Santidade é coisa séria, não se trata de algo que se possa improvisar
Caro leitor, na primeira carta aos Coríntios, Paulo diz de si o seguinte: “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar” (1cor 9,26). Trata-se de uma pequena frase, mas com um significado profundíssimo: ser santo. Paulo deixa claro que sua vida não está pautada na instabilidade dos acontecimentos, ao contrário, ele possui uma meta, um objetivo, um propósito muito bem definido.
:: Retire os excessos da sua vida
Quem se dispõe a seguir essa proposição feita por Paulo deve ter a retidão de consciência para estabelecer e abraçar um plano de vida. Um pai de família deve ter em mente a sua responsabilidade de pai e esposo; um profissional, independentemente da área em que atua, também deve posicionar-se como tal. Isso vale para o missionário, para o religioso, em suma, para todos os que levam uma vida em sociedade.
Quantas pessoas desejam ser santas de modo improvisado! Aqui, é preciso colocar uma realidade de maneira crua: a toque de caixa não existe santidade. Pode ser duro, mas é real, é verdadeiro. “Santidade” e “facilidade” não se harmonizam, exceto na rima de poemas. Quem quer ser santo de maneira fácil e descompromissada está beirando a leviandade. Santidade é coisa séria, não se trata de algo que se possa improvisar.
Acaso João Grilo perguntasse a Chicó “por que é tão difícil ser santo?” sua resposta, provavelmente, seria esta: “Não sei, só sei que é assim”. Sem desmerecer a sabedoria do personagem, é possível esboçar outras respostas. Sejam elas quais forem, existe um quesito que não pode deixar de ser considerado, a saber, a “natureza humana”. A busca pela santidade, quando seriamente vivenciada, esbarra nesse importante ponto. Desse modo, a condição de se tornar santo passa por uma renúncia da natureza. E renunciar à natureza não é uma tarefa fácil, por isso exige treino, lutas, esforço, dedicação, paciência, reerguimentos e assim por diante.
Um nova natureza
Obviamente, não é uma renúncia da natureza humana em si, criada bela por Deus, mas de vícios, fraquezas e inclinações adquiridas. Assim, essa renúncia não está posta no sentido negativo de perda, de privação, de danação, ao contrário, é uma questão de renúncia por amor, oblativa, caridosa e totalmente consciente. Em suma, não se trata da perda ou da negação da natureza humana, mas da sua elevação. A esse respeito, o pensador católico Louis Lavelle afirma: “A santidade assemelha-se a uma natureza nova: é ao mesmo tempo a natureza renunciada e a natureza realizada”.
Quem quer ser santo de maneira fácil e descompromissada está beirando a leviandade.
Não obstante, todo esse exercício de aprender a dominar a natureza humana jamais está desassociado da vida no espírito. São dois movimentos que devem caminhar juntos o tempo todo. O domínio da natureza rebelde é a empreitada do homem, mas a força que está agindo por trás não é outra senão a graça de Deus. “Força de vontade” e “graça de Deus” não servem como rima de poema, mas devem coabitar-se no âmbito da santidade.
Diante disso é ou não é possível afirmar que a santidade é algo que não se improvisa? Por fim, é preciso dizer que ela é alcançável. Portanto, saiamos da superficialidade, da falsa ilusão de santidade instantânea e sigamos o exemplo de Paulo que disse: “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar”.
Deus abençoe você e até a próxima!
Gleidson de Souza Carvalho
Seminarista da Comunidade Canção Nova