Semana Santa não é algo que eu assisto, é algo que eu vivo em mim mesmo. É uma realidade que me molda. Como cristão eu devo vivê-la como o Cristo. Apreendendo o sentido de toda a grandeza do Evento. Na Semana Santa, sobretudo nos três dias, deve acontecer a abertura para que Cristo assuma nossos pecados e para que assumamos a obediência filial d’Ele. Só assim seremos transformados. É um assumir-se mútuo. Em Jesus eu participo da vida de Deus e Deus participa da minha.
Nós também experimentamos em nossa vida as faces destes três lugares: Getsêmani na quinta; Calvário na sexta e Sepulcro no sábado.
SÁBADO
Sepulcro: descida à região da morte (Mt 27,57-61) / vazio e esperança
No sábado, o Cristo permanece com os mortos num ato de solidariedade, na mesma solidão, no mesmo vazio de tudo. Solidariedade assumida não apenas como morte física, mas como solidariedade na experiência trágica da “segunda morte”, o estado de total ausência de Deus que é causada pelo pecado, que leva à extrema solidão, ao absoluto esvaziamento de vida, caos, autodestruição. Jesus desceu até a profundidade da morte, está realmente morto e participou do abismo do nosso destino de morte. A morte não é mais a mesma coisa depois que Cristo a sofreu, depois que ele a aceitou e penetrou, tal como a vida: o ser humano, não é mais a mesma coisa depois que em Cristo a natureza humana pôde entrar em contato, e de fato entrou, com o ser próprio de Deus.
Ao final de três dias..
Hoje podemos entender que Deus não quer mais abandonar nenhum filho seu. Digo “não quer mais” porque na experiência do Calvário, quando o Filho tomou livremente sobre si os nossos pecados, ainda que ele não tenha cometido nenhum, Deus se distanciou, porque o pecado provoca o distanciamento de Deus.
“Meu Deus, meu Deus…”
E num ato de extrema dor e angústia por causa desse distanciamento, o Filho grita como um eco de toda a humanidade: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Jesus sempre se relaciona com Deus o chamando de Pai (cf. Mc 14,36), mas no calvário ele grita “meu Deus”, manifestando toda angústia que o distanciamento do Pai estava causando nele. A atração infinita de amor que sempre existiu entre o Pai e o Filho agora é marcado por uma profunda repulsa. No calvário o Pai precisa se distanciar, Deus o fez pecado por nós (cf. 2Cor 5,21). No calvário o Pai abandona o Filho para o bem da humanidade.
No Getsêmani o Filho já havia se abandonado ao Pai (cf. Mt 26,39). Houve um abandono do eu do Filho, caracterizado por sua vontade humana livre, no tu do Pai, em total sinergia (cooperação), de modo que pela obediência do Filho nos tornamos filhos. O Filho sofrendo na cruz se fez solidário a cada um de nós e nos deu a filiação adotiva.
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Conheceu a morte…
O calvário é eco do que o Filho assumiu no Getsêmani. O Filho nos fez filhos (cf. Gl 4,5), por este motivo Deus não mais abandona os seus filhos. O que Ele faz é esperar a nossa reação diante de alguma situação de afastamento para que saiamos do Sepulcro, mas Ele não nos abandona mais. Jesus desceu até a profundidade da morte, participou do abismo do nosso destino. Mas a morte não é mais a mesma depois que Cristo a sofreu. Agora a natureza humana entrou em contato com o ser próprio de Deus.
Padre Edison de Oliveira
Comunidade Canção Nova