O martírio de São Maximiliano Kolbe também foi pelas famílias, que aliás, estão precisando mais do que nunca de intercessão, de oração e de sacrifícios
A vida de São Maximiliano Kolbe foi marcada desde cedo por um grande amor a Maria e a Cristo. Sua própria mãe conta que em determinada oportunidade, ele fez alguma travessura que a levou a dizer-lhe: “Não sei o que vai ser de você, meu filhinho!” Algum tempo depois, já tendo esquecido da advertência, ela notou que o comportamento do pequeno Maximiliano mudou demais, segundo ela, “a ponto de ficar irreconhecível”. Depois de muito insistir com ele sobre o que tinha acontecido, ele lhe contou que quando ela o advertiu, ele rezou muito, pedindo que Nossa Senhora lhe dissesse o que seria dele. A Virgem apareceu diante dele com duas coroas na mão, uma branca e outra vermelha e perguntou-lhe, cheia de ternura, se ele gostaria de possuí-las. Explicou que a branca significava que ele seria sempre puro; e a vermelha que seria um mártir. Ele respondeu que sim, que as queria. “Agora, quando vou à igreja com você e papai” – disse o pequeno Maximiliano à sua mãe –, “imagino que não são vocês dois que estão comigo, mas São José e Nossa Senhora”.
:: Gemendo e chorando neste vale de lágrmas
Maximiliano tornou-se frade, foi ordenado sacerdote e viveu intensamente a sua vida missionária, sempre profundamente ligado a Nossa Senhora. Não à toa, fundou a Milícia da Imaculada, movimento que tinha por finalidade “procurar a conversão dos pecadores, dos hereges, dos cismáticos e, especialmente, dos maçons e dos judeus. Além da santificação de todos sob o patrocínio e por intermédio da Imaculada”. Faltava-lhe, porém, a coroa vermelha, e os ventos que agitavam a Europa nas décadas de trinta e quarenta conduziram seu barco até o sul da Polônia, até Auschwitz. Preso em fevereiro de 1941 pela Gestapo, a polícia secreta oficial da Alemanha Nazista, o padre Kolbe chegou ao maior campo de concentração nazista em 28 de maio daquele mesmo ano, sendo identificado pelas autoridades nazistas pelo número 16.670. Dois meses depois, em julho, a fuga de três prisioneiros e a maldade do comandante daquele campo prepararam a coroação de São Maximiliano Kolbe, ainda que naquela ocasião ele sequer desconfiasse disso. Ele vivia o presente, consolando os aflitos, ministrando-lhes os sacramentos, dentro das possibilidades de onde se encontravam, celebrando a Eucaristia, ajudando os doentes, animando os entristecidos. Como represália pela suposta fuga, o comandante nazista ordenou que dez pessoas fossem levadas para uma cela subterrânea, onde seriam privados de luz solar, água e comida e permaneceriam até a morte cruel e lenta.
“Queria morrer no lugar de um daqueles”
A leitura da lista com os dez nomes escolhidos provocou, como era de se esperar, tristeza, desamparo e desespero nos condenados, mas o lamento de um deles, Franciszek Gajowniczek, tocou profundamente o coração do padre Kolbe, pois seu grito foi:
“Minha pobre mulher e meus filhos, que não os volto a ver!”
Impossível saber com certeza que pensamentos passaram pela mente de São Maximiliano Kolbe ao ouvir aquela frase, mas é provável que ele tenha ouvido a voz clara de Jesus a lhe dizer: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos” (Jo 15, 13). Com a dignidade de um rei prestes a ser coroado, aquele padre alto, esguio e sujo saiu das fileiras e caminhou com passo firme na direção do cruel comandante do campo, que imediatamente sacou sua pistola e a apontou-a no peito do prisioneiro que se aproximava.
“Alto!”, gritou. “Que quer de mim este sujo polaco?”
“Queria morrer no lugar de um daqueles”, disse São Maximiliano Kolbe, apontando na direção dos dez condenados.
“Por quê?”
“Já sou velho e não sirvo para nada. A minha vida para nada mais se aproveita…”
“E por quem você quer morrer?”
“Por aquele. Tem mulher e crianças – e apontou para Franciszek Gajowniczek, que ainda chorava, inconsolável.
“Mas quem é você?”, gritou.
“Um padre católico”.
Com esse diálogo impressionante São Maximiliano Kolbe escalava a montanha que leva ao céu, adentrava o recinto mais íntimo do seu castelo interior, unia-se a Cristo não apenas na Cruz, mas no Horto das Oliveiras, na flagelação, na Via Crucis, porque seu martírio, ele bem sabia, não seria rápido nem indolor. Seriam dias e dias de agonia, de fome, de frio e de sede. São Paulo diz que “dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5,7-8). São Maximiliano Kolbe não sabia se aquele homem cuja vida ele decidira salvar era justo ou não, era bom ou não, era católico ou não. Sabia apenas que tinha mulher e filhos, e foi isso que o motivou a entregar a própria vida por amor.
“Minha pobre mulher e meus filhos, que não os volto a ver!”
A profecia
São Maximiliano Kolbe sensibilizou-se demais com essas palavras, talvez imaginando o desamparo e a dor da família daquele homem, talvez voltando ao seu tempo de criança e pensando como seria duro crescer sem seu pai ou sem sua mãe. Sua segunda coroa foi sua oferta definitiva de amor a Deus, afinal, ofertou a sua própria vida. Mas não podemos perder de vista que o santo polonês deu sua vida para salvar uma família. Havia outros nove prisioneiros lá, mas foi o lamento daquele homem sobre sua esposa e seus filhos apressou o cumprimento da profecia de Nossa Senhora na vida de São Maximiliano. Podemos dizer, portanto, que o martírio de São Maximiliano Kolbe também foi pelas famílias, que aliás, estão precisando mais do que nunca de intercessão, de oração e de sacrifícios. Incontáveis pais vivos parecem proclamar hoje: “Minha pobre mulher e meus filhos, que não os volto a ver!” A diferença para aquele sargento polonês é que hoje eles dizem isso com um sorriso no rosto, sem tristeza e sem culpa, apenas alívio. O mesmo se pode dizer, infelizmente, de muitas esposas, que vivem como se o marido e os filhos não fossem mais importantes que suas carreiras, seu bem-estar, seu lazer, seu descanso.
Há mais de oitenta anos, um sacerdote deu a própria vida para salvar a integridade de uma família, para evitar que ela se despedaçasse. Em que medida você, que é casado(a), dá a sua própria vida, se sacrifica, enfrenta o frio, a fome, a sede, a privação e até a morte para proteger aqueles que Deus lhe deu? Qual o seu papel atualmente em relação à sua família? Você tem agido mais como São Maximiliano Kolbe, que morreu para que a família permanecesse viva, ou na verdade seus atos são mais parecidos com o daquele comandante do campo de concentração, que mandou um dos membros da família para a morte?
Se você não sabe bem qual a resposta, peça a intercessão de São Maximiliano Kolbe, para que ele ajude você a cuidar da sua família.
São Maximiliano Kolbe, rogai por nós!