⛪ Santuário

O apelo à santidade na Mensagem de Fátima

A Virgem Maria é o modelo a ser imitado

A “santidade” é uma característica inerente aos ensinamentos que a Santíssima Virgem verbalizou em suas aparições em Fátima, Portugal. Por isso, constitui o décimo nono apelo da obra “Apelos da Mensagem de Fátima” da autoria da serva de Deus Irmã Lúcia. Para explicitá-lo, a vidente coloca em relevo a aparição de Nossa Senhora do Carmo (conforme o décimo oitavo apelo) para evidenciar que, além dessa aparição significar um apelo à vida de plena consagração a Deus, também significa que o apelo à santidade é destinado a todos os fiéis batizados. Então, mostra que a Virgem Maria é o modelo a ser imitado, uma vez que se manteve fiel aos desígnios Deus a seu respeito:

Nossa Senhora santificou-se como virgem pura e imaculada, correspondendo às graças que Deus, nesse estado, lhe concedeu; santificou-se como esposa fiel e dedicada, no cumprimento de todos os seus deveres de estado; santificou-se como Mãe amorosa que se desvela pelo Filho, que Deus lhe confiou […]. Com Ele, percorreu o caminho estreito da vida, a estrada escabrosa do calvário; com Ele, agonizou, recebendo, no seu coração, as feridas dos cravos, o golpe da lança e os vitupérios da multidão amotinada; santificou-se, enfim, como Mãe, mestra e guia dos Apóstolos, aceitando ficar na terra, pelo tempo que Deus quisesse para realizar a missão que Ele lhe havia confiado de corredentora com Cristo da humanidade. (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 196).

De igual modo, o Concílio Vaticano II apresenta Maria como modelo perfeitíssimo na fé e na caridade com os seguintes termos: “Maria é saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afeto de piedade” (Lumen Gentium, 53). Tendo em conta que, como judia fiel, Nossa Senhora era conhecedora da Torá e vivia sob a luz de seus ensinamentos, a Irmã Lúcia alude à Palavra de Deus, fundamento primordial do convite à santidade, nela descrito da seguinte forma: “Pois eu sou o Senhor, vosso Deus. Vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44). E ainda: “O Senhor disse a Moisés: ‘Dirás a toda a assembleia de Israel o seguinte: sede santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo’ ” (Lv 19,1-2).

Deste modo, demonstra que a vocação comum de todos os filhos de Deus é a santidade, sendo este o caminho seguro pelo qual se pode andar em Sua divina presença, conforme evidencia a seguinte perícope: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro” (Gn 17,1). A serva de Deus esclarece que andar na presença de Deus é trazer sempre na mente e no coração a certeza de que Seu olhar misericordioso vela sobre nós, o que nos torna mais conscientes de que não devemos ofendê-Lo, antes pelo contrário, devemos cumprir Suas Leis e estreitar os laços de uma profunda união com Ele, que é a fonte única da santidade.

Constituição dogmática

Assegura, sobretudo, que é pela união com Jesus Cristo que podemos oferecer a Deus um sacrifício que Lhe agrade, conforme salienta a carta aos Hebreus: “Por Ele ofereçamos a Deus sem cessar sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome (Os 14,2). Não negligencieis a beneficência e a liberalidade. Estes são sacrifícios que agradam a Deus!” (Hb 13,15-16). Nesta perspectiva, afirma que um grau de íntima união com Deus é o que todos os cristãos devem desejar e para isso devem lutar – auxiliados pela divina graça – contra as tentações da carne, do demônio e do mundo que a todo custo lhes faz almejar ambições terrenas, tais como as honras e os cargos. Mostra, portanto, que a recomendação de Jesus a este respeito é um remédio tão necessário como eficaz para combater principalmente as tentações do orgulho e da vaidade, grandes inimigos da santidade e, portanto, da salvação eterna: “O que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt 20,27-28). Salienta que é na medida da entrega a Deus que a pessoa humana pode haurir da compreensão de Sua Palavra “revelada aos pequeninos” (Mt 11,25), e assim pode assemelhar-se ao Seu Criador refletindo na vida Sua beleza e perfeição. De acordo com São João Evangelista, afirma que o amor de Deus é o vínculo da verdadeira santidade: “Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5,3-4). Neste sentido, destaca-se o ensinamento da Constituição dogmática sobre a Igreja do Concílio Vaticano II, uma vez que nos ilumina acerca do chamado universal à santidade quando diz:

Todos na Igreja quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tess. 4,3; Ef. 1,4). Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta e deve manifestar-se nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo. (Lumen Gentium, 39).

Com efeito, cada cristão conduzido pelo Espírito de Cristo é chamado a ser um outro Cristo – sendo “fermento na massa” (Mt 13,33) – mostrando Sua face ao mundo, amando como Ele amou, isto é, sacrificando-se em prol do próximo, para que, deste modo, muitas pessoas possam encontrá-Lo e sejam por Ele santificadas. Em suma, pode-se afirmar que o apelo à santidade pedido insistentemente pela Santíssima Virgem em Fátima traduz-se em seu convite à conversão e se concretiza quando o homem adere a Nosso Senhor Jesus Cristo e faz d’Ele a opção fundamental de sua existência. Assim, pode experienciar que Ele “dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” (Deus caritas est,1).

Esse tema será abordado na catequese temática, que será transmitida por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, através do Instagram do Santuário do Pai das Misericórdias, no dia 1 de agosto com início às 10h.

Até que acabe este tempo de pandemia, encontraremo-nos através dessas redes sociais, na certeza de que continuaremos unidos na intenção de reparar os Sagrados Corações de Jesus e de Maria, tão desejosos de ver todos os fiéis cristãos empenhados na luta pela santidade. Que a Santíssima Virgem nos ajude!

Áurea Maria
Comunidade Canção Nova

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Referências:

BENTO XVI. Carta Encíclica Deus caritas est. 25 dez 2005. Disponível em: http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20051225_deus-caritas-est.html. Acesso em: 26 jul. 2020.

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA Lumen Gentium sobre a Igreja. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 37-117.

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

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