Orai! Orai muito!

“Oferecei, constantemente, ao Altíssimo orações e sacrifícios”

Este é o sexto apelo da Mensagem de Fátima, de acordo com o itinerário temático que o Santuário do Pai das Misericórdias está oferecendo aos peregrinos desde o mês de fevereiro deste ano, baseado na obra “Apelos da Mensagem de Fátima”, da serva de Deus Irmã Lúcia, em comunhão com o Santuário de Fátima. Conforme esses escritos, o apelo à oração teve lugar na segunda aparição do anjo, que, ao aparecer para a Lúcia e seus primos – Santos Jacinta e Francisco Marto –, os interpelou da seguinte forma: “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei, constantemente, ao Altíssimo orações e sacrifícios.” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 90). Esse apelo explícito à oração feito pelo anjo acentua o convite feito em sua primeira aparição ao ensinar a seguinte oração reparadora às três crianças: “Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo. […] Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.169).

A oração sincera, exprime o desejo mais profundo do ser humano, que consiste em saciar a alma com a presença de Deus, já que “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos.” (At 17,28). Então, “a oração, saibamo-lo ou não, é o encontro da sede de Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d’Ele.” (CIC, 2560).

As aparições do Anjo e de Nossa Senhora, em Fátima, que convidam instantemente à oração, são reconhecidas pela Igreja como revelações privadas, sendo que um dos critérios fundamentais para comprová-las é que o seu conteúdo esteja de acordo com o Evangelho e seja como que uma chamada de atenção para colocá-lo em prática, conforme demonstra o Catecismo no parágrafo 67:

“No decurso dos séculos, tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. […] O seu papel não é […] ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que, nestas revelações, constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja.”

Isso posto, pode-se observar como a Mensagem de Fátima remete aos ensinamentos de Jesus, descritos nas seguintes perícopes evangélicas, no que concerne à oração: “Vigiai e orai para não sucumbirdes na prova. O espírito é decidido, a carne é fraca” (Mt 26,41). “Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de Seus discípulos: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos’. Disse-lhes ele, então: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino’ (Lc 11,1-2)”. Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que, por sua palavra, hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21). Jesus também mostra a grande importância de fazermos orações à sós diante de Deus: “Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.” (Lc 6,12); “De manhã, tendo-se, levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração” (Mc 1,35); “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.” (Mt 6,6).

Por esta razão, pode-se constatar que os apelos de Fátima renovam a recomendação de Nosso Senhor Jesus Cristo que continua interpelando-nos: “Orai, orai muito!” Logo, pode-se afirmar que a revelação privada de Fátima está em profunda consonância com a revelação pública, ou seja, com o Evangelho, interpretado pelo Magistério da Igreja, como evidenciou o Papa São João Paulo II em sua homilia, a 13 de maio de 1982, em Fátima: “Assim, se a Igreja aceitou a mensagem de Fátima, é, sobretudo, porque essa mensagem contém uma verdade e um chamamento que, no seu conteúdo fundamental, são a verdade e o chamamento do próprio Evangelho”.

:: Devoção ao Imaculado Coração de Maria

O homem é o único ser capaz de estabelecer um relacionamento dialógico com o seu Criador, já que foi feito à Sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27), especialmente a partir da oração, que é o meio pelo qual pode O encontrar e assim se conformar à Sua vontade. Essa realidade pode ser contemplada mais precisamente na Oração proferida por Jesus Cristo em Sua suprema agonia quando suplica: “Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua.” (Lc 22,42). Essa oração é portadora de um denso sentido teológico, pois mostra que, na natureza humana de Jesus está a obstinação do homem e, com a sua luta, essa natureza recalcitrante é movida para a sua verdadeira essência. Portanto, a sua importância é explicitada pelo Cardeal Joseph Ratzinger (Papa emérito Bento XVI) nos seguintes termos:

“É verdadeiramente uma oração do Filho ao Pai, na qual a vontade humana natural foi totalmente arrastada para dentro do Eu do Filho, cuja essência se exprime precisamente no ‘não Eu, mas Tu’, no abandono total do Eu ao Tu de Deus Pai. Mas este ‘Eu’ acolheu em si a oposição da humanidade e transformou-a de tal modo, que, agora, na obediência do Filho, estamos presentes todos nós, somos todos arrastados para dentro da condição de filhos.” (RATZINGER, 2016, p.150).

A comunhão com o Pai é, certamente, a grande graça concedida por Jesus à humanidade, já que esta havia sido rompida pela desobediência dos nossos primeiros pais e fora reparada nesta Sua entrega amorosa. Em suma, a profunda humildade e obediência com que se apresenta diante de Deus, tratando-O como Pai, inaugura um tempo de maior proximidade e intimidade, deixando entrever que o Seu amor oblativo é o elo entre o homem e Deus, ou seja, o componente essencial da oração. É a essa experiência oracional que nos conforma com a vontade divina, que a Mensagem de Fátima nos convida a vivenciar, especialmente a partir da oração reparadora ensinada pelo Anjo em Fátima e por Jesus e pela Santíssima Virgem em Pontevedra na Espanha.

:: A Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados

No próximo dia 6 de julho de 2019, este será o tema abordado na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no Santuário do Pai das Misericórdias, com início às 10h. Certamente, proporcionará um maior entendimento sobre a importância da nossa união com Deus por meio da oração contemplativa do santo terço, da meditação da Palavra e dos sacramentos da comunhão e da confissão, em prol da salvação da nossa alma e do nosso próximo.

 

Áurea Maria
Comunidade Canção Nova

 

REFERÊNCIAS

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. São Paulo: Loyola, 2000.

IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.

IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.

JOÃO PAULO II. Homilia do Papa São João Paulo II em Fátima. 13 maio 1982. Disponível em: https://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1982/documents/hf_jp-ii_hom_19820513_fatima.html. Acesso em: 01 jul. 2019.

RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. Tradução de Bruno Bastos Lins. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2016.

SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.

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