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Doutrina Social da Igreja, o que é?

Para se falar da Doutrina Social da Igreja (DSI), é preciso voltarmos na história em algumas décadas para fazermos uma leitura do contexto social que o mundo vivia no final do século XVIII e início do século XIX. Foi justamente nesse período que aconteceu o que conhecemos como “Revolução Industrial”. Não se trata de um movimento de lutas armadas, mas sim uma grande transformação da ordem econômica, motivada por uma renovação dos métodos do sistema de produção. Em outras palavras, os artesãos e os pequenos produtores perderam espaço para o uso generalizado das máquinas e da produção em série.

Logicamente, essa revolução dos meios de produção trouxe inúmeras consequências, dentre as quais quero citar uma: as áreas urbanas passaram a contar com uma grande concentração de pessoas vindas do campo para trabalhar nas inúmeras indústrias que iam surgindo nas cidades. Esse intenso fenômeno migratório fez com que as cidades crescessem desordenadamente. O resultado de todas essas transformações foi o rápido agravamento das condições de vida e de trabalho o que acabou prejudicando a saúde, a alimentação, a educação, a habitação, os relacionamentos familiares. Em suma, o ser humano entrou num processo de desumanização.

Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Mas você pode estar se perguntando: “e o que tudo isso tem a ver com a Doutrina Social da Igreja (DSI)?”. A resposta não poderia ser mais direta: “tem tudo a ver”. Uma vez que esse contexto social conturbado estava rebaixando o ser humano para o estágio do individualismo egoísta, do oportunismo prático, da exploração econômica e do lucro sem limites; a Igreja viu-se compelida a pronunciar-se em favor da liberdade, da moral, da justiça, da verdade e da dignidade da pessoa humana.

O ser humano, portanto, jamais pode ser instrumentalizado, considerado ou tratado como um mero objeto reduzido a uma força de trabalho ou manipulável, segundo o desfrute de arbítrios egoístas. Nesse sentido, a DSI reafirma que, cada homem é a imagem viva do próprio Deus e, como tal, possui abertura à transcendência. Dessa forma, uma sociedade verdadeiramente justa só pode ser concretizada na medida em que ela se orientar para Deus.

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De acordo com todo esse cenário apresentado anteriormente, pode-se afirmar que a DSI foi sendo formada e articulada com o que preconiza a Sã Doutrina Católica no decurso do tempo, das transformações ocorridas e dos acontecimentos que emergiram especialmente a partir do século XIX. Àqueles que pensam que a Igreja não deveria se interpor em assuntos sociais e econômicos, o número 76 da Gaudium et Spes deixa claro que ela pode e deve emitir juízo moral nesses campos quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigem.

De maneira muito abrangente, a DSI opõe-se a todos os sistemas que sacrificam os direitos fundamentais da pessoa humana com os seus reducionismos; as ideologias totalitárias e ateias, por exemplo, o comunismo ou o socialismo; a supressão do direito à propriedade privada, ou seja, a usurpação de um bem de outrem; a todos os atos que conduzem a escravização dos seres humanos, dentre outros.

Ela valoriza o trabalho humano, não num contexto mercantilista, mas como um dom que recebido do próprio Deus que torna o homem partícipe na obra da criação. Dessa forma, unido a Cristo, o trabalho pode ser redentor. Portanto, o trabalho é um dever. Por meio dele, o homem honra os dons do Criador e os talentos recebidos d’Ele. Contudo, “o trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho”, nos exorta o número 6 da encíclica “Laborem Exercens”.

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Sendo impossível esgotar os assuntos e os ensinamentos acerca desse tema tão importante, quero sugerir a leitura do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, que pode ser encontrado fácil e gratuitamente no site do vaticano. Trata-se de um magnífico documento que todos os fiéis cristãos deveriam ruminar e pô-lo em prática.

Deus abençoe você e até a próxima!

Seminarista Gleidson de Souza Carvalho (Instagram: @cngleidson)
Missionário da Comunidade Canção Nova

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