OITAVA DE NATAL

Os Santos Inocentes

A tradição da Igreja conserva de viva memória a vida destas crianças, que, nos primórdios da existência, souberam o que é a maldade dos homens

São Mateus relata, no seu Evangelho, que, após a visita dos reis magos, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e o mandou tomar o menino e a sua mãe e fugir para o Egito, porque Herodes queria matar o menino. 

Ao saber do nascimento de um menino que veio para governar, Herodes sentiu-se ameaçado e tentou fazer um acordo com os reis magos para saber onde este menino se encontrava, não tendo êxito, “mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, de acordo com o tempo indicado pelos magos” (Mt 2, 16). A atitude do monarca revela a ganância dos homens e que o amor desordenado pelo poder pode levar a decisões desumanas. 

A tradição da Igreja conserva de viva memória a vida destas crianças, que, nos primórdios da existência, souberam o que é a maldade dos homens e, de alguma forma, o sacrifício por causa de Cristo. A liturgia, durante a oitava do Natal do Senhor, celebra esta festa em que este episódio bíblico é lembrado, e celebra com tons de solenidade, porque não há maior dignidade do que aquela que recebem os que deram a sua vida por Cristo. Foi pela oferta inocente destas crianças e de tantos pais que choraram a desumanidade dos homens que o mistério salvífico de Cristo pôde chegar até a cruz. Nesta dor também se encontra redenção. 

 

Foto: Fiore Bagatello @fiorebagatello by Cathopic

Ao “presentificarmos” anualmente na liturgia este fato, a Igreja nos convida a lembrar que também hoje crianças sofrem com a maldade dos homens. Como não lembrar de crianças que sofrem com a fome, com a violência, privadas de uma vida familiar digna? Como não lembrar dos imigrantes que, a exemplo de Jesus, também hoje fogem das atrocidades dos homens? Como não recordar que, ao longo dos séculos, o número de inocentes, que nem sabem que o seu sofrimento é unido ao da Paixão de Cristo, cresceu? Como achar que a crueldade no coração dos homens diminuiu?  

De forma especial, lembramos e rezamos neste dia por todas as crianças que foram abortadas. Crianças que foram assassinadas antes mesmo de nascerem e, por isso, também podem ser lembradas como santos inocentes. Como afirmou o Papa Francisco, são crianças que ainda hoje sofrem atrocidades comparadas com as do nazismo, mas agora de “luvas brancas”. São inocentes; e o sangue delas bradam aos céus por justiça. Por elas e pelos seus responsáveis rezamos e confiamos aos cuidados do Senhor. 
  


A festa de hoje é parte integrante da História da Salvação e, por um desígnio misterioso da Providência de Deus, podemos unir os sofrimentos de tantos inocentes que ainda hoje, pelo seu sofrimento, se unem aos sofrimentos de Cristo e são causas de redenção para a humanidade. É tempo de celebrar e cantar como o salmista: “
Nossa alma como um pássaro escapou do laço que lhe armara o caçador”. Por mais que o nosso corpo pereça, a nossa alma precisa ser guardada com Cristo na eternidade. Também os nossos sofrimentos por Cristo podem ser causa de redenção. 

Um feliz e santo Natal!

 

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