A Mãe do Salvador é também Mãe de todos nós
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Quando criança, esse início da Salve-Rainha sempre me causava arrepios. Venho de uma família simples, do interior do nordeste. Meus pais eram bem casados – ele, lavrador, ela, professora. Não tínhamos em excesso, mas também não nos faltava o básico. Posso dizer que tive uma infância bastante feliz. A cada vez que eu rezava uma Salve-Rainha, entretanto, eu imaginava quando a minha vida deixaria de ser tão doce e agradável para se tornar o vale de lágrimas que me faria suspirar, pedindo o socorro a Nossa Senhora, entre choros e gemidos. A vida adulta se encarregou de me dar a minha porção de lágrimas nesse imenso vale que é o mundo, mas conforme vamos caminhando rumo a uma intimidade maior com Deus, passamos a compreender o real motivo que temos para chorar: somos os “degredados filhos de Eva”, que desterrados, expulsos da presença de Deus, nos voltamos para a Nova Eva, nossa advogada, a quem imploramos: “Mostrai-nos Jesus!”
Quando Adão e Eva habitavam o Jardim do Éden, não havia lágrimas, porque eles contemplavam Deus face a face. Eis, contudo, que a virgem Eva, com sua desobediência, ao dar ouvidos às palavras mentirosas da serpente, é desterrada do Jardim com seu companheiro. Quando chegou o tempo, outra Virgem, a segunda Eva, ouviu as palavras do anjo e foi obediente aos planos de Deus. Santo Irineu então nos diz que “o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria. O nó que a virgem Eva amarrou por sua incredulidade, a Virgem Maria desamarrou por sua fé”.
Vivemos exilados da nossa pátria, que é o céu. Não pertencemos a este mundo, porque fomos criados para a eternidade, para contemplarmos a Glória de Deus, e tudo aqui é efêmero, passageiro. Com facilidade caímos em armadilhas. O que parece bom revela-se mau, o que na ponta da língua era doce mostra-se amargo ao engolirmos, o que é suave ao toque rasga nossa carne quando nos abraça. Assim será enquanto vivermos nesse vale de lágrimas: uma batalha sem fim para não sucumbirmos ao mal, à tristeza, à penúria, à escuridão que é viver sem Deus.
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Talvez nesse momento alguém que leia este texto esteja convencido de que há dor demais, mentiras e traições demais nesse mundo e que a vida não vale mais a pena ser vivida. Digo a essa pessoa: há esperança! Não pare na primeira Eva, que desobedeceu e colheu os frutos amargos da desobediência! Maria disse sim a Deus! Se Eva seduziu Adão ao pecado, Maria, a Nova Eva, coopera com a nossa redenção. A Mãe do Salvador é também Mãe de todos nós. Mais do que isso, é (1) Mãe de misericórdia, (2) vida, (3) doçura e (4) esperança nossa.
Isso mesmo!
(1) Se é o peso dos seus pecados que o oprime, que o leva a crer que não há mais saída nem perdão, que não adianta mais tentar, porque você não tem jeito, clame à Mãe de misericórdia, Maria, Mãe da divina graça, Mãe amável e admirável! Ela cobrirá você com seu manto e o conduzirá até o seu Imaculado Coração e, de lá, até o Sagrado Coração de seu Filho Jesus.
Vinde em nosso auxílio, Mãe de misericórdia!
(2) Se é o aguilhão da morte ou da doença que lhe fere – a perda de um ente querido, uma doença grave, a limitação proveniente de uma enfermidade, Maria é vida, pois seu sim nos trouxe Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Como disse São Luís Maria Grignion de Montfort, “Foi ela (Maria) quem deu o ser e a vida ao Autor de toda graça, e, por causa disso, é aclamada com o título de Mãe da graça”. Recorra à Mãe da graça e você não será frustrado.
Vinde em nosso auxílio, Virgem Maria, vida nossa!
(3) Se o cálice que a vida lhe tem oferecido é amargo demais, como o vinagre que aqueles malvados ofereceram a Jesus no Calvário, recorra à doçura de Maria. Sua vida não tem que ser azeda porque lhe acontecem contrariedades. Nossa Senhora viveu as sete dores, uma espada transpassou seu coração, mas isso não lhe tirou a suavidade, a bondade, a leveza da Mãe que a todos acolhe com uma palavra doce e terna. Peça à Mãe do céu que seja doçura na sua vida!
Vinde em nosso auxílio, Virgem Maria, doçura nossa!
(4) Você não tem mais forças, nem ânimo, nem vontade de dar mais um passo? Para onde quer que você tenha apontado suas armas, os inimigos têm se mostrado ainda mais agressivos, violentos e opressores? Você não enxerga mais nenhuma luz, nenhuma saída, não há mais esperança em seu coração? Deixe a Mãe da esperança embalar você no colo, consolá-lo, acalmá-lo. Maria esperou contra toda esperança quando disse “Sim” à proposta do anjo Gabriel, quando ouviu as profecias dolorosas de Simeão e de Ana, quando fugiu para o Egito e quando viu seu filho ser crucificado. Cheia da Graça, a Virgem Maria nunca perdeu o ânimo e certamente animou os apóstolos naqueles dias que precederam a Ressurreição, quando esperavam o Pentecostes e ainda mais nos momentos de maior perseguição por parte dos judeus. Recorra ao auxílio da Virgem Maria se tem lhe faltado esperança para continuar a sua caminhada nesse vale de lágrimas.
Vinde em nosso auxílio, Virgem Maria, esperança nossa!
Por fim, rezemos, suplicando o auxílio da Santa Mãe de Deus:
Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós bradamos os degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre,
ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus,
para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Amém.