Especial ‘Tudo Deixei por Ti’
Ordenação 2024
Parte 3
Acompanhe, hoje, como Santa Teresinha do Menino Jesus teve papel central no chamado ao sacerdócio do missionário José Márcio
05 – Santa Teresinha do Menino Jesus
06 – Cantando Viver de Amor
Leia a transcrição do vídeo:
Num determinado momento, o padre, muito devoto de Santa Teresinha, falou: “Nós vamos fazer uma novena em honra a Santa Teresinha“. No dia 1º de outubro, vamos fazer o encerramento da novena com a Missa das Rosas. “Eu quero que o grupo de jovens anime a missa; as músicas vão ficar por conta dele”.
Eu fui para um encontro, para ele poder me dizer o que queria. Ele me falou de algumas músicas e pediu para nós montarmos o repertório da missa. Montamos, levamos para ele e ele aprovou.
Chegou, então, o dia 1º de outubro, dia do encerramento da novena. Minha namorada e eu também cantávamos no Ministério de Música. Chegamos na capelinha de São Paulo Apóstolo, vizinha da Igreja Matriz.
Eu fui à sacristia para mostrar, de novo, as músicas. Tudo ok? O senhor quer alguma coisa? Aquilo que os músicos já são acostumados a fazer. E aí, chegando lá, ele falou: “Está ótimo! Mas eu quero que vocês cantem uma música de pós-comunhão, uma música na ação de graças chamada ‘Viver de Amor’, um poema de Santa Teresinha, um poema lindo! Eu quero que só você cante essa música. O ministério vai acompanhá-lo com os instrumentos e você canta”. E aí fomos para a capela.
A missa começou e eu fiquei muito emocionado a tempo inteiro, desde o canto de entrada, vendo as pessoas com as rosas nas mãos. Todo mundo tinha ganhado uma rosa ao chegar, e aquilo mexeu muito comigo. O choro vinha na garganta e voltava, sabe? Em todos os momentos da missa, momentos que nem eram tão fortes, eu estava muito frágil para tudo, muito sensível. O padre fez a homilia, e a missa seguiu. Uma homilia linda falando de Santa Teresinha! E aquilo ardia dentro do meu coração. Chegou o momento da comunhão, nós cantamos e, depois, no momento da pós-comunhão, eu fui cantar.
O Ministério de Música só acompanhou com os instrumentos. Eles também ficaram sem entender por que o padre fez esse pedido, mas obedecemos. E eu fui cantar lá na frente, porque o padre queria que eu cantasse no ambão. Já na primeira estrofe do poema, eu desabei no choro, fiquei muito emocionado. Eu, que já estava muito emocionado a missa inteira, quando começou o poema, eu não conseguia continuar, nem cantei a primeira estrofe e, a partir da segunda, eu já estava assim, chorando.
::Vocacional – É feliz quem realiza sua vocação
:: Você foi atraído pela Canção Nova? Ouse responder a esse chamado de Deus!
Eu chorava mais do que cantava, e o pessoal do ministério olhava para mim sem entender. Minha namorada, sentada na minha frente, olhando sem entender o que estava acontecendo. Meu pai estava nessa missa, no último banco lá atrás. Era uma capelinha pequena, e ele me olhando também. Acho que também não estava entendendo nada. Mas eu continuei cantando à medida que eu conseguia. E foi ali que eu vivi a minha experiência de chamado mais profundo.
Eu digo que Deus me chamou na adolescência, eu ouvi, mas não sabia que era Ele quem estava me chamando; então, não dei tanta importância. Mas, nesse dia, nesse poema, eu não tive dúvidas de que era Deus me chamando. Muito emocionado, eu ouvi uma voz no meu interior. Eu ouvia Deus dizendo para mim: todo de Deus. Essa expressão todo de Deus se repetiu até o momento em que eu parei de cantar. Enquanto eu cantava a música, o poema, eu ouvi essa voz no meu interior. Todo de Deus, você nasceu para ser todo de Deus.
Terminada a música, o pessoal aplaudiu várias, pessoas chorando na capela. Eu não entendi por que elas estavam chorando, mas parecia que elas estavam ouvindo o que eu estava ouvindo, mas elas não estavam. Emocionadas, as pessoas aplaudiam, o padre agradeceu e aí seguimos. Avisos, a parte final da missa, as homenagens, e eu voltei para o banco dos músicos, mas muito mobilizado e muito emocionado. Eu não conseguia parar de chorar, aquele choro que eu estava engolindo na missa inteira. Minha namorada me cutucava, querendo saber o que estava acontecendo. Eu não conseguia explicar.
A missa terminou, o padre saiu com a equipe do altar, foram para a sacristia, ele foi tirar os paramentos. A gente ficou arrumando os cabos, as coisas de som e eu não conseguia parar de chorar. Então, todo mundo foi embora. Minha namorada veio me chamar. Era um sábado à noite, ou seja, era dia de namorarmos. Então, ela me chamou para irmos para casa. Eu, chorando, disse: “Eu não consigo ir hoje”. Ela perguntou por que, já muito desconfiada. Eu falei: “Eu acho que preciso ficar um tempinho aqui para pensar mais na minha vocação”. Ela olhou para mim assim: “Vocação? Como assim?!” E saiu, foi embora muito irritada. E eu fiquei ali.
O que estou fazendo? Dentro de mim eu pensava: O que eu estou fazendo da minha vida? O que está acontecendo com muita bagunça dentro de mim? E tudo muito revirado. E aí o pessoal foi embora. Fiquei sozinho na capela. O padre ainda estava na sacristia, e eu pedi para um coroinha chamar o padre, dizer a ele que eu queria conversar. Padre Marivaldo veio com a estola roxa no pescoço. Eu pensei que ele queria me confessar, mas, na verdade, eu queria mesmo era desabafar, dizer o que estava dentro de mim, que nem eu sabia direito, por isso pedi ajuda. E aí nós sentamos e ele disse para eu falar. Ele, muito manso, muito tranquilo, eu, ali, eu comecei a falar, mas eu chorava mais do que falava.
Eu dizia: “Padre, eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu passei a missa inteira muito emocionado. Desde que o senhor chegou aqui, eu estou muito revirado, eu não sei explicar…” E fui dizendo o que eu conseguia dizer. E, agora, o senhor me pediu para cantar essa música. Eu não entendi por que o senhor pediu só para eu cantar, por que não foi todo mundo? Eu não cantei quase nada, chorei mais do que cantei. Estou aqui sem entender nada! E ele só sorria e olhava para mim, dava um sorriso.
Quando eu terminei de falar, ele falou assim: “Olha, quando eu cheguei aqui na paróquia, eu olhei você, no meio dos jovens, e eu vi que você tinha alguma coisa diferente, mas eu não sabia o que era de primeira. Eu procurei saber da sua vida, pesquisar quem era você na comunidade. E me falaram que você era da paróquia desde muito pequenininho. Depois que você fez a primeira comunhão, você permaneceu aqui, você sempre trabalhou com jovens, fez faculdade e trabalhava na sua área. Falaram que você também namorava, me mostraram sua família, seus pais, sua irmã também (a mais nova). Nesse período, você já estava caminhando comigo na igreja, e eu vi que você era diferente, mas eu não podia chegar para você e dizer. Então, todos os dias, desde que eu cheguei nessa igreja, nessa paróquia, todos os dias eu rezei por você para que Deus lhe mostrasse aquilo que eu via e que talvez você não visse. E que bom que chegou esse dia!”.
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Eu nem respondi nada para o padre. Ele foi pegando a estola, colocou-a na minha cabeça e falou assim: “Agora, eu vou lhe dar uma absolvição por todas as vezes que você ouviu esse chamado e fingiu que não era com você, ou você tentou desviar, ou você encontrou outra saída. E vou lhe dar uma absolvição por causa disso”, e já começou a pronunciar as palavras da absolvição. E eu só fazia chorar. Quando terminou, ele disse: “Agora, é o seguinte, eu não vou mandar você terminar o seu namoro nem vou mandar você continuar namorando. O que eu digo para você é: siga o seu coração. Aquilo que está no seu coração é a vontade de Deus. Siga o seu coração, e eu estou aqui para aquilo que você precisar de ajuda”. E aí eu fui seguir o meu coração.
Cheguei em casa chorando muito, minha família estava lá, meu pai estava assistindo à televisão, minha irmã estava no quarto, minha mãe estava passando roupa na cozinha. Foi quando eu chamei os três e eles vieram porque me viram chorando. Sentamos na mesa da cozinha e eu falei para minha mãe: “Mãe, lembra aquele dia, quando eu era adolescente, que a senhora falou para mim que não era para ser padre naquele momento, porque eu precisava fazer e viver tudo que uma pessoa normal faz e vive aqui no mundo? Eu fiz tudo, eu fiz faculdade, eu trabalhei, eu estou namorando, eu ganhei meu dinheiro, minha independência. Mas o chamado continua dentro do meu coração. Hoje, ele veio de forma mais forte. Eu não consigo mais fingir que não é comigo; então eu preciso, agora corresponder a isso”.
Foi muito bonito, pois a minha mãe escutou também e muito emocionada falou – minha mãe é bem baixinha, eu sou muito alto, tenho 1,88: “Eu sei que Deus não ia me dar um filho desse tamanho para ficar escondido dentro de casa. Então, meu filho, eu também via que você tinha alguma coisa diferente, mas você precisava viver aquilo que é normal, para que você pudesse tomar uma decisão mais acertada lá na frente. Eu não sei quando você vai, como você vai, com quem você vai, como vai ser, mas eu digo que você tem a minha bênção”. Aquelas palavras selaram a minha vocação: “você tem a minha bênção”.
Meu pai serviu ao exército durante muitos anos, mas saiu depois que os filhos nasceram. O desejo do meu pai era que eu seguisse também a carreira militar e fosse para o exército. Ele falava: “Você tem até altura, você é alto! Sei o que o Exército precisa de gente assim” Mas ele me disse: “Eu queria mesmo era que você fosse servir, militar, e se estabilizasse financeiramente, mas eu também vi que você era diferente. Então, meu filho, eu também lhe dou a minha bênção. Eu não sei o que você vai fazer agora, mas você tem a minha bênção”. E a minha irmã fez a mesma coisa. Era adolescente, muito devota de Santa Teresinha também. Então ela ficou em êxtase, muito feliz também com a minha vocação. Essa bênção da minha família foi combustível para mim, para que eu pudesse deslanchar na vocação.
A partir daí, veio o término do namoro, e foi todo um processo para minha namorada poder entender. Foi um processo muito doloroso para ela e para mim também, um processo de cura, de reconciliação, de perdão. A gente foi trilhando esse caminho bonito, e o padre Marivaldo, sempre do meu lado, ajudando-me e aconselhando como um pai mesmo. Ele foi me dizendo para ter calma, que era assim mesmo, um dia de cada vez. Eu devo muito a ele, tanto é que é ele quem vai me vestir na minha ordenação sacerdotal, é ele quem vai colocar a casula sobre mim. É um jeito que eu encontrei de agradecer pelo pai que ele foi, pelo mestre que ele foi ao me conduzir.
Comunicação Santuário do Pai das Misericórdias