OU SANTOS OU NADA

A conversão é coisa de um instante. A Santidade é obra de uma vida inteira

A Santidade é obra de toda a vida

Provavelmente você se recorda daquele momento inesquecível em sua vida em que tomou uma decisão por Cristo. Talvez estivesse seguindo seu caminho do seu jeito, caminhando para uma determinada direção, e, ao se encontrar com Jesus e com o que Ele nos pede em seu seguimento, decidiu mudar a sua rota. A isso chamamos de “conversão”.

Contudo, embora dar o primeiro passo para a nova rota seja essencial, é somente pela soma de todos os passos seguintes e perseverantes que um caminhante chegará ao local do seu destino final, certo?

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Um grande amigo do Céu diz que “a conversão é coisa de um instante, a santidade é obra de toda a vida”, e meditar nisso nos leva a enxergar que, de fato, não basta uma decisão isolada e o entusiasmo inicial por Cristo, é preciso progredir continuamente, pois, “na vida dos cristãos, a primeira conversão […] é importante; mas ainda mais importantes e mais difíceis são as conversões sucessivas” (São Josemaría Escrivá).

Mas, afinal, o que é a santidade?

Tudo que existe tem uma finalidade. Pense, por exemplo, em uma xícara de café. Quem a criou projetou qual seria seu material, estruturou seu formato, pensando justamente na finalidade que esse objeto teria: o de portar o líquido e permitir que alguém o bebesse. Assim também, Deus nos criou para um fim específico.

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Desde o Antigo Testamento, o Senhor nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo” (Lv 19,2), depois, no Evangelho, Jesus reafirma esse chamado: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é Perfeito” (Mt 5,4-8). E aí está a finalidade humana: ser como o nosso Deus, refletir Sua Santidade, ser perfeitos à imagem e semelhança Dele, deixando-nos transformar no próprio Cristo.

A palavra “Perfeito” vem do Latim “perfectus”, que significa “completo”, e é do verbo “perficere”, resultado da junção de per- (“sem faltar nada”) com -facere (“fazer”). Ou seja, quando “não falta nada a fazer” numa obra, dizemos que ela está “perfeita”. Se fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e Ele é Perfeito, atingimos, então, nossa plenitude quando chegamos a essa Perfeição – nos tornando verdadeiramente semelhantes a Cristo, até que “não falte nada a fazer” nessa obra que somos nós. Isso é a santidade.

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Para ilustrar melhor, imagine um artista que, diante de um bloco de pedra bruta, já vislumbra a imagem que quer transformar em uma bela escultura. A pedra, no entanto, precisa ser esculpida, lapidada, trabalhada com paciência e precisão. Quando enfim adquire a forma idealizada, a obra está completa, está “perfeita”, não há mais nada que falte fazer, e sua finalidade é alcançada.

Assim também é o nosso caminho de Perfeição: somos como esse bloco sem forma, que ao longo de toda a vida, vai sendo lapidado e moldado para nos transformarmos na Imagem Perfeita de Cristo. Esse é o nosso processo de santificação, e é, de fato, a obra de toda a nossa vida.

Se a santidade é a finalidade do ser humano, então todos, todos nós, sem exceção, somos chamados a vivê-la. Mas como, concretamente, trilhar esse caminho?

Há dois elementos essenciais nesse processo: por um lado, a nossa participação ativa e nosso esforço, por outro (e mais importante), o agir da Graça santificante de Deus em nós. Podemos comparar a Graça divina à chuva que cai sobre uma plantação. Para que ela produza frutos, primeiro, o terreno precisa ser ativamente preparado – arado, limpo, semeado e adubado, e quando a chuva cai (agora sem esforço ativo humano), a semente pode vir a germinar, brotar, e os frutos bons e maduros frutificarem.

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São Josemaría nos ensina que “a santidade ‘grande’ está em cumprir os ‘deveres pequenos’ de cada instante”. Pequenos deveres? Sim, os pequenos deveres, tudo aquilo que já somos chamados a viver na nossa realidade cotidiana: na família, no trabalho, em casa, no lazer, em toda e qualquer circunstância. Tudo pode ser ocasião de santificação quando o fazemos com amor por Deus, com Deus e para Deus… O Amor é capaz de elevar a atividade mais simples do nosso dia a dia no ato mais nobre e santo.

São Josemaría resume isso com clareza: “Queres de verdade ser santo? – Cumpre o pequeno dever de cada momento; faz o que deves e está no que fazes.” Aí está o segredo da santidade, através do amor nas pequenas coisas o nosso terreno vai sendo bem preparado para a Graça que nos santifica e nos lapida, nos esculpe e aperfeiçoa.

Ele mesmo ilustra a santidade com a construção de um grande edifício: “Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente? – Um tijolo, e outro. Milhares. Mas, um a um. – E sacos de cimento, um a um. E blocos de pedra. – E pedaços de ferro. – E operários trabalhando, dia após dia, as mesmas horas… Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente?… À força de pequenas coisas!”

É, então, pela soma desses “muitos poucos” que vamos nos configurando e nos transformando em Cristo. Pela Presença de Deus em nossa alma alimentada através da Oração, do diálogo de amizade com Ele, da vida sacramental, da busca ativa de nossa parte, Ele nos dá Sua Graça como aquela chuva, que faz com que todo nosso empenho em amar se transforme em verdadeiros e bons frutos de santidade.

A Graça santificante é que tira os vícios e coloca em nós as virtudes, transforma nossa covardia em coragem, solidifica todas as nossas decisões diárias, transforma em oração tudo o que fazemos, dilata nosso coração vacilante e nos torna capazes de amar. É por isso que Santo Inácio de Loyola diz “aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus”.

Portanto, ser santo está ao alcance de todos nós. Não desanimemos com nossas dificuldades e se a caminhada parecer longa — Deus já conhece a imagem final que deseja revelar em nós, basta sermos perseverantes nessa luta dia após dia, e que permitamos que Ele nos transforme com Sua Graça. A santidade é obra de toda a vida. Comece hoje, recomece sempre.