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À espera da primavera
O tema da primavera, nas Sagradas Escrituras, transmite-nos a ideia de esperança (cf. Tg 5,7) e novo vigor (cf. Dt 11,14) para as lutas cotidianas (cf. 2 Sm 11,1) e para a vida. Recordar a primavera, em analogia às surpresas de Deus em nossa vida, é colocar-se nas mesmas perspectivas das Sagradas Escrituras. A primavera era um tempo muito esperado pelo homem bíblico (cf. Joel 2, 23; Jr 5,24); assim, também deve ser por nós. Ela sempre nos reserva surpresas.
Apliquemo-nos a conhecer o Senhor. Sua vinda é certa como a da aurora. Ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra. (Oseias 6,3).
Papa São João Paulo II, ao dirigir-se aos membros dos Movimentos eclesiais e das Novas Comunidades, numa homilia proferida no Domingo de Pentecostes, de 1998, disse que essas são “expressões providenciais da nova primavera suscitada pelo Espírito com o Concílio Vaticano II”. Essa realidade nos ajuda a pensar o tema da Primavera, como a estação propícia para as surpresas, e poderíamos até mesmo dizer: “Propícia para a experiência providencial das surpresas de Deus”.
Para pensarmos as surpresas de Deus como a experiência das providências d’Ele em nossa vida, convém-nos pensar o que é providência.
O que é a Divina Providência?
O Catecismo da Igreja Católica chama de Divina Providência as disposições pelas quais Deus conduz a sua criação em ordem a uma perfeição (cf. n. 302). Pois, segundo o mesmo: “a criação tem a sua bondade e a sua perfeição próprias, mas não saiu totalmente acabada das mãos do Criador. Foi criada ‘em estado de caminho’ («in statu viae») para uma perfeição última ainda a atingir e a que Deus a destinou. Diz ainda que “Deus conserva e governa com a providência tudo o que criou” (n. 302).
Sabemos que cada estação tem suas particularidades, boas e ruins. Mas a Primavera… Ah, a Primavera! A Primavera com suas flores preparam o surgimento dos frutos, sua beleza nos surpreende e nos impulsiona para o desejo de vida nova, para o desejo de sermos novas criaturas.
Abramo-nos para as belas experiências e surpresas que a Providência de Deus tem reservada para nós. Abramo-nos como as flores, que, na primavera, desabrocham com toda potencialidade, com todas as possibilidades de deixar surgir tudo o que possuem de melhor e mais belo. Permitamos que o Espírito suscite tais realidades em nós.
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.:Nesta primavera, abra-se ao amor e seu jardim florirá
O Espírito Santo e a experiência das surpresas de Deus
Todas as realidades providenciais são suscitadas pelo Espírito. Na oração do Veni Creator Spiritus, recordamos a presença do Espírito equilibrando e conduzindo a criação para o seu fim último, o Próprio Deus. Mas também parece ao seu equilíbrio próprio neste mundo.
Nenhuma surpresa, nenhuma novidade, nenhuma mudança acontecerá, em nossa vida, se não nos colocarmos sob a tutela do Espírito Santo. Ele é o Santificador, nosso Divino Amigo, Hóspede da Alma. Ele suscita as surpresas. Mas nosso relacionamento com Ele jamais deve se limitar a esperar essas surpresas.
O Espírito Santo, a Terceira pessoa da Santíssima Trindade, é dom que nos move e trava relacionamento conosco, inspira-nos, não nos deixa parados. No inverno. Ele está conosco, mas, abrasados pelo fogo de Sua presença, somos provocados a encontrar em nós mesmos o nosso melhor, para assim vivermos a passagem do inverno para a primavera também em nossa vida.
Papa Francisco mencionou a realidade das surpresas de Deus concedidas pelo Espírito numa homilia proferida na Casa Santa Marta no dia 8 de maio de 2017. Afirmou que “o Espírito é o dom de Deus, desse Deus, nosso Pai, que sempre nos surpreende. O Deus das surpresas. Por quê? Porque é um Deus vivo, um Deus que habita em nós, que move nosso coração, um Deus que está na Igreja, que caminha conosco e, neste caminhar, nos surpreende sempre. Assim como Ele teve a criatividade de criar o mundo, o Deus que nos surpreende tem a criatividade de criar coisas novas todos os dias”. Mas como podemos vivenciar as surpresas de Deus em nossa vida?
Alguns passos para a vivência da experiência das surpresas de Deus
O primeiro passo é ter a disposição interior para maravilhar-se com as pequenas coisas. Este maravilhar-se deve levar-nos a viver bem o momento com toda disponibilidade e abertura de coração.
Um segundo passo é o de não ter medo de ser surpreendido. Por que temos medo das surpresas? As surpresas dele só podem ser as melhores coisas que podem nos acontecer, não pode ser diferente.
Um terceiro passo é ter a consciência de que as surpresas são pontuais, assim como a Primavera. As flores apontam para os frutos, para isso elas precisam aprender que não estarão ali para sempre, mas precisaram cumprir bem a própria missão naquele tempo determinado.
Um quarto passo é ter a consciência de que a primavera também comporta suas dores e perdas. As flores não duram para sempre, sua beleza lhes prepara para algo maior: os frutos. Também a experiência das surpresas de Deus em nossa vida não pode nos fazer parar na primavera e nas coisas belas deste mundo apenas. Temos em vista uma realidade maior, que abarca todas essas realidades: o céu.
O céu é a plenitude de tudo o que vivemos bem neste mundo. É todo verão, outono, inverno e primavera. Toda primavera vivida na interioridade de quem se deixa consolar pela presença de Deus, pela presença do seu amor. No céu, tudo será amor. No céu, tudo será uma permanente surpresa de Deus. Deixemos que Ele nos surpreenda.
Deus abençoe você!
Padre Edison de Oliveira
Comunidade Canção Nova
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