Em 21 de janeiro do ano corrente, o Papa Francisco dá início ao Ano da Oração. A proposta é que seja um período para redescobrir o valor da oração na vida pessoal, na Igreja e no mundo, e preparar os católicos para o Jubileu que acontecerá em 2025. Segundo o ensinamento da Igreja: “A oração é a respiração da fé, é sua expressão mais adequada, é como um grito silencioso que sai do coração daqueles que acreditam e se entregam a Deus”. Há várias definições de oração, mas ela só poderá ser descrita na simplicidade de um coração que reza. No Evangelho segundo Mateus, Jesus ensina a não desperdiçar palavras na vida de oração; não será pela força das palavras que seremos ouvidos.
Seremos ouvidos na intimidade com Deus: “Tu, porém, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa. Quando orardes, não useis de muitas palavras como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos pela força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes” (cf. Mt 6,7-8). E, a seguir, o Senhor ensina a oração do Pai nosso aos seus discípulos.
Neste trecho do Evangelho, Jesus nos diz: “Entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao Pai”. Muito mais que um espaço físico, o quarto é o lugar da intimidade com Deus. É o local onde posso me apresentar diante d’Ele sem medo, sendo apenas eu mesmo. Ali, no silêncio da oração, eu me comunico, eu me revelo, mas Ele também se revela a mim – posso ouvir Sua voz e experienciar um diálogo amoroso de um Pai para com seu filho amado: “Lá de longe, o Senhor lhe apareceu: Eu te amo com amor de eternidade, por isso guardo por ti tanta ternura!” (cf. Jr 31,3); “Clama por mim, que eu te ouvirei e te mostrarei coisas grandes e sublimes, que tu não conheces” (cf. Jr 33,3).
Na oração, posso apresentar a Deus minhas necessidades pessoais: “Cura-me, Senhor, e ficarei curado; salva-me, e serei salvo, porque és tu a minha glória” (cf. Jr 17,14). Mas também sou chamado a interceder pela humanidade. Diante do cenário de crises, guerras, pobreza, destruição e indiferença, de políticas que semeiam a cultura da morte, é preciso orar. É preciso orar e confiar diante das catástrofes naturais, da destruição de tantas pessoas inocentes espalhadas pelo mundo: “Espera no Senhor e faze o bem: assim permanecerás na terra e terás segurança. Põe no Senhor tuas delícias e Ele te dará o que teu coração te pede.”
Entrega ao Senhor o seu futuro, espera n’Ele, e Ele vai agir. O Senhor conhece os dias dos inocentes, eterna será sua herança. No tempo da calamidade não serão confundidos, nos dias de fome serão saciados. Pois quem tem a bênção de Deus possuirá a terra. A salvação dos justos vem do Senhor, é ele o refúgio no tempo da desgraça. O Senhor os ajuda e os livra, livra-nos dos ímpios e os salva pois nele buscaram refúgio” (cf. Sl 37,3-5.18-19.22.39-40).
Vivemos num tempo forte e precisamos estar atentos ao movimento do céu, ao movimento do Espírito Santo que convida a Igreja a orar. Esse movimento do Espírito é muito concreto, pois Deus é o primeiro a chamar o homem para si: “O Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração” (CIC 2567). O Senhor nos convida: “Orai sem cessar” (1 Ts 5,17); “Com orações e súplicas de toda sorte, orai em todo tempo, no Espírito e, para isso vigiai com toda perseverança e súplica por todos os santos!” (Ef 6,18). Segundo as Sagradas Escrituras, orar é uma necessidade vital. Devemos elevar nossa oração insistente ao Pai, com total confiança até sermos atendidos. Mas é preciso pedir segundo o coração de Deus: “É preciso rezar com seu Espírito de liberdade para poder conhecer o seu desejo. Se pedimos com um coração dividido, “adúltero”, Deus não nos pode ouvir, porque deseja nosso bem, nossa vida” (CIC 2736).
Muitas vezes, ficamos frustrados quando nossa oração não é atendida, mas Santo Agostinho nos anima a perseverar na total confiança em Deus: “Não te aflijas se não recebes imediatamente de Deus o que lhe pedes: pois Ele quer fazer-te um bem ainda maior por tua perseverança em permanecer com Ele na oração. Ele quer que nosso desejo seja provado na oração. Assim Ele nos prepara para receber aquilo que Ele está pronto a nos dar”. Segundo o Catecismo, “a transformação do coração que reza é a primeira resposta a nosso pedido” (CIC 2739).
Na vida de oração, Jesus é o nosso modelo, ele reza em nós e conosco, sua oração é eficaz, pois busca agradar ao Pai. Devemos orar como Ele, desapegando-nos de nós mesmos, orando segundo o coração do Pai. Se nossa oração estiver unida à de Jesus, na total confiança e audácia filial, seremos atendidos.
Orar é sempre possível, pois o tempo do cristão é o de Cristo. Ele está em nós e move nosso coração pela ação do Espírito Santo, para que O busquemos na vida de oração. É possível permear nosso dia com a oração. São João Crisóstomo ensina: “É possível, até no mercado ou num passeio solitário, fazer uma oração frequente e fervorosa. Sentados em vossa loja, comprando ou vendendo, ou mesmo cozinhando”.
Orar é uma necessidade vital, “se não nos deixarmos levar pelo Espírito, cairemos de novo na escravidão do pecado. Como o Espírito Santo pode ser “nossa Vida”, se nosso coração está longe dele?” (CIC 2744). E como afirma Santo Afonso de Ligório: “Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena”. Deus não condena nenhum de seus filhos, mas o resultado final das nossas ações, no último dia, dependerá da nossa adesão ou não ao Supremo Bem.
Compreende-se que a vida de oração supõe um esforço e uma luta contra nós mesmos, contra nossa vontade fraca e contra os embustes do Tentador. Nesta batalha, não estamos sós. Com coração humilde, unamo-nos a Cristo e à Sua Igreja abrindo espaço para a oração. Confiantes na ação do Espírito Santo e com espírito orante, seremos conduzidos à vontade do Pai. Rezar é um ato de confiança!