“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte, uma luz resplandeceu” (Is 9,1)
A Vigília Pascal, na noite do Sábado Santo, é chamada pela Igreja “a mãe de todas as santas Vigílias”.
Na Vigília Pascal, a Igreja mantém-se de vigia à espera da Ressurreição do Senhor, e celebra-a com os sacramentos da Iniciação cristã 1, e é também “a maior e a mais nobre de todas as solenidades do ano litúrgico” 2 . É durante esta celebração litúrgica que se proclama a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a vitória de Cristo sobre a morte.
Quando participamos desta celebração litúrgica, percebemos que ela possui uma estrutura própria, em comparação com outras celebrações litúrgicas na Igreja. Durante a Vigília, temos a bênção do fogo, o cântico do Exsultet que proclama a Páscoa, as leituras e os Salmos na liturgia da Palavra que nos recordam a História de Salvação do povo de Deus, o Glória, o tão esperado Aleluia, que foi omitido por todo o período quaresmal, e o rito do Batismo que acolhe os novos catecúmenos.
Aqui, já percebemos que o rito da Vigília Pascal é riquíssimo e, acima de tudo, nos direciona a vivermos a alegria Pascal! Entre os muitos detalhes da Vigília Pascal, voltaremos o nosso olhar, hoje, para um específico: o Círio Pascal! O Círio Pascal é aceso no início da Vigília Pascal, permanece junto ao presbitério durante todo o Tempo da Páscoa, e é usado também nas celebrações do Batismo.
Mas, afinal, qual o significado do Círio Pascal?
“Alegre-se também a terra amiga, Que em meio a tantas luzes resplandece; E vendo dissipar-se a treva antiga,
Ao som do eterno Rei brilha e se aquece.” (Exsultet)
A palavra Círio tem origem no latim cereus, de cera, que alude à matéria-prima do círio. O Círio Pascal representa Cristo-luz, e é utilizado desde os primeiros séculos. No início da Vigília Pascal, os fiéis se reúnem no lado externo ao Templo. Ali, é preparada uma fogueira. O primeiro ato marcante desta liturgia é a Celebração da Luz. Nela acontece a bênção do FOGO NOVO. É nessa fogueira, deste Fogo Novo, que o Círio será aceso.
“Que a mãe Igreja alegre-se igualmente, erguendo as velas deste fogo novo, e escute,
reboando de repente,
o Aleluia cantado pelo povo.” (Exsultet)
O Círio Pascal costuma trazer alguns símbolos escritos e desenhados.
O presidente da celebração, antes de acendê-lo, grava este símbolos marcando-os com um estilete, e eis o significado de cada marcação: Uma Cruz é traçada no Círio Pascal, nos lembrando que foi na Cruz que Cristo morreu para a nossa salvação e redenção. As letras Alfa e Ômega, primeira e última letra do alfabeto grego, respectivamente, nos recordam “Cristo ontem e hoje, Princípio e Fim, o Alfa e o Ômega”. Também no Círio é marcado o ano correspondente (2023), enquanto o presidente da celebração diz: “A ele o tempo e a eternidade, a glória e o poder, pelos séculos sem fim”.
A marcação do ano recorda em nós a atualidade de Deus no hoje: “Ó noite em que a coluna luminosa as trevas do pecado dissipou, e aos que creem no Cristo em toda a terra em novo povo eleito congregou!” Antes de acendê-lo, cinco cravos são inseridos no Círio Pascal, nos lembrando as cinco chagas de Nosso Senhor: os pregos nas mãos e nos pés, o lado direito traspassado e a coroa de espinhos. Em seguida, o Círio é aceso com o Fogo Novo e, a partir do Círio, os fiéis acendem suas velas.
“Só tu, noite feliz, soubeste a hora em que o Cristo da morte ressurgia;
e é por isso que de ti foi escrito:
A noite será luz para o meu dia!” (Exsultet)
O tamanho do Círio, o lugar de destaque que ele tem no presbitério, todo o símbolo por trás das marcações não têm outro significado que não seja recordar que quando, aparentemente, na Sexta-feira Santa contemplamos um Deus derrotado, quando parecia que as trevas haviam vencido, o sinal trazido pelo Círio nos aponta a Vitória do Cristo sobre as trevas e, por isso, traz essa luz para dissipar a escuridão.
O Círio aceso nesta noite estará presente em cada Celebração do Batismo, pois o Batismo, como nos explica o Catecismo, é luz resplandecente, onde “o batizado, após ter sido iluminado, se converte em luz no Senhor e em luz ele mesmo” 3 . Da mesma forma, o Círio estará presente nas Missas de Exéquias, pois é após a morte, na eternidade, que o fiel contemplará, face a face, Cristo, a verdadeira e única luz.
Tudo o que vivemos em cada liturgia não é apenas um conjunto de ações e ritos, mas nos faz viver no presente o significado daquele momento da vida de Cristo para nós. Tendo conhecido o mistério e a espiritualidade por trás do Círio Pascal, que possamos viver a Vigília e todo o Tempo Pascal conscientes de que se pelo pecado de Adão herdamos o pecado original, fruto das trevas, foi pela Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo que o pecado foi dissolvido e as trevas dissipadas pela Luz do Salvador.
“Ó pecado de Adão indispensável, pois o Cristo o dissolve em seu amor; ó culpa tão feliz que há merecido
a graça de um tão grande Redentor!”
Fontes:
3 CIC 1216
1 Cerimonial dos Bispos 332 Cerimonial dos Bispos 334
OUTRAS FONTES CONSULTADAS: Missal romano; Dicionário Elementar de Liturgia (José Aldazábal)