diáconos, ordenados para o serviço, propõe o Serviço profético da Palavra, o Serviço do Altar e Serviço da Caridade, este voltado para o cuidado pastoral com o rebanho do Senhor, mais uma vez, de acordo com os dons de cada um, de forma a expressar a única riqueza do amor de Deus pelo seu povo de forma diversificada.

Na aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos, às margens do Mar da Galileia (Jo 21,1-9), encontramos indicações extraordinárias para cumprirmos a missão do pastoreio. Simão Pedro e outros companheiros se dirigem ao mar para pescar peixes, quando já tinham recebido a missão de pescadores de homens. Primeiro ensinamento é que não se pode retornar à vida de antigamente, depois de conhecer e seguir Jesus. Pescaria boa e abundante, só com Jesus presente. Aliás, é assim que a Barca de Pedro, a Igreja, pode navegar pelos mares revoltos da história, sem naufragar. Alie-se a esta imagem aquela da rocha, com a qual Jesus mudou o nome de Pedro. Estamos seguros e certos de que as forças do inferno não prevalecerão contra ela, mesmo quando nossas fragilidades nos fazem ter medo do vento, da chuva ou de uma pescaria malsucedida. No final das contas, virá a luz do amanhecer e o Senhor sempre estará com a mesa preparada para sua família. Ele mesmo lhes prometeu, propondo-lhes o serviço como caminho: “O maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e vos sentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22,26-30).

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Os primeiros discípulos de Jesus receberam a missão de alcançarem os confins da terra com o anúncio da boa nova. Em Simão Pedro, antes do definitivo “Segue-me”, foi necessário proclamar por três vezes o amor ao Senhor, recompondo a unidade de amor e confiança, depois da terrível experiência da negação, à qual se sucedeu o banho nas lágrimas do arrependimento. Aqui, Simão Pedro, e nós com ele, deve afirmar duas, três ou milhares de vezes que o Senhor sabe tudo, e sabe de nosso amor. Será por amor que Pedro apascentará o rebanho do Senhor, será por amor que viria a glorificar a Deus, com seu martírio. É consolador saber que o Senhor virá sempre ao nosso encontro, pelas brumas das madrugadas sofridas de nossas crises e inconstâncias, para afirmar o amor, perguntar pelo amor, a fim de chegarmos à entrega total, mergulhados no mar do infinito amor de Deus.

O Evangelho de João relata ainda a pergunta de Pedro a respeito de João (Jo 21,21-23) que pode conduzir-nos à compreensão da diversidade de vocações e formas com as quais podemos contribuir no cuidado com o rebanho do Senhor. Esta palavra – cuidado – pode ser uma chave preciosa para nossa vocação pessoal e comunitária. Não há que rejeitar o jeito das outras pessoas servirem ao Senhor e ao seu Reino! Atenção para não negarmos aos outros a fidelidade que descobriram em sua estrada vocacional pessoal. No jardim plantado por Deus cabe uma imensa variedade de vocações, todas elas encontradas no lugar que Santa Terezinha descobriu para si: “No coração da Igreja, serei o amor”. 

Na belíssima diversidade existente na Igreja, valem algumas recomendações. Quem passa ao nosso lado seja amado em primeiro lugar e em primeira pessoa. Cabe a cada um de nós o cuidado do olhar, das palavras e dos gestos! E esta atenção nos levará a alcançar os últimos e os mais pobres ou necessitados. Repetimos uma proposta feita na Igreja, de que cada um de nós encontre um modo pessoal para ir ao encontro dos mais sofredores. Para uma pessoa, isso significará a visita e o serviço aos enfermos. Outra descobrirá uma família a ser acompanhada e servida com amor. Os que descobrem o chamado à pastoral carcerária, visitarão diuturnamente os presos, coisa que outros não saberão fazer. Nas Paróquias e Comunidades, alguém poderá ser o servidor que abre as portas da Igreja, fisicamente ou pastoral e espiritualmente, indicando o caminho da Comunidade Eclesial para os mais afastados. Haverá gente cuja contribuição será dar alegria e o presente do bom humor aos outros. Outros apascentarão com uma vassoura, ajudando concretamente para que as pessoas se sintam bem na Igreja. Haverá benfeitores explícitos ou anônimos que ofertarão suas posses ou seu tempo e suor para construir novas igrejas e capelas!

Enfim, podemos abrir os Atos dos Apóstolos e encontrar a belíssima diversidade e a capacidade de superação de crises e conflitos, com a qual a Igreja caminhou e caminhará até o fim dos tempos, obedecendo mais a Deus do que aos homens (Cf. At 5, 27-41), superando as sucessivas carências de coragem e confiança. Sabemos que o Senhor, e ninguém mais do que ele, cuida de sua Igreja.

DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará

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