Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados
Depois de ter discorrido sobre os nove apelos proferidos pelo Anjo de Portugal em suas aparições aos pastorinhos de Fátima em 1916, de acordo com a obra da Ir. Lúcia intitulada “Apelos da Mensagem de Fátima”, daremos continuidade a essa sessão temática, que passará a ter como base referencial as aparições de Nossa Senhora a partir de 1917.
Como décimo apelo, a Ir. Lúcia destaca a oração diária do santo Terço, pedida por Nossa Senhora, em Fátima, já em sua primeira aparição no mês de maio. Todavia, evidencia como essa oração foi por Ela constantemente lembrada nas aparições posteriores até o mês de outubro. No seu livro intitulado “Memórias da Ir. Lúcia” (2015) descreve este veemente pedido da Santíssima Virgem da seguinte forma:
“Em maio: ‘rezem o terço todos os dias para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.’ (p.174); em junho: ‘quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias.’ (p.175); em julho: ‘quero que venham aqui no dia 13 do mês que vem, que continuem a rezar o terço todos os dias, em honra de Nossa Senhora do Rosário, para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer.’ (p. 176); em agosto: ‘quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13, que continueis a rezar o terço todos os dias.’ (p.178); em setembro: ‘continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra.’ (p. 180) e em outubro: ‘quero dizer-te que façam aqui uma capela em Minha honra, que sou a Senhora do Rosário, que continuem sempre a rezar o terço todos os dias’ (p.180-181).”
Assim sendo, em sua obra “Apelos”, a Ir. Lucia interpreta que, a recomendação desta oração, feita por Nossa Senhora, corresponde a um ato de condescendência de Deus que, em sua infinita misericórdia, oferece-a como meio pelo qual os seus filhos podem unir-se a Ele, ao contemplar com Maria Santíssima os mistérios da vida do Redentor, sobretudo, por ser esta uma prática acessível a todos. Então, explicita que não pediu, por exemplo, a participação diária na Santa Missa nem a oração da Liturgia das Horas, visto que, muitas pessoas, por justos motivos, não teriam a possibilidade de colocá-las em prática.
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Contudo, pode-se constatar a profunda relação da Mensagem de Fátima com o Magistério da Igreja que, no decurso dos séculos, por meio dos Sumos Pontífices, têm demonstrado o valor salvífico desta oração e, por isso, insistido junto aos cristãos para que sejam fiéis, no seu exercício, conforme assegura o Bento XV em sua Encíclica Fausto Appetente Die: “Os Romanos Pontífices jamais deixaram passar ocasião alguma de exaltar com os maiores louvores o Rosário mariano e de enriquecê-lo com indulgências apostólicas” (N. 11). Nesta perspectiva, pode-se evidenciar o que o Papa São Paulo VI declarou a este respeito em sua Encíclica Mense maio: “Não deixeis de inculcar, com a maior insistência, a reza do Santo Rosário, oração tão agradável à Virgem Maria e tão recomendada pelos Sumos Pontífices.” Destaca-se de igual maneira o Papa são João Paulo II, devido a sua eloquente devoção a Nossa Senhora salientada em sua Carta Rosarium Virginis Mariae: “Muitos dos meus Predecessores atribuíram grande importância a esta oração. […] Eu mesmo não descurei ocasião para exortar à frequente recitação do Rosário” (N. 2)
“Cada mistério do Rosário, bem meditado, ilumina o mistério do homem”. Dito isso, faz-se necessário ressaltar que, essa oração constantemente proposta pela Igreja Católica deve ser rezada de forma contemplativa, sendo que, privada desta dimensão, perderia o seu sentido, conforme explicita o Papa são Paulo VI em sua Exortação Apostólica Marialis cultus:
“Sem contemplação, o mesmo Rosário é um corpo sem alma e a sua recitação corre o perigo de tornar-se uma repetição mecânica de fórmulas e de vir a achar-se em contradição com a advertência de Jesus: ‘Nas vossas orações, não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos.’ (Mt 6,7). (N. 47).”
Tendo em conta que é precisamente a partir da contemplação dos mistérios da vida do Verbo encarnado que a verdade sobre o homem é revelada, conforme declara o Concílio Vaticano II (GS. 22), este é, então, chamado a recitar a oração do santo Terço em que são contemplados os mistérios da vida de Jesus, num ritmo tranquilo que lhe favoreça a meditação e, portanto, a comunhão com o Senhor. Nesse sentido, o Papa são João Paulo II ratifica: “Cada mistério do Rosário, bem meditado, ilumina o mistério do homem” (Rosarium Virginis Mariae, N. 25). Desta maneira, através d’Aquela que mais de perto esteve em contato com o Senhor, o homem tem acesso às Suas insondáveis riquezas.
Áurea Maria,
Comunidade Canção Nova
REFERÊNCIAS
BENTO XV. Encíclica Fausto Appetente Die. 29 jun 1921. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/benedict-xv/en/encyclicals/documents/hf_ben-xv_enc_29061921_fausto-appetente-die.html. Acesso em: 26 out. 2019.
CONSTITUIÇÃO PASTORAL Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual. In: COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 31. ed. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 141-256.
IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.
IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.
JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae. 16 out 2002. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/2002/documents/hf_jp-ii_apl_20021016_rosarium-virginis-mariae.html. Acesso em: 26 out. 2019.
PAULO VI. Encíclica Mense Maio. 29 abr 1965. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_29041965_mense-maio.html. Acesso em: 26 out. 2019.
PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus. 02 fev 1974. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19740202_marialis-cultus.html. Acesso em: 26 out. 2019.
SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.