A relação do primeiro Mandamento com a Mensagem de Fátima Adorar somente o único Deus verdadeiro
Em sua obra “Apelos da Mensagem de Fátima”, a Irmã Lúcia, depois de discorrer sobre os vinte apelos expressos pelo Anjo e pela Santíssima Virgem, coloca em relevo a relação de cada Mandamento da Lei de Deus com esta Mensagem. Demonstra que a fidelidade à Lei de Deus constitui o seu núcleo central, uma vez que Nossa Senhora revelou o coração de Deus ofendido pelos pecados da humanidade que implicam em sua transgressão, quando disse: “Não ofendais mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.181). Este artigo, que é dedicado ao primeiro Mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento”, abre a série sequencial em que abordaremos os demais Mandamentos tendo em conta as palavras do próprio Jesus quando disse: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei” (Mt 5,17-18).
Para explicitar a importância deste preceito, a Irmã Lúcia fundamenta-se no livro do Deuteronômio que o exprime destacando a dimensão da adoração como expressão concreta deste amor, com os seguintes dizeres:
Não terás outro deus diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura representando o que quer que seja do que está em cima no céu, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas para render-lhes culto, porque só Eu, o Senhor, é que sou o teu Deus. (Dt 5,7-9).
Nesta perspectiva, esclarece que a primeira exigência de Deus contida neste Mandamento é que o homem O adore, não porque precisa de sua adoração, dado que em sua completude não necessita de nenhum beneplácito; deste modo, Deus assegura que é o único Deus verdadeiro, digno de ser adorado e capaz de aceitar a nossa adoração e de recompensá-la. Logo, exprime a relação deste Mandamento com a Mensagem de Fátima fazendo referência ao segundo apelo da Mensagem trazida pelo Anjo, que em seu conteúdo expressa um veemente convite à adoração ao Deus único quando ensinou esta oração: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam.” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.169). Afirma que este é o preceito supremo do Amor, sendo que através da adoração podemos corresponder ao amor Deus com gratidão e generosidade, considerando que Ele nos amou primeiro, ao nos criar e cumular de inúmeros benefícios na ordem da natureza e da graça, sendo que o maior de todos é a participação na vida divina da pátria celeste. Assegura, portanto, que “a nossa adoração é fruto do amor que acredita, espera, confia e ama, dando-se numa entrega e doação plenas ao Ser amado que é Deus.” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 218).
Neste sentido, merecem destaque os parágrafos 2086-2093 do Catecismo da Igreja, uma vez que evidenciam que este primeiro mandamento encerra em si as virtudes infusas teologais da fé, da esperança e da caridade, o que significa que, para colocá-lo em prática, não basta o esforço humano, também é preciso pedir a Deus que nos dê a capacidade de corresponder ao seu amor por meio de uma fé plena, de uma esperança confiante e de uma caridade operante alimentada por um amor sincero. No que diz respeito à fé, o Catecismo considera que a nossa vida moral encontra sua fonte na fé em Deus, e o desconhecimento de Deus explica os desvios morais; assim sendo, demonstra que este mandamento consiste em crer Nele e consequentemente em testemunhá-lo. Quanto à esperança ressalta que esta virtude nos anima a aguardar a visão beatífica de Deus e também nos enche do temor de ofendê-lo e assim provocar o seu castigo; acerca da virtude da caridade evidencia que esta nos capacita a amar a Deus acima de tudo e de todas as criaturas por causa Dele.
:: O apelo a seguir o caminho do Ceú na Mensagem de Fátima
:: O apelo à santidade na Mensagem de Fátima
Pode-se observar que o próprio Jesus também exprimiu a exigência da prática deste mandamento como antídoto contra as tentações do demônio, quando disse ao ser tentado: “Adorarás o Senhor teu Deus, e a ele só servirás” (Lc 4,8), mostrando deste modo que o homem foi criado, sobretudo, para adorar o Deus vivo que por meio da adoração o liberta do orgulho, da escravidão do pecado e de todo tipo de idolatria. Com efeito, a fé cristã herdou do judaísmo o monoteísmo que significa que para Deus é inaceitável a crença e a adoração a falsos deuses, sendo este o maior pecado cometido por Israel no decorrer de sua história, o que lhe acarretou consequências drásticas conforme mostra a Tradição bíblica. Jesus Cristo nos mostrou que o amor de Deus é o sentido único da existência humana ao resumir todos os mandamentos em dois, sendo que o maior e o primeiro que consiste em amá-Lo sobre todas as coisas, capacita a praticar os demais contidos no segundo, que se resume em amar o próximo (Mt 22, 37-40). Revelou, portanto em sua encarnação, vida e obras, e em sua paixão, morte e ressurreição, que o amor é o cumprimento perfeito da Lei, possibilitando-nos a praticá-la não como um fardo pesado, mas, sobretudo, como dom e tarefa que se traduz em penhor de vida eterna, sob o influxo de Sua divina graça.
Este será o tema abordado na catequese temática, que será transmitida por ocasião da Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, através das redes sociais do Santuário do Pai das Misericórdias, no dia 07 de novembro, com início às 10h. Até que acabe este tempo de pandemia, nos encontraremos deste modo, na certeza de que continuaremos unidos na intenção de reparar os sagrados Corações de Jesus e de Maria, tão desejosos de nos ver amando a Deus sobre todas as coisas e adorando-O profundamente.
Áurea Maria
Comunidade Canção Nova
Referências
BÍBLIA de Jerusalém. Tradução de Euclides Martins Balancin et al. São Paulo: Paulus, 2002.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Tradução da Conferência nacional dos Bispos do Brasil. 10. ed. São Paulo: Loyola, 2000.
IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.
IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.