VOCAÇÃO FAMILIAR

O dom da família para o mundo de hoje

“Nós, como famílias cristãs, devemos nos alegrar por ter diante de nós um chamado tão grande de Deus.”

O Papa Francisco, em uma de suas homilias, disse que “a fé deve ser transmitida, oferecida, sobretudo através do testemunho” (cf. Homilia do dia 25 de abril de 2020). Se aplicarmos essa exortação de Francisco às famílias dos tempos atuais, então, veremos que há, diante de nós — ao mesmo tempo —, um desafio e uma oportunidade. 

 

Deividson, Catarina e Geovana, após o batizado | Foto: Arquivo Pessoal

O mundo de hoje se opõe às famílias, especialmente às cristãs. Hoje, há um alto índice de divórcios, uma baixíssima tolerância das pessoas aos defeitos do outro e a suportar e enfrentar as dificuldades e compromissos próprios dos relacionamentos. É como se houvesse uma cultura do descomprometimento, em que o outro só é considerado necessário enquanto tem utilidade para mim, enquanto não me contraria ou me desinstala e também enquanto me dá prazer. Quando surgem as exigências da tolerância, do perdão, da paciência, do abrir mão das próprias vontades e conforto para ajudar o outro, então, já não serve mais, é melhor parar por aí e partir para outra. Por tantas vezes, também o próprio Papa Francisco alertou para o risco de nos isolarmos em ilhas digitais. Faz-se conexão com milhares de pessoas em redes sociais, mas não se está atento a quem está do lado. Uma outra denúncia do Papa, casais que se fecham à vida. Se unem em matrimônio, mas não querem ter filhos, porque esses, segundo pensam, atrapalhariam os planos de felicidade do casal. São muitos os desvios nestes tempos. 

A origem da família está em Deus. Não foi um plano estepe. Absolutamente, é parte original do plano de Deus. Quando Deus pensou e criou o ser humano, também o fez dentro de uma família. Dizia São João Paulo II que “a família é o santuário da vida. A célula mãe de toda a sociedade”. Não é uma estrutura simplesmente humana ou social, é anterior a elas, é um desígnio de Deus. 

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A Sagrada Escritura nos mostra como Deus pensou uma família: “Por isso, o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gn 2, 24). 

Do eu ao nós, do meu ao nosso 

O primeiro convite ao casal que quer formar uma família é para deixar… Ao se unirem, um homem e uma mulher não deixam só os pais, precisam deixar muito mais:  a vida de solteiro, as convicções fechadas em si mesmas, os planos meramente pessoais, o individualismo. A partir daí, se começa a pensar no plural, na unidade do “nós”, na comunhão. Até mesmo na maneira de realizar as ações e os projetos, deixam o “seu jeito” para construir o “nosso jeito”. O casal se torna família; e é aí que, diante do desafio do mundo atual, surge a oportunidade de testemunhar a fé, a vontade e a bondade de Deus. Nós, como famílias cristãs, devemos nos alegrar por ter diante de nós um chamado tão grande de Deus. É, de fato, uma oportunidade, um privilégio, poder dar testemunho de nossa fé por meio de nossas famílias. E os filhos, que observam atentamente a maneira de ser dos pais, passam a aprender o que é ser família nos planos de Deus, pois o seio da família é a primeira e principal catequese. 

“O testemunho da unidade e da comunhão está na raiz da família.” | Foto: Arquivo Pessoal

Tudo pode se tornar oportunidade 

Em tempos de tantos contravalores, que destroem a dignidade humana e a harmonia dos relacionamentos, a família cristã é chamada a brilhar como uma luz neste mundo; e isso acontece essencialmente por meio do testemunho. Nesse sentido, até os desafios e as dificuldades se tornam oportunidade, assim como nos testemunharam os primeiros cristãos: “Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus” (Atos 5, 41).

O que as famílias podem testemunhar? Podemos recorrer novamente à passagem de Gênesis 2, 24. Homem e mulher não só deixam, mas também se unem. O testemunho da unidade e da comunhão está na raiz da família. Mas, no cotidiano, as famílias também podem mostrar ao mundo a cumplicidade, a oferta de vida em favor do outro, o comprometimento, o sacrifício, a fidelidade, o cuidado para com o outro, a abertura à vida.

Os casais, especialmente, são chamados não somente a uma união da carne, mas também uma união de almas, de vida, de coração. E essa união, por sua vez, testemunhará aos filhos que família é um lugar seguro, onde podem experimentar já aqui na terra o amor que os aguarda na eternidade.

É maravilhoso o chamado de Deus para as famílias nos dias de hoje. Não tenhamos medo de viver nestes tempos. Podemos ser providência na vida de muitas pessoas por meio do testemunho de nossas famílias. Cristo está conosco, faz parte de cada família e está atento às necessidades. Ele nos diz: “Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo 6, 33).

Deividson e Catarina são casados e missionários da Comunidade Canção Nova desde 2009. Tem uma filha, a Geovana.

 

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