Se plantares misericórdia, colherás misericórdia
Caro leitor, Santo Agostinho nos ensina algo precioso em um de seus sermões (259, 3): “Se quiseres obter misericórdia, tu mesmo deves ser misericordioso”. Quando alguém almeja a misericórdia de Deus para si e não exerce a misericórdia para com o próximo, essa situação pode ser comparada a alguém que espera um fruto nascer sem ter plantado a árvore. A máxima de Santo Agostinho também poderia ser reescrita nestes termos: se plantares misericórdia, colherás misericórdia.
:: É leviano tentar ser santo de forma fácil?
Diante dessa realidade, uma pergunta poderia ser suscitada: “Qual é o melhor ambiente para que se possa plantar a semente da misericórdia?”. A resposta seria simples e direta: “em todos os ambientes”. Contudo, existe um lugar estratégico que deveria se transformar num celeiro da misericórdia de Deus que é a nossa casa, ou seja, a nossa família. Quando a misericórdia de Deus é verdadeiramente cultivada dentro da nossa casa, os frutos são abundantíssimos.
Porém, sabemos que esse cultivo não é fácil, ainda mais porque conhecemos, bem de perto, as falhas e imperfeições de cada um que vive conosco. Às vezes, é mais fácil exercitar a misericórdia com quem está fora do nosso convívio diário do que com aqueles com os quais dividimos o mesmo teto. Não obstante, existe uma graça toda especial quando praticamos, ainda que com esforço, a misericórdia em nossa família. Os nossos familiares, aliás, não são apenas “o próximo” narrado no Evangelho de Lucas (cf. Lc 10,29), eles são os mais próximos dentre os próximos.
Por meio da vivência da misericórdia, a nossa casa pode se transformar em um verdadeiro lar. Sendo assim, o espaço de convívio com a nossa parentela deve ser encarado como um verdadeiro ambiente de missão. Mais precisamente, a qualidade deste ambiente depende de mim, depende de você. Somos nós os primeiros responsáveis por transformar a nossa casa num lar em que se experimenta o amor e a misericórdia.
Na prática, a misericórdia de Deus, sobretudo na nossa família, recebe predominantemente duas feições essenciais, a do perdão e a da doação. Em outras palavras, o exercício sincero do perdão e da doação transforma nossa família no semblante de Deus. A misericórdia divina está disfarçada no ato diário e contínuo de “perdoar” e “doar-se”. Nós só saberemos se estamos vivendo genuinamente a misericórdia, se praticarmos esses dois atos de elevado significado.
Nunca nos esqueçamos de que a misericórdia nasce da ferida sempre aberta do lado de Jesus. Dela, recebemos constantemente o conforto e o perdão de Deus. Se a recebemos sem merecer, devemos proceder da mesma maneira. Não se trata da nossa misericórdia, mas da misericórdia do próprio Deus que perpassa por nós e alcança os nossos. Por isso, sejamos canais sempre abertos da misericórdia de Deus em nossa casa.
Deus abençoe você e até a próxima!
Padre Gleidson Carvalho
Sacerdote Comunidade Canção Nova