Deus prometeu a salvação por meio de uma “Mulher”. “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3, 15). O Catecismo da Igreja Católica nos ensina: “O gênero humano inteiro é em Adão como um só corpo de um só homem. Em virtude desta “unidade do gênero humano”, todos os homens estão implicados no pecado de Adão” (n. 404).
São Leão Magno, Papa do século V e doutor da Igreja, afirma: “O antigo inimigo, em seu orgulho, reivindicava com certa razão seu direito à tirania sobre os homens e oprimia com poder não usurpado aqueles que havia seduzido, fazendo-os passar voluntariamente da obediência aos mandamentos de Deus para a submissão à sua vontade. Era portanto justo que só perdesse seu domínio original sobre a humanidade sendo vencido no próprio terreno onde vencera.”
Deus enviou Seu Filho” (Gl 4,4), mas, para formar um corpo a Ele, quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, “uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27).
Então, na “plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho ao mundo nascido de uma mulher” (Gl 4,4). No ponto central da história da salvação, entra em cena a figura de uma Mulher. Para trazer o nosso Salvador ao mundo, Deus preparou a Sua Mãe, impedindo que o pecado original a tocasse, pois assim ela não seria cativa do demônio.
Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, “cumulada de graça” por Deus, foi redimida desde a concepção.
A Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi o primeiro fruto que Jesus conquistou com Sua morte. O Anjo Gabriel lhe disse na Anunciação: “Ave, cheia de graça…” (Lc 1,28). Nesse “cheia de graça”, a Igreja entendeu todo o mistério e dogma da Conceição Imaculada de Maria.
Se Ela é “cheia de graça” (“gratia plena”), é porque desde sempre é toda pura, bela, Imaculada. O Espírito Santo mostrou à Igreja essa verdade de fé. Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX declarava dogma de fé. Na Bula “Ineffabilis Deus”, o Papa diz:
“Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial privilégio de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis.”
Note que a Virgem Maria foi preservada de toda mancha do pecado original “em virtude dos méritos de Jesus Cristo”; isto quer dizer que Ela obteve essa graça pelos méritos da Paixão e Morte de Jesus. Nós ficamos livres do pecado original pelo Batismo, mas Ela foi preservada pelo Sangue de Jesus. Como disse o cardeal Suenens: “A santidade do Filho é causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele mesmo aparecer no horizonte”.
Podendo o Espírito Santo criar Sua Esposa toda bela e pura, é claro que assim o fez. É dela que fala o Livro dos Cânticos: “És toda formosa minha amiga, em ti não há mancha original” (Ct 4,7). Chama ainda Sua Esposa de “jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12), onde jamais os inimigos entraram para ofendê-la.
Santo Afonso de Ligório afirma: “O espírito mal buscou, sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas louvado seja Deus! O Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pode a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo” (Glórias de Maria, p. 210).
São Bernardino de Sena (†1444), diz a Maria: “Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada na mente de Deus para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha”.
São João Damasceno, doutor da Igreja (†449), afirma: “Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus uma infinita distância”.
E pergunta Santo Anselmo, bispo e doutor da Igreja (†1109): “Deus, que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria?”
Nenhum de nós pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então, pergunta Santo Afonso, doutor da Igreja: “Qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava?”.
Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também o torna apto para exercê-la, ensina São Tomás de Aquino. Portanto, tendo eleito Maria para Sua Mãe, por Sua graça a tornou digna de ser livre de todo o pecado, mesmo venial, ensinava São Tomás; caso contrário, a ignomínia da Mãe passaria para o Filho.
Santo Agostinho (†430) disse: “Nem se deve tocar na palavra “pecado” em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça.”
Pergunta São Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja: “Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?”.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria define claramente a realidade do pecado original. A própria Virgem Maria, em pessoa, quis confirmar este dogma. Foi quando em 25 de março de 1858, na festa da Anunciação, revelou seu Nome a Santa Bernadete, nas aparições de Lourdes. Disse-lhe ela: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Em 27 de novembro de 1830, vinte e quatro anos antes da proclamação do dogma, Nossa Senhora apareceu a Santa Catarina Labouré, em Paris, e lhe pediu para mandar cunhar e propagar a devoção à chamada “Medalha Milagrosa”, precisamente com esta inscrição: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
O dogma da Imaculada Conceição de Maria é um marco fundamental da fé porque, entre outras coisas, define claramente a realidade do pecado original, às vezes, contestado por alguns teólogos modernos, em discordância com o Magistério da Igreja. Além disso, a aparição de Nossa Senhora em Lourdes confirma que o Papa não erra quando proclama um dogma.