“O Brasil precisa de santos, de muitos santos!” Assim o então Papa São João Paulo II – hoje santo – encerrou a sua homilia na celebração da beatificação de Madre Paulina, fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição. Ele não falou isso à toa, naturalmente. Não era uma frase da boca para fora e muito menos algo dito sem um sentido profundo, verdadeiro. Desconfio que de todo o profundo saber espiritual, moral e teológico que o papa possuía, ao dizer essa frase talvez tenha vindo à sua memória, de maneira bem específica, a preciosíssima lição de um antigo professor seu, uma das mentes mais brilhantes do século XX, o frade dominicano francês Réginald Marie Garrigou-Lagrange. Ele ensinava que uma obra de Deus é composta por quatro tipos de pessoas: santos, fervorosos, tíbios e maus. Os maus são aqueles escravizados pelo pecado. Perderam o desejo de mudar, vivem muitas vezes uma vida dupla, uma máscara de bondade que não corresponde à perversidade de seu coração. Os tíbios são aqueles que carregam em si o desejo de ser de Deus, mas, por negligência, preguiça, falta de compromisso, cede aos “pequenos pecados” e acabam adoecendo a si mesmos e aos que o cercam, acabando com o vigor, a pureza e a radicalidade de qualquer obra. Os fervorosos são o oposto dos tíbios: têm falhas, têm limitações, mas estão decididos a vencê-las, a colocar Deus como centro de suas vidas e a amar a Deus sobre todas as coisas. Os santos são aqueles que já colocaram Deus no centro, que já amam tanto a Deus que se uniram a ele como uma só alma e um só coração.

Imagem: Frei Galvão, Santa Dulce dos Pobres, São José de Anchieta, Beata Nhá Chica, Venerável Guido Schaffer e Beata Isabel Cristina
Para que a obra persevere, os maus devem ser pouquíssimos, quase inexistentes, porque basta um para contaminar muitos com sua maldade. Os tíbios também devem ser muito poucos e os fervorosos devem ser maioria absoluta. Não haverá tantos santos, diz o professor, mas não há obra de Deus sem santos. Um santo é uma verdadeira revolução no mundo porque, nas palavras do Papa João Paulo II, eles têm uma notável “capacidade de despertar o desejo de Deus naqueles que têm a felicidade de deles se aproximar”.
Se entendemos uma nação como a grande obra de Deus que de fato ela é, percebemos que o raciocínio de Garrigou-Lagrange também se aplica ao Brasil e compreendemos quão certeiro foi o apelo de São João Paulo II. Infelizmente, é forçoso reconhecer que na obra de Deus que é o nosso país, há mais maus e tíbios do que deveria, muito mais. Por isso, mesmo que haja também muitos fervorosos, precisamos de santos, muitos santos, que, com sua vida, seu testemunho, sua radicalidade, despertem nas pessoas um desejo profundo de Deus.
Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus nos dá esse testemunho ardente, assim como tantos outros santos e beatos reconhecidos pela Igreja: Santo Antônio de Sant’Anna Galvão, Santo André de Soveral e seus companheiros mártires, Santa Dulce dos Pobres e tantos outros. Se buscarmos conhecer um pouco sobre a vida deles, veremos como cada um é um farol que leva a luz de Cristo para trevas que tão cruelmente flagelam nossa nação.
As vidas de Santa Paulina, da Beata Bárbara Maix e de Santa Dulce dos Pobres foram sinal de amor aos pobres, humilhados, excluídos e abandonados, até hoje tão numerosos nesse que é um dos países mais desiguais do mundo.
O Beato Inácio de Azevedo e Santo André de Soveral e seus companheiros mártires são um grito de dor do Coração de Cristo, que foi também vítima da violência, da perseguição e da intolerância, realidades tão presentes no Brasil.
As beatas Albertina Berkenbrock, Lindalva Justo de Oliveira, Isabel Cristina e Benigna compartilham o mesmo testemunho radical do martírio pela pureza, sem a qual é impossível ver a Deus. Quão atual é esse testemunho num Brasil tomado pela promiscuidade, pela hiperssexualização feminina – e até infantil! – nas vestes, nas músicas, nos filmes, em tudo.
Muitos clamam aos quatro ventos que “o Brasil está perdido”, porque só se vê maldade, ganância, miséria, luxúria, enfim, só o que há de pior. Esses são os “profetas da desilusão”. Por isso precisamos de santos, para proclamar o contrário: Há esperança! Há pureza! Há amor e sacrifício pelos miseráveis! Há quem dedique a vida para cuidar dos desamparados!
A Igreja nos ensina que a santidade é uma vocação universal. É um chamado, portanto, para Santa Dulce dos Pobres, para o Servo de Deus padre Leo, para o saudoso padre Jonas Abib, mas também para mim e para você! “A santidade é a prova mais clara, mais convincente da vitalidade da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares”, diz São João Paulo II. Não há meio termo, nos ensinou o padre Jonas: ou santos ou nada!
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Sejamos, pois santos também nós, e com a santidade da nossa vida incendiemos o Brasil com o fogo do Espírito Santo, e levemos o amor de Cristo àqueles que estão necessitados.







