Dives in Misericordia
O Papa João Paulo II escreveu, no dia 30 de novembro em 1980 , a Carta Encíclica DIVES IN MISERICORDIA, que significa ‘Rico em misericórdia’.
O Site do Santuário do Pai das Misericórdias disponibiliza este documento do Papa que fala sobre a misericórdia divina. Para ler, clique aqui.
Amor e misericórdia
“Na parábola do filho pródigo não é usado, nem uma vez sequer, o termo «justiça», assim como também não é usado no texto original, o termo «misericórdia». Contudo, a relação da justiça com o amor que se manifesta como misericórdia aparece profundamente vincada no conteúdo desta parábola evangélica. Torna-se claro que o amor se transforma em misericórdia quando é preciso ir além da norma exata da justiça: norma precisa mas, por vezes, demasiado rigorosa. ”
A figura do pai, revela-nos Deus como Pai
“O filho pródigo, depois de ter gasto os bens recebidos do pai, ao regressar merece apenas ganhar para viver, trabalhando na casa paterna como empregado e, eventualmente, ir amealhando, pouco a pouco, certa quantidade de bens materiais, mas sem dúvida nunca em quantidade igual aos que tinha esbanjado. Tal seria a exigência da ordem da justiça, até porque aquele filho, com o seu comportamento, não tinha somente dissipado a parte de herança que lhe competia, mas tinha também magoado profundamente e ofendido o pai. Na verdade o seu comportamento, que a seu juízo o tinha privado da dignidade de filho não podia deixar indiferente o pai; devia fazê-lo sofrer e fazer com que se sentisse, de algum modo, envolvido nesse procedimento. Tratava-se com efeito do seu próprio filho, e esta relação não podia ser alienada nem destruída, fosse qual fosse o seu comportamento. O filho pródigo tem consciência disso, e é precisamente essa consciência que lhe mostra claramente a dignidade perdida e o leva a avaliar corretamente o lugar que ainda lhe poderia tocar na casa do pai. A imagem que acabei de descrever do estado de espírito do filho pródigo permite-nos compreender com exatidão em que consiste a misericórdia divina. Não há dúvida de que naquela simples mas penetrante comparação, a figura do pai revela-nos Deus como Pai. […]
Pode-se dizer, portanto, que o amor para com o filho, o amor que brota da própria essência da paternidade, como que obriga o pai, se assim nos podemos exprimir, a desvelar-se pela dignidade do filho. Esta solicitude constitui a medida do seu amor; amor, do qual escreverá S. Paulo: «A caridade é paciente, é benigna…, não busca o próprio interesse, não se irrita, não guarda ressentimento pelo mal sofrido… rejubila com a verdade …, tudo espera, tudo suporta» e «não acaba nunca».”
O regresso do filho à verdade sobre si próprio
“A misericórdia apresentada por Cristo na parábola do filho pródigo tem a característica interior do amor, que no Novo Testamento é chamado «agape». Este amor é capaz de debruçar-se sobre todos os filhos pródigos, sobre qualquer miséria humana e, especialmente, sobre toda miséria moral, sobre o pecado. Quando isto acontece, aquele que é objecto da misericórdia não se sente humilhado, mas como que reencontrado e «revalorizado». O pai manifesta-lhe alegria, antes de mais por ele ter sido «reencontrado» e ,por ter «voltado à vida». Esta alegria indica um bem que não foi destruído: o filho, embora pródigo, não deixa de ser realmente filho de seu pai. Indica ainda um bem reencontrado: no caso do filho pródigo, o regresso à verdade sobre si próprio.”
Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, ouvi-nos!