Os dons ordinários são sementes de santificação
Neste artigo, ressalto a importância dos dons do Espírito Santo na vida cristã. As perguntas que se querem responder aqui é: o que são e para que servem os dons ordinários na vida da Igreja? Utilizei como fonte as aulas de pneumatologia com o Professor Dr. Pe. Mariano Weizenmann – SCJ.
:: A vida depende da adesão à Palara de Deus
Sabemos que ordinário é tudo aquilo que é comum: todos os batizados possuem. Os dons ordinários são dons do Espírito Santo, dado a todo batizado para a sua santificação. São chamados “infusos”, porque são infundidos no batismo e reforçados no Crisma. São eles: sabedoria, entendimento, conselho, força, ciência, piedade e temor de Deus.
Sabedoria
Inspira o homem a agir corretamente, a falar inteligentemente em situações concretas da sua vida ou de sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a vontade de Deus, no dia a dia, no matrimônio, no trabalho, na educação dos filhos, nos relacionamentos com os irmãos e na sua vida cristã. É uma orientação de Deus sobre como viver cristãmente.
Ciência
Desvenda os mistérios de Deus. É um “olho espiritual” que vê além da realidade aparente. Esse dom “faz ver” o que é divino sob a aparência do que é material; descobre o significado teológico da criação, vendo nelas a verdade, a beleza, reflexos do Criador e de seu infinito amor.
Entendimento
Dá-nos uma compreensão profunda das verdades reveladas, isto é, das verdades “ensinadas” pela Igreja. “Entender” significa “tender para dentro”, com o sentido de buscar profundidade. Por exemplo, entender Jesus vivo e real nas espécies eucarísticas do pão e do vinho, entender a profundidade da graça do batismo, da redenção etc.
Conselho
É um “ouvido espiritual atento” à voz de Deus. É uma fidelidade às inspirações do Espírito Santo que a todo momento nos orienta, advertindo-nos contra o mal e o pecado, e impulsionando-nos a fazer o bem. Também chamado “dom da prudência”, discerne o certo do errado, o bem do mal, levando-nos a agir segundo Deus, sem precipitações. Tira-nos da inconsequência de nossos atos e leva-nos à vigilância: “O homem prudente percebe o mal e se põe a salvo, os imprudentes passam adiante e aguentam o peso” (Prov. 27,12).
Fortaleza
Imprime em nossa alma um impulso que nos permite suportar as maiores dificuldades e tribulações, e realizar, se necessário, atos sobrenaturalmente heroicos no cotidiano da nossa vida.
Piedade
É ternura filial para com Deus nosso Pai, amor sobrenatural e santo ardor, e uma terna afeição para com as suas criaturas. Faz-nos ver no próximo um filho de Deus e irmão de Jesus Cristo; leva-nos a devotar amor sincero para com todas as pessoas e todas as coisas criadas. Deus nos trata com piedade, isto é, com “ternura” paterna. Dá-nos muito mais do que merecemos ou necessitamos. O dom da piedade nos faz justos, dando ao outro (a Deus e ao próximo) o que lhe pertence, porém, sem medidas.
Temor de Deus
É um dom do Espírito Santo que nos inclina ao respeito filial para com Deus. Um respeito perfeito e amoroso, que nos afasta do pecado por amor. O filho que ama o pai não quer ficar longe dele nem fazer algo que o possa magoar. É um temor nobre que brota do amor.
Os dons ordinários são sementes de santificação. Quem dá a semente é o Espírito Santo. O crescimento é obra conjunta do Espírito Santo e do batizado. Deus nos deu o campo: a vida; deu-nos a semente e a semeou neste campo: o nosso coração(alma); dispõe a nosso favor a chuva (graça) para fecundá-la e fazê-la crescer. A nossa parte é:
- 1°) querer esse crescimento;
- 2°) trabalhar a terra do nosso coração removendo todo obstáculo, sujeira ou “erva daninha”(pecado)
- 3°) buscar a chuva da graça através de vida de oração pessoal e comunitária através dos sacramentos. Seus frutos são (Gal.5,22-23): caridade, alegria (gozo/consolo), paz, paciência, benignidade (afabilidade), bondade, longanimidade, brandura (mansidão), fé, modéstia, continência (temperança/equilíbrio), castidade.
Os dons ordinários fazem com que os membros de Cristo produzam frutos de santidade, que é uma restauração em nós da verdadeira imagem e semelhança de Deus. Cristo-Cabeça da Igreja é Santo, e santo devem ser seus membros. Esses dons e frutos (Apoc.19,7-8) “adornam” a Esposa de Cristo e a prepara para encontrar-se com seu Esposo, na parusia (2ª vinda de Cristo). Particularmente, isso acontece com cada batizado até seu encontro pessoal com Cristo, que acontece no dia de sua morte.
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Podemos dizer que os dons ordinários são destinados ao nosso bem pessoal, enquanto que os extraordinários são destinados ao bem do próximo (missão). Diz a Igreja que os dons, todos, ordenam à santidade, ao bem da Igreja. Portanto, que possamos fazer crescer com os dons ordinários e alcançarmos a santidade, pois esta é a nossa vocação.
Ricardo Cordeiro
Seminarista da Comunidade Canção Nova