SANTIDADE

Qual virtude eu preciso para ser santo?

“Uma só coisa é necessária”, disse Jesus a Maria, reconhecendo que ela escolhera a melhor parte – estar em sua presença, no jantar em Betânia. Seria essa a virtude necessária para nos tornarmos santos, a contemplação? Simplesmente estar na presença de Jesus? Por um lado, sim. Somente caminhando junto a Jesus, aprendendo de seu coração manso e humilde, todos os dias, seremos santos, pois Ele é a fonte de tudo o que precisamos. Todos nós fazemos a experiência de querer estar perto de quem amamos de forma muito concreta. Sentimos necessidade da presença, do olhar, do abraço. Santidade é a resposta de quem busca amar perfeitamente a Deus. Amar é estar perto, é essa atitude de contemplação do outro. Por outro lado, amar também nos move à ação. Somos impulsionados a cuidar, compartilhar os bons momentos e nos dispormos a sofrer pelos que amamos, passar por dificuldades junto a eles, perdoar quem nos machucou. Tudo isso de maneira gratuita.

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Maria estava na presença de Jesus sem esperar recompensas. Será que podemos dizer o mesmo de Marta, que questiona: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir?”? A repreensão que Jesus faz, então, a Marta não é pelo seu agir, mas pelo fato de suas preocupações com as coisas da casa terem sobreposto a caridade (Lc 10,40ss). Jesus anseia um amor despreocupado de si, das coisas deste mundo. O santo ama de forma abandonada e confiante na graça que vem de Deus. Possui um coração pobre de si, capaz de um amor que serve aos outros, seja contemplando ou agindo, de forma livre e despojada. O santo não se apega ao bem que realiza.

 

O jovem rico seguia à risca a Lei, desde a sua mais tenra idade, e isso era louvável! Procedendo assim, ele já iria receber a vida eterna. Mas existe uma sutileza aqui. Jesus o chama a ser perfeito, a ser santo: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19, 21). Aí está algo importante, a diferença entre ser salvo e ser santo. Os santos terão seu tesouro no Céu! O jovem não consegue deixar os seus bens materiais, prefere as seguranças da terra. Jesus vê que aquele coração ainda não era despojado, não seguia os mandamentos de Deus de forma desinteressada.

Precisamos refletir: de quais seguranças e preocupações deste mundo ainda preciso me despojar? O que me impede de amar a Jesus de forma desinteressada? Aquilo que realizo em minha vida é por amor a Deus, aos irmãos, ou só ajo para alcançar bem-estar próprio? Outro detalhe interessante nesta passagem é que o jovem se despede com tristeza. Não é o que experimenta quem busca a santidade, porque a consequência de um coração caridoso é a alegria já aqui nesta vida.

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Por fim, podemos olhar para a figura de Pedro. Jesus indaga ao discípulo após a ressurreição: “Pedro, tu me amas?” e, obtendo resposta positiva, confia-lhe uma missão: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17). Não podemos nos esquecer: no caminho da santidade, ou seja, no caminho do amor, a contemplação não está separada da ação. Pedro (e você e eu) é chamado a amar a Jesus cuidando do que ele ama: as suas ovelhas, as almas. Seja na contemplação ou na ação, somos chamados a doar a vida por amor a Cristo. Serei santo quando deixar de seguir a Lei pela Lei, e viver a caridade. Essa é a virtude necessária para ser santo. “A caridade é a rainha das virtudes. Assim como as pérolas se mantêm unidas por meio de um fio, também as virtudes se mantêm unidas pela caridade. E da mesma forma que, se o fio se rompe, as pérolas caem, assim também, se a caridade diminui, as virtudes se dispersam” (São Pio de Pietrelcina).

Essa é a única coisa necessária a que Jesus se refere quando fala com Maria e Marta em Betânia. É necessário crescermos em todas as virtudes para sermos santos, é claro, mas, sem a caridade, nenhuma boa ação será frutuosa: “Se não tiver caridade, não sou nada” (I Cor 13, 2b).