“Foi a Divina Providência que cuidou de todos os detalhes”
Junio Moreira da Silva, natural do Distrito Federal, cresceu em uma família simples. Seus pais iam à Missa dominical, mas não eram engajados na paróquia.
O futuro sacerdote da Comunidade Canção Nova partilha seus desafios na infância, conta como ouviu o chamado ao sacerdócio e a jornada que precisou trilhar desde a experiência com o namoro, passando pelo serviço militar até a clareza do chamado. Confira como a Divina Providência conduziu os passos desse futuro padre. Uma história de esperança.
O milagre da vida
Junio lembra como sua existência é uma manifestação da graça de Deus: “A gestação da minha mãe foi de risco, pois, ao descobrir que estava grávida, ela foi aconselhada a interromper a gravidez. Havia risco de vida tanto para ela quanto para mim durante o parto. No entanto, minha mãe me consagrou a Virgem Maria e afirmou, com fé, que tudo ficaria bem. Graças a Deus, ambos sobrevivemos e, hoje, podemos testemunhar a glória de Deus em nossa vida”.
Por causa dessa experiência difícil, Junio se tornou filho único. Com uma infância conturbada, marcada por muitas discussões entre seus pais, aos três anos de idade, ele enfrentou a separação familiar. Após dois anos, seu pai veio a falecer em decorrência de uma cirrose hepática aguda.
Desafios e superações na primeira infância
Ainda na infância, Junio relata como enfrentou grandes desafios na escola por causa da alfabetização. Ele diz: “Acabei sendo reprovado na primeira série. Nessa época, sofria bullying por estar acima do peso e por causa da minha forma de falar; e foi nessa época que surgiu meu apelido de ‘Bauinha’, pois eu tinha dificuldade de pronunciar a palavra ‘balinha’. Por causa disso, meus amigos da escola e da rua começaram a me chamar assim. Na época, eu não gostava, mas o apelido pegou”.
Aos oito anos de idade, Junio foi atendido por uma pedagoga, que o encaminhou para psicologia e fonoaudiologia, a fim de ajudá-lo no processo de alfabetização. A partir daí, as coisas começaram a se ajustar. Ele conta que, ainda assim, nesse período, carregava um forte complexo de inferioridade: “Acreditava que era burro e que não conseguiria aprender. Até que, com 12 anos, em uma manhã na sala de aula, um dos amigos da escola comentou que iria se confessar para fazer a Primeira Eucaristia. Perguntei o que era isso. Depois, quando cheguei em casa, também perguntei a minha mãe. Ela me explicou, de maneira simples, que era receber Jesus na hóstia, mas precisava fazer o catecismo. Isso foi no final do ano de 2000″.
Encontro pessoal com Deus
No ano seguinte, em 2001, Junio fez a inscrição na catequese, onde deu início à caminhada com Deus: “Foi ali que comecei a ser catequizado e a ouvir falar das coisas de Deus de uma forma como nunca havia escutado antes. Tudo aconteceu na Paróquia São Domingos Sávio, onde recebi os sacramentos da Iniciação Cristã. No dia 17 de novembro de 2001, fui batizado; no dia 25 de novembro do mesmo ano, recebi minha Primeira Eucaristia. Foi nesse momento que tive meu encontro pessoal com Cristo.
Fui tomado por um amor que nunca havia sentido antes, tão profundo que entreguei minha vida a Ele. A partir daí, tudo mudou na minha vida. No dia 23 de outubro de 2003, fui crismado pelo Cardeal Dom João Braz de Aviz. Para mim, foi um caminho de transformação.
Padre Jonas Abib e o chamado ao sacerdócio
No ano de 2003, Junio ganha um quadro com a foto de padre Jonas Abib com o cálice e a hóstia nas mãos, celebrando o Santo sacrifício da missa que dizia: “Ele está no meio de nós! VOCAÇÃO, um chamado de Deus! Você é a peça fundamental”.
Junio relembra: “O amigo que me presenteou com o quadro disse que esperava, um dia, eu poder realizar o que padre Jonas Abib fazia. Nesse mesmo ano de 2003, em um retiro, recebi o meu chamado ao sacerdócio. Recordo-me como se fosse hoje: naquela manhã de domingo, por volta das 11h, o pregador dizia que, naquele lugar, havia um jovem que Deus chamava ao sacerdócio, e, naquele momento, ele iria sentir suas mãos e coração arderem profundamente.
Eu não me contive ao olhar para minhas mãos e ver que o Senhor me chamava para ser padre! Meu coração pulsava de entusiasmo, era uma mistura de sentimentos. Chorando, eu dizia ‘Eis-me aqui, Senhor’!
Aprendemos, na Canção Nova, que “o caminho se faz caminhando”, e assim também acontece com a minha vocação: ela se constrói nesse percurso, à medida que me coloco, todos os dias, nessa grande aventura de corresponder ao chamado de Deus. Já estou, há nove anos, na Comunidade Canção Nova, vivendo essa aventura vocacional”.
Chamado à Comunidade Canção Nova
A confirmação do chamado ao carisma Canção Nova aconteceu no luau do Brais Oss, no dia 30 de dezembro de 2011. Junio relata o percurso que precisou fazer antes, para finalmente chegar à decisão de ingressar na Canção Nova:
“Não tem como falar desse dia sem antes contar como se deu o chamado ao sacerdócio em minha vida. Depois disso, iniciei o caminho vocacional com os Estigmatinos, uma congregação de padres missionários que atuam em auxílio aos bispos. No segundo ano dessa caminhada, quando eu estava prestes a ingressar na congregação na etapa do propedêutico, partilhei com o animador vocacional que ainda não era o tempo de entrar. Era o momento de viver uma experiência de namoro.
Na época, eu estava confuso em relação aos meus sentimentos por uma amiga que participava da pastoral vocacional na minha paróquia. A partir dessa situação, no final de 2005, comecei uma experiência de namoro que durou três meses. Depois disso, tive mais três relacionamentos, sendo que o último durou quatro anos e, nesse período, chegamos até a fazer planos de noivado”.
Alistamento militar
Nesse meio tempo, Junio fez seu alistamento militar, cumprindo seu dever de cidadania. Após realizar os exames de saúde exigidos para o exercício das atividades específicas das Forças Armadas, optou por servir na Força Aérea Brasileira (FAB). Sobre esse período ele conta: “Iniciei meu serviço na primeira turma de 2007, na Base Aérea de Brasília. Após o ano obrigatório, decidi continuar na FAB com o objetivo de seguir a carreira militar. Foi fascinante perceber que, durante o período do recrutamento, muitos colegas me chamavam de “padre”, pois me viam, nos momentos livres no alojamento, lendo a Bíblia, rezando o terço e estudando livros espirituais. Além disso, eu auxiliava a capelania militar na catequese dos recrutas que se preparavam para receber os sacramentos da iniciação cristã.
Considero o tempo de serviço militar fundamental para minha formação humana. Durante os seis anos em que estive na FAB, vivi momentos bons e difíceis, mas compreendi que tudo é aprendizado, como ensina São Paulo: ‘Todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus’ (Rm 8,28). Mesmo diante dos desafios, não me afastei de Deus. Pelo contrário, fui impulsionado a renovar minha vocação à santidade, percebendo como o mundo moderno tenta destruir o que há de sagrado”.
Batismo no Espírito Santo
Diante da nova realidade que estava inserido, Junio entendeu o chamado a testemunhar a verdade do Evangelho, a necessidade de se despojar do que não vem de Deus, e relata: “Sem dúvida, não é fácil viver este grande chamado. No entanto, quando se tem uma experiência com o Batismo no Espírito Santo, tudo muda, e foi exatamente isso que aconteceu comigo no dia 7 de setembro de 2011. Naquele dia, recebi a força do Espírito Santo, que me renovou e me direcionou no caminho que eu deveria trilhar, pois, até então, eu estava vivendo segundo a minha vontade, e não a vontade de Deus.
A Palavra que o Senhor me deu naquele dia foi: ‘O Espírito do Senhor Iahweh está sobre mim, porque Iahweh me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração, a proclamar a liberdade aos cativos e a libertação aos que estão presos’ (Is 61,1). Essa Palavra me tocou profundamente. Entendi que Deus tinha um chamado específico para mim, embora eu ainda não soubesse onde nem como realizá-lo.
Saí da igreja naquele dia com uma pergunta no coração: ‘Senhor, o que queres de mim e onde?’ Passei todo o segundo semestre de 2011 em oração e discernimento, até que decidi passar a virada do ano no Acampamento de Ano Novo da Canção Nova”.
Ano Novo na Canção Nova e Luau com Brais Oss
Movido pelo desejo de descobrir o que Deus queria dele, Junio foi para a Canção Nova com o coração aberto para escutar qual era a vontade de Deus. Na noite do dia 30 de dezembro de 2011, durante o Luau com Brais Oss, enquanto rezava, o Senhor lhe deu uma palavra de ciência. Braiss disse que havia, ali, um jovem que tinha vindo à Canção Nova justamente para discernir sua vocação, alguém que já havia vivido experiências vocacionais e de namoro, mas que ainda buscava compreender o que Deus queria dele e onde o queria.
Naquele momento, Brais Oss apontou na direção onde Junio estava e declarou: “Não tenha medo de dizer seu sim para Deus”.
Junio relembra: “Eu, tomado pela palavra, chorava e dizia interiormente: ‘Esse jovem sou eu, Senhor. Eis-me aqui!’. Quando o luau terminou, fui até o Brais Oss para confirmar aquela palavra de ciência, dizendo que aquele jovem era eu. Ele então me respondeu: “Meu irmão, não tenha medo de dar sua resposta a Deus. Escreva sua carta para a Canção Nova. E se aqui não for o lugar onde Deus quer que você viva sua vocação, Ele mesmo irá te encaminhar”.
Ingresso para a Comunidade Canção Nova
Tomado daquela palavra, Junio saiu determinado a escrever sua carta para iniciar o caminho vocacional com a Canção Nova: “Confiei meu discernimento a Virgem Maria, lançando uma medalhinha diante do ícone de São Paulo, pedindo que, se aquele fosse o meu lugar, ela passasse à frente”.
Após o processo vocacional, Junior ingressou na comunidade em 2016, no pré-discipulado; em 2017, iniciou o discipulado; em 2018, entrou no Seminário Canção Nova e começou o curso de Filosofia. Em 2021, viveu seu ano de missão em Curitiba (PR); em 2022, iniciou o curso de Teologia.
Ordenação e lema diaconal no Jubileu da Esperança
Durante a Solenidade de São Pedro e São Paulo, no dia 29 de Junho de 2025, Junio foi ordenado diácono temporário. O lema escolhido foi: “Toda a minha esperança está na tua palavra” (Salmo 119,81). Sobre a escolha do lema ele afirma:
“Somos chamados a viver a partir do presente, da realidade que nos cerca. Por isso, neste ano de 2025, ano jubilar, ano da esperança, fui ordenado diácono para a Igreja dentro do carisma da Comunidade Canção Nova, que tem sido para mim um caminho seguro e autêntico de santificação.
Escolhi esse versículo como lema, para viver o mistério ordenado do diaconato, que é um tempo de serviço ao povo de Deus, o qual devo levar a Palavra de forma única e verdadeira.”
Confira aqui como foi a ordenação diaconal
Ordenação e lema presbiteral
Desde o início, pensei no meu lema ligado à palavra do meu chamado em Isaías 61. No Sexto Domingo da Páscoa, rezando pela manhã, a palavra de Isaías 61,1-11, referente ao meu chamado, tocou meu coração e minhas mãos. O versículo 6, em particular, ressaltou-se aos meus olhos:
“Vós, porém, sereis chamado sacerdotes do Senhor, hão de chamar-vos servos do nosso Deus” (Is 61,6).
Lembrei-me que, em Lavrinhas 2016, no pré-discipulado, fomos incentivados a estudar a palavra do nosso chamado. Na época, o versículo 6 me alegrou muito, pois vi nele uma direção clara, que até então não havia notado. Ao rezar com essa palavra, vejo uma confirmação de Deus para escolher este lema para a ordenação presbiteral: “Vós, porém, sereis chamados sacerdotes do Senhor, hão de chamar-vos servos do nosso Deus” (Is 61,6).
Essa tradução é da CNBB. Ao comparar com outras traduções (Ave-Maria, Peregrino e Jerusalém), notei que a tradução da Ave-Maria adiciona, no final, “sereis qualificados”. Vejo nisso o mover de Deus em minha vocação: a cada passo, fui sendo qualificado não por meus méritos, mas pela graça de Deus, através do “Espírito do Senhor Deus que está sobre mim”.
Comunicação Santuário do Pai das Misericórdias
Magda Ishikawa Florêncio







