Testemunho Vocacional de Frei Diego Atalino de Melo, Religioso da Ordem dos Frades Menores, da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
É com muita alegria que partilho um pouco da minha caminhada vocacional. As linhas que seguem retratam aquela parte da vocação que eu consigo racionalizar, verbalizar e expressar. No entanto, há uma outra realidade que foge do meu controle, que não consigo explicar, tampouco redigir, mas apenas sentir, vivenciar, ou seja, trata-se daquele mistério divino que, muitas vezes, não conseguimos exprimir.
Pois bem, ainda adolescente, com aproximadamente 15 anos, participava de um grupo de jovens na minha cidade natal, em Lages – SC. Aos domingos, ajudávamos na liturgia do Convento Franciscano, onde tive o primeiro contato com os frades menores.
No idealismo da idade, questionava-me sobre que futuro seguir, o que fazer da própria vida, qual vocação abraçar. Foi então que, conhecendo a fraternidade franciscana, fui encontrando as respostas que procurava e, ao mesmo tempo, nasciam tantas outras inquietações.
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Olhava aqueles frades simples, atenciosos, piedosos e profundamente conectados com a realidade à sua volta, e perguntava-me onde estava a inspiração para aquilo tudo. Com o tempo e lendo uma biografia clássica de São Francisco de Assis, de Maria Sticco, foi que finalmente entendi que aqueles homens de marrom, que, às vezes, também andavam de calça jeans e camiseta, tinham a sua inspiração no poverello de Assis. Em síntese, posso dizer que foram os frades que me apresentaram São Francisco de Assis. Foi a vida real e concreta da fraternidade que me encantou. Foi por meio da prática que fui descobrir os fundamentos teóricos. Portanto, conheci a São Francisco por meio do testemunho dos freis.
Ardor vocacional
Escrevo isso, com lágrimas nos olhos e o coração palpitante, pois esse é o início de uma paixão que me motiva até os dias de hoje. Lembro-me que, lendo aquele livro, pensava comigo mesmo: “é isso que realmente preenche a minha vida. É esse estilo de vida que eu quero seguir pelo resto dos meus anos. É por essa causa que eu quero me consumir inteiramente”.
No entanto, tinha, e ainda tenho, muito medo de perder esse ardor vocacional. Muitos me diziam que à medida que eu adentrasse na Ordem Franciscana e fosse conhecendo as suas estruturas a partir de dentro, iria me decepcionar. Que com o tempo eu iria ver que o ideal franciscano é utópico demais; que as coisas não eram bem assim como eu, no idealismo de um adolescente, acreditava.
Hoje, tendo-se passado mais de 20 anos desde aquele primeiro encontro, reitero que ainda sinto o frescor e a emoção desse primeiro amor. Olho para São Francisco e vejo que ele entende o que significa um Deus que se faz chagado por amor quando está entre os chagados do seu tempo, os leprosos. Entende o que significa misericórdia quando experimenta o pecado do irmão e as suas próprias fragilidades. Compreende o que é Fraternidade quando acolhe os irmãos que o Senhor lhes dá. Descobre o valor do perdão e da reconciliação quando precisa mediar o conflito entre o Bispo e o prefeito de Assis. Em poucas palavras, é no contato com as situações reais e quotidianas que São Francisco vai descobrindo e aprofundando a sua própria fé e espiritualidade.
Portanto, digo com toda a certeza que São Francisco de Assis continua presente nos frades e leigos que seguem a sua mesma inspiração. Afirmo que a sua proposta continua mais atual do que nunca e torna-se tão urgente para o nosso mundo de hoje. Creio que essa espiritualidade franciscana, que um dia me trouxe para a vida religiosa, é sinônimo de doação irrestrita ao Senhor, entrega, pelo Reino, amor aos mais simples, pobres e desprezados. Essa espiritualidade me leva a perceber o sagrado que se revela no quotidiano, um Deus encarnado e profundamente humano. Além disso, como Francisco de Assis é daquelas figuras que não nos deixa acomodar, sossegar ou instalar-se, ser seu seguidor significa estar naquela constante busca de aperfeiçoamento. Ser Franciscano é ser alguém que experimenta aquela paz inquieta que nos desafia a dar o melhor de nós mesmos para Deus e para a humanidade, entregando-se totalmente Àquele que totalmente se nos dá.
Que o Bom Deus, que me deu a graça da Vocação Religiosa Franciscana, me faça sempre mais fiel ao seu chamado e perseverante nessa caminhada.
Paz e bem!
Frei Diego Atalino de Melo
Nasceu no dia 26 de agosto de 1983, em Lages – SC. Ingressou na Ordem dos Frades Menores em 2004 e fez a profissão dos seus votos solenes no dia 5 de novembro de 2009. Ordenou-se sacerdote no dia 11 de fevereiro de 2012. De 2012 a 2021 trabalhou no Serviço da Animação Vocacional da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, trabalhando principalmente com as juventudes por meio de missões, encontros, retiros e caminhadas. Também foi Coordenador Nacional do Serviço de Animação Vocacional da Conferência dos Frades Menores do Brasil, de 2016 a 2018. É bacharel em Filosofia e Teologia. Atualmente, está como Reitor do Santuário de São Frei Galvão, em Guaratinguetá – SP.