MINHA VOCAÇÃO

Por que o sacerdócio?

“Tudo te entreguei, nada me restou, livre eu fiquei para Te amar, meu Deus. Tudo me pediste, nada eu Te neguei, hoje eu sou feliz assim, Tenho a Ti, meu Deus.”

Quem nunca ouviu o refrão desta música do Padre Jonas, não é mesmo!? Ela é a canção da minha vocação. Ela me acompanhou durante todo o meu processo de discernimento vocacional e foi modelo de inspiração para o sim que eu dei ao chamado de Deus, tanto referente à minha vocação ao sacerdócio, quanto à minha pertença à Comunidade Canção Nova.

Seminarista José Márcio durante Santa Missa no Santuário do Pai das Misericórdias | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Desde que eu fiz a minha primeira comunhão, no ano de 1998, nunca mais saí da Igreja. Vivi minha adolescência e minha juventude à sombra da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios em Recife-PE. Lá participei de muitos movimentos e pastorais, recebi o sacramento do Crisma, sempre estive envolvido nos trabalhos da juventude, especialmente a RCC, a Infância e Adolescência Missionária, o MEJ (Movimento Eucarístico Jovem) que ajudei a fundar, a música e a liturgia.

Quando adolescente, muita gente dizia que eu ia ser padre, que eu tinha “cara e jeito de padre”. Eu ouvia tudo aquilo e ficava me perguntando se era isso mesmo que Deus queria. Lá no fundo eu sentia uma vontade, mas não tinha quem me orientasse. Certo dia, comentei com minha mãe sobre isso e ela foi categórica em sua resposta: “Primeiro, você precisa terminar os estudos, fazer faculdade, trabalhar, namorar, ganhar seu dinheiro, viver tudo o que uma pessoa normal vive aqui no mundo. E, se essa vontade continuar depois de tudo isso, daí você vê o que vai fazer”. Eu sempre fui um filho muito atento aos conselhos dos meus pais e sempre vi neles uma preocupação com o meu bem, por isso, ouvi aquela resposta e segui adiante.

Trabalho e paróquia

Terminei o Ensino Médio e ingressei logo em seguida na faculdade de Psicologia. Trabalhei como agente de cobrança numa empresa de telemarketing e consegui estágios durante o curso que me permitiram continuar minha vida na Igreja em meio aos jovens. Lá também namorei, lutando pela santidade e vivendo a castidade. Vivi os dramas de todo jovem cristão que quer agradar a Deus por meio do seu namoro. Ele sempre me deu a sua graça e me conduziu pelos seus caminhos. Formei-me e já comecei a atuar na minha área. Trabalhava no RH de uma empresa de grande porte na região metropolitana do Recife e atendia em um consultório de psicoterapia. Tudo isso, tendo em paralelo a vida na paróquia, trabalhando com os jovens, cantando e animando retiros, acompanhando adolescentes, rezando pelas pessoas, assessorando o padre etc.

Leia também:
:: Quem mais se entregar, mais se molhará
:: Salve Rainha, Mãe de Misericórdia
:: Sou herdeiro e doador de misericórdia

Então, em um desses remanejamentos de padres, que acontece de tempos em tempos nas paróquias, veio à minha um padre chamado Marivaldo. Um homem simples e de coração grande, com uma pregação cheia de amor a Jesus e à sua Igreja, devoto de Santa Teresinha do Menino Jesus e amante da juventude. Sua presença logo me atraiu; e, no convívio com ele, a inquietação que eu vivia na adolescência parecia despertar de um longo sono.

Eu não sabia direito o que estava acontecendo, mas sentia algo diferente nas suas missas, nas conversas com ele, no modo de como ele levou a Igreja para às ruas do meu bairro, animando o povo. Eu não tinha coragem de falar para ele o que eu estava sentindo, até porque não sabia direito o que era, e fui vivendo tudo no silêncio e na oração. Certo dia, ele resolveu fazer uma novena em honra a Santa Teresinha, na capela São Paulo Apóstolo, e pediu que os jovens do MEJ animassem a missa do último dia, isto é, a “missa das rosas”. Preparamos a lista de músicas, ele aprovou todas, e, no dia do encerramento, lá estava eu para cantar, junto com minha namorada e alguns amigos que cantavam comigo no ministério. Antes de começar a missa, o padre me chamou na sacristia e me pediu para cantar sozinho, depois da comunhão, um poema da santa chamado “Viver de Amor”. Não entendi porque tinha de ser sozinho, mas obedeci.

Chamado

Seminarista José Márcio | Foto: Arquivo Pessoal

E foi exatamente no momento daquela canção, naquela ação de graças da missa do dia 01/10/2011, que eu ouvi uma voz que falava no meu interior: “Todo de Deus!” Era a voz d’Ele que me revelava qual era a Sua vontade para a minha vida. Naquele momento, eu dizia para Deus: “Eu vou ser padre, não posso mais resistir!”.

Depois dessa experiência, abri o meu coração para o padre Marivaldo, que me acolheu e disse que já vinha rezando por mim há um tempo, para que Deus me revelasse aquilo que ele, como padre, já via. E foi isso que aconteceu. Contei o fato para meus pais e minha irmã, que me acolheram e também e me apoiaram. Eu relembrei a minha mãe o conselho que ela me deu na adolescência dizendo: “Eu segui tudo o que senhora me disse e a vontade ainda está viva em mim. Não posso mais fingir que não é comigo. Tenho que corresponder!”. Ela me respondeu: “Não sei como será, quando será, para onde você irá, mas eu te dou a minha benção!”. E, assim, também foi com meu pai, minha irmã e toda a minha família.

A partir daí fui sendo acompanhado e discernindo o lugar onde entraria para dar continuidade ao processo vocacional. Foi então que a Canção Nova entrou na minha vida de modo mais intenso. Eu já acompanhava a TV e não perdia uma pregação do padre Jonas, do padre José Augusto e as orações da Luzia Santiago. Amei a Canção Nova desde a minha adolescência, quando conheci mais de perto a RCC. Aproximei-me da Frente de Missão de Gravatá-PE e iniciei o caminho vocacional, que considero ter sido uma ação poderosa da misericórdia de Deus na minha história de vida e de vocação.

Hoje estou caminhando para o meu décimo ano de comunidade e para o meu último ano na formação do seminário. Ano que vem, com a graça de Deus, será minha ordenação diaconal, e, em 2025, minha ordenação sacerdotal. E assim eu sigo, como o Padre Jonas cantava, sendo feliz, pois tenho a Deus a quem tudo entreguei.

Deixe seu comentários

Comentário