Segundo os estudos acerca da figura do “Papai Noel”, sua figura possui características mercantis. Uma das teorias mais difundidas seria que ele foi criado para aumentar o lucro de um refrigerante que há muito conhecemos, e promovendo para que aumente o consumo de sua bebida em 1920. Transformando-o numa ferramenta de economia de mercado, porém, essa é apenas uma das teorias acerca do mito. Ainda sobre sua criação, encontramos que o esboço do que chamamos de “bom velhinho” foi desenvolvido pelo artista Haddon Sundblom. A série de propagandas gozou de grande êxito e se consolidou a imagem atual: um velhinho barrigudo, barbudo, cabelos esbranquiçados e que se veste de vermelho.
A popularização da imagem criada alcançou outros níveis – uma reportagem da revista Smithsonian Magazine [1] revelou que algumas décadas antes- em 3 de janeiro de 1863, foram lançadas as bases para a imagem atual do Papai Noel como conhecemos – apesar da campanha publicitária do refrigerante tê-la popularizado. Naquele ano, o cartunista da Guerra Civil Americana Thomas Nast publicou, na revista Harper’s Weekly, uma ilustração do bom velhinho distribuindo presentes em um campo de guerra do Exército da União. Depois, com mais pesquisas, você encontrará que, em determinada época, em Nova York (sec. XIX), alguns escritores o associaram à imagem do trenó e renas, e as festas natalinas. Em 1821, foi publicado o livro de litografias para crianças “Papai Noel, o amigo das crianças” [2], no qual se apresentava um personagem que chegava do Norte em um trenó com renas voando. Essa publicação fez o personagem aparecer a cada véspera de Natal, e não no dia 6 de dezembro, dia da festa do santo bispo. Um poema anônimo e as ilustrações dessa publicação se tornaram a chave para a distorção da imagem do grande taumaturgo, São Nicolau. São Nicolau foi reverenciado e muito através de canções e esculturas, vitrais e pinturas de retábulos: “diz-se até que ele foi representado na arte com mais frequência do que qualquer outro santo, com exceção da Virgem Maria” [3]. Um manuscrito em Fleury, na França, tem quatro dramas litúrgicos distintos dedicados a São Nicolau. Sua reputação espalhou-se até a Islândia medieval, onde um poema épico de nome Nikolassaga Biskupa foi composto em sua honra [4].
Era Bispo de Mira durante o séc. IV e possuía a fama de grande santidade. Por ter resgatado marinheiros na costa da Lícia, Nicolau é venerado como padroeiro dos navegadores; por ter aparecido em sonho a Constantino e a um prefeito chamado Ablávio em favor de três prisioneiros injustamente condenados, é venerado como padroeiro dos cativos. Mais tarde, estudantes e acadêmicos foram acrescentados à sua lista de protegidos, dando-lhe um lugar nas universidades medievais então florescentes. A Pinacoteca Vaticana possui muitas pinturas extraordinárias da vida e dos milagres de Nicolau. Merece menção especial a Peça de Altar Quaratesi (1425), de Gentile da Fabriano, e A História de São Nicolau (1437), de Fra Angelico.
O alegre velhinho, trajado de vermelho, sem qualquer vinculação religiosa, a distribuir presentes a crianças bem-comportadas no tempo do Natal parece ser uma recriação protestante, com toques vitorianos, do santo católico original, famoso por dar ouro às três donzelas. (Note que o termo com que os falantes de língua inglesa designam o Papai Noel é Santa Claus, derivado de Sanctus Nicolaus). Como bispo, Nicolau foi celebrado por sua generosidade para com os pobres e por sua defesa intransigente da ortodoxia cristã. Lemos nas Crônicas a Metódio que, “graças a seus ensinamentos, somente a metrópole de Mira pôde escapar da imundície da heresia ariana, que ele rejeitou firmemente como um veneno mortal” como menciona Peter Kwasniewski (2021) [6]. O vínculo íntimo entre ortodoxia e caridade cristãs encontra uma adequada expressão em Nicolau, “um dos primeiros a ser venerado como santo sem ter sido mártir”, como observou o cardeal Ratzinger [7], que continua:
Uma das lendas [a respeito de Nicolau] expressa-o belamente da seguinte maneira. Embora todos os outros milagres pudessem ter sido realizados por magos ou demônios, sendo, portanto, ambivalentes, um milagre foi absolutamente evidente e não poderia envolver engano algum: o milagre de viver a fé no dia a dia durante toda a vida e conservar a caridade. As pessoas do séc. IV presenciaram esse milagre na vida de Nicolau, e todas as histórias de milagres que surgiram posteriormente são apenas variantes deste milagre fundamental que os contemporâneos de Nicolau compararam, com admiração e gratidão, à estrela da manhã que reflete a luz de Cristo. Nesse homem, compreenderam o que significa crer na Encarnação de Deus; nele, o dogma de Niceia foi traduzido em termos tangíveis.
Por fim, agora você já sabe e, com as fontes deste texto, provavelmente, você poderá se aprofundar ainda mais na vida deste grande santo. Lembre que todos nós somos chamados à santidade. Independentemente da idade, sexo, condição financeira, cor etc. Quanto mais buscamos a Deus, mais nos purificamos e amadurecemos nossa humanidade. O mundo sempre considerará as coisas de Deus, algo supérfluo. Sempre buscará nos iludir com fantasias e euforias…, mas lembre-se o que disse o grande teólogo Royo Marin (2020): “Para eles, não há maior prazer do que um jogo de futebol, um filme, uma representação teatral, um espetáculo deslumbrante para os sentidos. Ávidos por emoções, dificilmente gostam de outra coisa senão daquilo que possa excitar sua sensibilidade; cansam-se e se entediam com tudo o que esteja relacionado à vida do espírito”.
[1] BOISSONEAULT, Lorraine. A Civil War Cartoonist Created the Modern Image of Santa Claus as Union Propaganda. Disponível em: <https://www.smithsonianmag.com/history/civil-war-cartoonist-created-modern-image-santa-claus-union-propaganda-180971074/>. Acesso em 03 dez 2024.
[2] “The Children’s Friend” (1821). Disponível em: <https://www.stnicholascenter.org/who-is-st-nicholas/origin-of-santa/knickerbocker>. Acesso em 03 dez 2024.
[3] BUTLER, A. Butler’s Lives of the Saints, ed. and rev. Herbert J. Thurston, sj, and Donald Attwater, 4 vols. Westminster, Maryland, Christian Classics, 1990, 4:505–6.
[4] DE’MIRCOVICH, E. La Nuit de Saint Nicholas, 15.
[5] Butler’s Lives, 4:504. Esse Metódio foi patriarca de Constantinopla no século nono.
[6] KWASNIEWSKI, Peter. Papai Noel não, São Nicolau! Disponível em: <https://padrepauloricard o.org/blog/papai-noel-nao-sao-nicolau>. Acesso em 03 dez 2024.
[7] RATZINGER, J. “Reflections at Advent” in Seek That Which Is Above: Meditations Through the Year. Trans. G. Harrison. San Francisco, Ignatius Press, 1986, 21.
[8] Royo Marín. Jesus Cristo e a vida cristã. Trad. Ricardo Harada. Rev. Juliana Amato. São Paulo: Ecclesiae, 2020. p. 641)