O apelo à esperança é um convite a voltarmos para Jesus
Na dinâmica temática de reflexão sobre a espiritualidade de Fátima iniciada no mês de fevereiro deste ano, com base nos escritos da Ir. Lúcia, que é atualmente serva de Deus em processo de beatificação, daremos continuação a sequência por ela apresentada no seu livro Apelos da Mensagem de Fátima.
Tendo em conta as reflexões anteriores sobre o apelo à fé e à adoração, apresentamos o apelo à esperança, tendo como ponto de partida a oração que o Anjo ensinou na primeira aparição: “Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam” (IRMÃ LÚCIA, 2015, p.169). Essa oração se refere a um vínculo que une o homem ao seu Criador, de quem depende d’Ele para tudo “porque nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28).
O Senhor Jesus é a nossa esperança
Verifica-se que a Sagrada Escritura é a fonte teológica em que a Ir. Lúcia mais se baseia para exprimir toda a profundidade da mensagem do Anjo. Assim sendo, começa a desenvolver as suas considerações sobre o apelo à esperança nestes termos:
“Como Moisés no deserto levantou a serpente, assim será levantado este Homem, para que quem crer nele tenha a vida eterna. Deus tanto amou o mundo, que entregou seu Filho único, para que, quem crer não pereça, mas tenha vida eterna. Deus não enviou seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo se salve por meio d’ele. Aquele que crer nele não será julgado; o que não crer já está julgado por não crer no Filho único de Deus. O julgamento trata disto: a luz veio ao mundo e os homens preferiram as trevas à luz. É que suas obras eram más” (Jo 3,14-19).
Entretanto, pode-se verificar que o apelo à esperança é um convite a voltar-se para Jesus que, a partir de Sua Paixão, morte e ressurreição, alcançou para o gênero humano a salvação eterna. Anunciado implicitamente por Moisés no deserto e esperado pelos profetas, continua sendo esperado depois de Sua ressurreição por sua Igreja peregrina que clama a todo instante: “Vinde Senhor Jesus” (Ap 22, 20). Ele é a nossa esperança, o caminho que conduz à Jerusalém Celeste e, somente n’Ele, não desesperamos diante das obras das trevas que grassam neste mundo.
Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração
Nesta perícope, pode-se verificar que as palavras do Evangelho exortam o homem a abandonar tudo que o separa de Deus, ou seja, a pautar a sua existência de acordo com o Seu ensinamento que é fonte de vida eterna (cf. Jo 6,69). A mensagem do Anjo de Portugal é justamente uma chamada de atenção para que, o homem iludido e machucado pelo pecado se deixe encontrar por Deus e O ame acima de tudo porque “bem-aventurados são aqueles que ouvem Sua Palavra e a colocam em prática” (Lc 11,28).
O Papa Bento XVI, em sua Carta Encíclica Spe Salvi, apresenta uma doutrina profundamente sólida a respeito da esperança cristã, convidando a todos os cristãos e homens de boa vontade para uma compreensão mais profunda desta virtude teologal que possui como componente essencial a oração.
“Primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais a ninguém, com Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me”. (2007, n. 32)
O homem foi criado para ser preenchido somente por Deus
Assim, pode-se observar que a oração nos mostra como o homem foi criado para ser preenchido somente por Deus. Devemos aprender que não podemos rezar contra o outro, nem pedir coisas superficiais e cômodas, esperando ser atendidos. Precisamos purificar as nossas esperanças e desejos, tendo em conta que Deus nos perscruta e nos faz reconhecê-los.
É o encontro com Deus que desperta a consciência e liberta o homem da autojustificação, tornando-o capaz de escutar o sumo Bem. “Se porém seguimos as nossas más inclinações […] essas coisas cegam-nos e ensurdecem-nos de tal modo que não vemos, nem ouvimos, nem compreendemos as palavras de Jesus Cristo e, assim, desfalece em nós a confiança” (IRMÃ LÚCIA, 2007, p. 77).
É na esperança que fomos salvos
Portanto, para que a oração seja purificadora deve ser pessoal, mas também guiada pelas orações da Igreja, na qual o Senhor Jesus nos ensina a rezar de maneira justa. Desse modo, nos tornamos capazes da esperança e discípulos da esperança para os outros. É essa esperança ativa que nos faz lutar para que o mal não tenha a última palavra nas diversas circunstâncias das nossas vidas. Por ela guiados cumprem-se, em nós, as palavras do Apóstolo São Paulo: “É na esperança que fomos salvos” (Rm 8,24).
A citada sessão temática será abordada na Devoção Reparadora dos Cinco Primeiros Sábados, no dia 06 de abril, com início às 10h, no Santuário do Pai das Misericórdias. Que pela intercessão do Anjo de Portugal possamos esperar em Jesus Cristo, porque Ele renova todas as coisas!
Áurea Maria
Comunidade Canção Nova
REFERÊNCIAS:
BENTO XVI. Carta encíclica Ecclesia Spe Salvi. São Paulo: Loyola, 2007.
IRMÃ LÚCIA. Apelos da Mensagem de Fátima. 4. ed. Fátima – Portugal: Secretariado dos Pastorinhos, 2007.
IRMÃ LÚCIA. Memórias da Irmã Lúcia. 17. ed. Fátima – Portugal: Fundação Francisco e Jacinta Marto, 2015.
SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. Tradução de Ivo Storniolo, José Bortolini e José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 2002.