“Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu”
Ao escrever sobre esse tema, lembrei-me logo daquela passagem bíblica de Ec 3,1 que diz: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu”. Agora, é o momento de vivermos, liturgicamente, o Tempo Pascal, que consiste no período de sete semanas completas mais um domingo posterior, que vai do Primeiro Domingo de Páscoa até o Dia de Pentecostes, totalizando 50 dias.
Os cristãos sempre deram muita atenção aos 50 dias da Páscoa e acabaram influenciando o Pentecostes Judaico que correspondia, já muito antes de Cristo, à Festa das Semanas prevista em Ex. 34, 22 ou Festa das Colheitas (Ex 23,16), consistindo no ritual agrícola que era feito no dia após sete semanas dos ázimos. A celebração do Pentecostes Judaico dependia da Festa da Páscoa e recebera o nome, no Judaísmo helenístico, de “dia cinquentésimo”, ou seja, Pentecostes.
Bellavista escreveu que “a conclusão que se extrai da análise dos documentos cristãos dos primeiros séculos é precisamente essa. A duração de cinquenta dias da Páscoa, inspirada na tradição veterotestamentária, constitui, porém, a novidade radical da festa cristã. Pentecostes significou, desde muito cedo, um período de cinquenta dias e não uma festa particular” ( 2000, p. 121-122).1
Pela leitura dos Evangelhos de Lc 24, 36-53, Jo 20, 17.22, Mt 28,10.16 e Mc 16, 9-19, estes situam a Ascenção de Jesus na dinâmica da Ressurreição, e em Jo 7, 39 a efusão do Espírito Santo está situada também na dimensão da glorificação de Jesus. Cronologicamente, correspondeu a vários dias, mas entendidos como ocorridos com a Ressurreição. Santo Atanásio, um santo padre da Igreja, via a grande ligação entre Páscoa e Pentecostes, na qual predominavam os componentes cristológicos, e chamava de “Grande Domingo”, a celebração da ressurreição prolongada no tempo.
Santo Hilário de Poitiers dizia que deveria se excluir desse tempo pascal à penitência, posto que é o tempo da alegria. Para esse santo, “o simbolismo do ‘oitavo dia’ (sete mais um), característico do domingo como plenitude segundo os Padres, leva-nos ao número cinquenta (sete vezes sete mais um), implicando na ideia de plenitude evangélica (BELLAVISTA, 2000, p. 135-136). Esse autor afirma que “sete vezes sete dias mais um (cinquenta) constituem o símbolo da plenitude” (p. 128).
Na verdade, durante todo o ano litúrgico, tocamos no mistério de Cristo a partir da sua encarnação, nascimento até a ascensão, Pentecostes, sempre na expectativa, repleta de esperança, da sua vinda gloriosa, e assim temos contato com a riqueza das virtudes e méritos do Senhor, que se torna presente em todos os tempos, dando-nos acesso à plenitude da graça da salvação. Mas especialmente, a Igreja, que tem como missão celebrar a obra salvadora do seu esposo.
“toda semana, no domingo, justamente denominado dia do Senhor, celebra a ressurreição, como o faz uma vez por ano, juntamente com a paixão, na grande solenidade pascal” (Papa Paulo VI, Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia, 1963, n. 102).
Santo Agostinho afirma que “a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo “é a vida nova dos que creem em Jesus, e este é o mistério da sua Paixão e Ressurreição, que muito devíeis conhecer e celebrar” (1979, p. 336).
Então, esse Tempo Pascal comporta os Domingos de Páscoa, incluindo a Festa da Misericórdia, a Ascenção de Jesus e Pentecostes, no qual se celebra toda a salvação de Deus em Jesus Cristo, porque é o mistério pascal que totaliza tal redenção. Vivamos bem e na intensidade do amor de Cristo por nós!
REFERÊNCIAS:
BELLAVISTA, j. In: BOROBIO, D. (org). A celebração na Igreja. Vol. 3. São Paulo: Loyola, 2000.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo, 2002.
PAULO VI. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia. 1963.
SANTO AGOSTINHO. In: GOMES, C. Folch. Antologia dos Santos Padres, 1979.